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Aqui estão todas as ideologias e Historia.

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Independência é a desassociação de um ser em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. É o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia.

Antónimo de dependência (neste verbete, ver a Teoria da Dependência).

Em Política, o conceito de independência de um país ou território é a conquista e manutenção da sua soberania política e econômica, que pode ser absoluta ou relativa.

A independência absoluta diz respeito aos estados que possuem integral governo de seus atos, no plano interno, regido ou não pelo Estado de Direito. Diz-se relativa a Independência quando o ente goza de determinadas competências que lhe são exclusivas, e que devem ser respeitadas pelo ente hierarquicamente superior (por exemplo: o estado ou província, em relação aos municípios), ou em casos excepcionais, os Estados sob intervenção internacional (exemplo: o Haiti sob intervenção da ONU).

 

Interdependência - Também há de se falar, na acepção política, da "independência" dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Como neste caso a autonomia administrativa dos entes importa num relacionamento institucional harmônico, fala-se em "Interdependência".

Se rápida foi a conquista romana da Península ibérica, a reconquista pelos Visigodos foi francamente mais lenta. Este processo gradual originou o nascimento de pequenos reinos que iam sendo alargados à medida que a Reconquista era bem sucedida. Primeiro, o Reino das Astúrias, que viria a dividir-se entre os filhos de Afonso III das Astúrias quando morreu. Assim nasciam os reinos de Leão e Castela e, mais tarde, de Navarra e Aragão e da Galiza, sendo que este compreendia já as terras de Portucale, que correspondia mais ou menos os territórios que hoje fazem parte de Portugal, até à cidade de Coimbra.

Afonso VI de Leão e Castela, (autodenominado Imperador de toda a Espanha), entregou por mérito a um cruzado o governo do Reino da Galiza ao Conde Raimundo, juntamente com a sua filha Urraca para que estes formassem uma aliança. A partir daí, as chamadas terras de Portucale passam a ser um Condado (Condado Portucalense) dependente do Reino da Galiza, que por sua vez prestava vassalagem a Afonso VI de Leão e Castela, Imperador de toda a Hispânia Cristã.

Alguns anos mais tarde, em 1096, descontente com as políticas bélicas de Raimundo, Afonso VI entrega o governo do Condado Portucalense ao primo de Raimundo, Rei do Reino da Galiza, o Conde D. Henrique de Borgonha, juntamente com a sua outra filha, D. Teresa, passando assim a ser Conde de Portucale. Na prática, o Condado Portucalense deixava de ser dependente do Reino de Galiza, para prestar vassalagem directamente ao Reino de Leão, o que provocou um grande descontentamento entre a nobreza galega.

Deste condado, nasceria o reino de Portugal. D. Henrique governou no sentido de conseguir uma completa autonomia para o seu condado e deixou uma terra portucalense muito mais livre do que aquela que recebera. Aquando a morte de D. Henrique (1112), sucede-lhe a viúva deste, D. Teresa, no governo do condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques. Inicialmente, o pensamento de D. Teresa foi idêntico ao do seu marido: fortalecer a vida portucalense, conseguir a independência para o condado. D. Teresa começou (1121) a intitular-se «Rainha», mas os muitos conflitos diplomáticos e a influência que concedeu a alguns nobres galegos (principalmente a Fernão Peres) na gerência dos negócios públicos prejudicou o seu esforço de tal maneira a que D. Teresa foi obrigada a abdicar das suas pretensões, e mudar de política. Por esta altura, D. Teresa planeava uma união com a poderosa família galega dos Trava, unindo assim novamente o Condado Portucalense ao Reino de Galiza, inviabilizando toda e qualquer aspiração portuguesa à independência.

Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques, com o apoio da nobreza portuguesa, arma-se a si próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim guerreiro independente. A posição de favoritismo em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses por parte de sua mãe, D. Teresa, originou a revolta destes, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques.

A luta entre D. Afonso Henriques e sua mãe desenrola-se, até que a 24 de Junho de 1128 se trava a Batalha de São Mamede (Guimarães) e D. Teresa é expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. Uma vez vencida, D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente, dado que ele era neto de Afonso VI, Imperador de toda a Hispânia, passando a assinar todos os documentos oficiais não como Conde, mas sim como Rei.

Continuou, no entanto, a lutar contra as forças de Afonso VII de Leão e Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas, pois à semelhança de sei pai, Afonso VI, ele também se intitulava como Imperador), enquanto paralelamente travava lutas contra os muçulmanos. Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como Rei de Portugal, e com o apoio dos chefes portugueses, é aclamado como Rei soberano.

Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o Rei Afonso I de Portugal (D. Afonso Henriques). Só a 5 de Outubro de 1143 é reconhecida independência de Portugal pelo rei Afonso VII de Castela, no Tratado de Zamora, assinando-se a paz definitiva. Desde então, D. Afonso Henriques (Afonso I) procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos Conventos. Dirigiu-se ao Papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, tendo reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Em 1179 o Papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, reconhece a existência de Portugal como país independente e vassalo da Igreja Católica Apostólica Romana.

Na continuação das conquistas procurou também terreno ao sul, povoado, até então, por Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa em 1142, feito que só conseguiu realizar em 24 de Outubro do mesmo ano, após conquistar Santarém no dia 15 de Março com o auxílio de uma poderosa esquadra com 160 navios, e um contingente de 12 a 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.

Independência do Brasil

Ver artigo principal: Independência do Brasil

Ver artigo derivado: Independência da Bahia

Segundo relatos de um padre que integrava a Comitiva do então Príncipe Regente D. Pedro, publicado tempos depois que a data de 7 de setembro de 1822 sagrou-se como marco da Independência brasileira, a história ocorrera deste modo:

[editar] O 7 de Setembro, segundo o Padre Belchior

Em 7 de Setembro de 1822, o príncipe regente dom Pedro, irritado com as exigências da corte que retornara para Portugal, declarou oficialmente a separação política da colônia que governava em relação à sua metrópole. Estava proclamada a independência do Brasil.

D. Pedro mandou que o vigário da cidade de Pitangui, Padre Belchior, único mineiro na comitiva, abrisse e lesse em voz alta toda a correspondência às margens do Ipiranga, em 07/09/1822. Revoltado, o príncipe arrancou das mãos do padre a carta, amarrotando-a e jogando-a no chão. Inteirado da gravidade do momento, o príncipe disse:

_E agora, Padre Belchior?

_Se Vossa Alteza não se fizer Rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência e a separação – respondeu prontamente o vigário.

D. Pedro caminhou alguns passos, acompanhado pelo vigário pitanguiense, por Bregaro, Cordeiro, Carlota e outros que ali estavam em direção aos animais e, finalmente, disse ao vigário:

_Padre Belchior, eles querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me, com desprezo, de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora o quanto vale o rapazinho. De hoje em diante, estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do Governo Português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal! - E emendou: – Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será o dístico Independência ou Morte!

Um mês depois, em 12 de Outubro de 1822, dom Pedro foi aclamado imperador do Brasil e, em 1º de Dezembro, coroado pelo bispo do Rio de Janeiro, recebendo o título de D. Pedro I.

Fonte: "A Face Oculta da História", de Jorge Lasmar

 

A conquista da independência

A conquista da independência do Brasil é, na verdade, um processo bem amplo, que começa realmente com o enfraquecimento do sistema colonial (vide: Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana), cresceu com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil (1808) e só termina em 1824, com a adoção da primeira Constituição brasileira, após muitas batalhas em que morreram brasileiros e portugueses, na Bahia, Piauí e Pará.

Movimentos contemporâneos por independência

Vários movimentos políticos e sociais reivindicam a autonomia de territórios ou nações, atualmente sob domínio de outros. Alguns optam pela via pacífica e diplomática para fazer valer suas exigências. Outros, no entanto, apelam para luta armada e até terrorismo.

Nesta situação encontram-se nações como a Irlanda do Norte em relação ao Reino Unido; o País Basco, em relação à Espanha e França; o Tibete, face à República Popular da China; algumas repúblicas oriundas da União Soviética; a Armênia diante da Turquia, Iraque e Rússia, dentre outros.

Maior conflito europeu depois da Segunda Guerra Mundial, a Independência dos ex-repúblicas da Iugoslávia (Kosovo, República da Macedónia, Montenegro, Sérvia e Bósnia e Herzegovina) revelou o potencial explosivo ainda latente em várias partes do globo.

 

Democracia

Democracia ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico.

As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um número de distinções. A distinção mais importante acontece entre democracia direta (algumas vezes chamada "democracia pura"), onde o povo expressa a sua vontade por voto direto em cada assunto particular, e a democracia representativa (algumas vezes chamada "democracia indireta"), onde o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.

Outros itens importantes na democracia incluem exatamente quem é "o Povo", isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a "tirania da maioria" e qual sistema deve ser usado para a eleição de representantes ou outros executivos.

A história da democracia se refere a um conjunto de processos históricos cuja origem é tradicionalmente localizada na Atenas clássica e por meio dos quais foram forjados discursos e práticas políticas de cunho democrático. Democracia, por sua vez, é um conceito de difícil definição, fundamentado na noção de uma comunidade política na qual todas as pessoas possuem o direito de participar dos processos políticos e de debater ou decidir políticas igualmente e, na acepção moderna, na qual certos direitos são universalizados a partir dos princípios de liberdade de expressão e dignidade humana. O conceito de democracia, embora estreitamente vinculado à ideia de lei e ao constitucionalismo, não se resume à igualdade jurídica, e também depende do acesso democrático (isto é, igual para todos) a espaços e benefícios sociais diversos, sobretudo do ponto de vista das esquerdas.

O termo democracia é de origem grega (δημοκρατία, dēmokratía) e quer dizer "poder do povo". Na Grécia antiga, o termo foi muitas vezes empregado de forma depreciativa, uma vez que a maior parte dos intelectuais gregos, entre eles Platão e Aristóteles, era contrária a um governo de iniciativa popular.

Formas de Democracia

Democracia direta refere-se ao sistema onde os cidadãos decidem diretamente cada assunto por votação.

A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, e necessariamente se aproxima mais da democracia representativa, quando o número de cidadãos cresce. Historicamente, as democracias mais diretas incluem o encontro municipal de Nova Inglaterra (dentro dos Estados Unidos), e o antigo sistema político de Atenas. Nenhum destes se enquadraria bem para uma grande população (embora a população de Atenas fosse grande, a maioria da população não era composta de pessoas consideradas como cidadãs, que, portanto, não tinha direitos políticos; não os tinham mulheres, escravos e crianças).

É questionável se já houve algum dia uma democracia puramente direta de qualquer tamanho considerável. Na prática, sociedades de qualquer complexidade sempre precisam de uma especialização de tarefas, inclusive das administrativas; e portanto uma democracia direta precisa de oficiais eleitos. (Embora alguém possa tentar manter todas as decisões importantes feitas por voto direto, com os oficiais meramente implementando essas decisões). Exemplos de democracia direta que costumavam eleger Delegados com mandato imperativo, revogável e temporário podem ser encontrados em sedições e revoluções de cunho anarquista como a Revolução Espanhola, a Revolução Ucraniana e no levante armado da EZLN, no estado de Chiapas.

Contemporaneamente o regime que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a democracia semidireta da Suíça. Uma democracia semidireta é um regime de democracia em que existe a combinação de representação política com formas de Democracia direta (Benevides, 1991, p. 129).

A Democracia semidireta, conforme Bobbio (1987, p. 459), é uma forma de democracia que possibilita um sistema mais bem-sucedido de democracia frente as democracias Representativa e Direta, ao permitir um equilíbrio operacional entre a representação política e a soberania popular direta. A prática desta ação equilibrante da democracia semidireta, segundo Bonavides (2003, p. 275), limita a “alienação política da vontade popular”, onde “a soberania está com o povo, e o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública”.

O sistema de eleições que foi usado em alguns países capitalistas de Estado, chamado centralismo democrático, pode ser considerado como uma forma extrema de democracia representativa, onde o povo elegia representantes locais, que por sua vez elegeram representantes regionais, que por sua vez elegiam a assembleia nacional, que finalmente elegia os que iam governar o país. No entanto, alguns consideram que esses sistemas não são democráticos na verdade, mesmo que as pessoas possam votar, já que a grande distância entre o indivíduo eleitor e o governo permite que se tornasse fácil manipular o processo. Outros contrapõem, dizendo que a grande distância entre eleitor e governo é uma característica comum em sistemas eleitorais desenhados para nações gigantescas (os Estados Unidos e algumas potências europeias, só para dar alguns exemplos considerados inequivocamente democráticos, têm problemas sérios na democraticidade das suas instituições de topo), e que o grande problema do sistema soviético e de outros países comunistas, aquilo que o tornava verdadeiramente não-democrático, era que, em vez de serem escolhidos pelo povo, os candidatos eram impostos pelo partido dirigente.

O voto, também chamado de sufrágio censitário, é típico do Estado liberal (século XIX) e exigia que os seus titulares atendessem certas exigências tais como pagamento de imposto direto; proprietário de propriedade fundiária e usufruir de certa renda.

No passado muitos grupos foram excluídos do direito de voto, em vários níveis. Algumas vezes essa exclusão é uma política bastante aberta, claramente descrita nas leis eleitorais; outras vezes não é claramente descrita, mas é implementada na prática por meios que parecem ter pouco a ver com a exclusão que está sendo realmente feita (p.ex., impostos de voto e requerimentos de alfabetização que mantinham afro-americanos longe das urnas antes da era dos direitos civis). E algumas vezes a um grupo era permitido o voto, mas o sistema eleitoral ou instituições do governo eram propositadamente planejadas para lhes dar menos influência que outro grupos favorecidos.

Obrigatoriedade do voto

 

Uma urna eletrônica brasileira.

A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando o legislador ateniense Sólon fez aprovar uma lei específica obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos. A medida foi parte de uma reforma política que visava conter a radicalização das disputas entre facções que dividiam a pólis. Além de abolir a escravidão por dívidas e redistribuir a população de acordo com a renda, criou também uma lei que impedia os cidadãos de se absterem nas votações da assembleia, sob risco de perderem seus direitos.

Exclusão Étnica

Muitas sociedades no passado negaram a pessoas o direito de votar baseadas no grupo étnico. Exemplo disso é a exclusão de pessoas com ascendência Africana das urnas, na era anterior à dos direitos civis, e na época do apartheid na África do Sul.

A maioria das sociedades hoje não mantém essa exclusão, mas algumas ainda o fazem. Por exemplo, Fiji reserva um certo número de cadeiras no Parlamento para cada um dos principais grupos étnicos; essas exclusões foram adoptadas para discriminar entre índios em favor dos grupos étnicos fijian

Exclusão de classes

O estudo mostra que a liberdade econômica, não a democracia, conduz a liberdade política.

Até o século XIX, muitas democracias ocidentais tinham propriedades de qualificação nas suas leis eleitorais, o que significava que apenas pessoas com um certo grau de riqueza podiam votar. Hoje essas leis foram amplamente abolidas.

Exclusões de gênero

Outra exclusão que durou muito tempo foi a baseada no sexo. Todas as democracias proibiam as mulheres de votar até 1893, quando a Nova Zelândia se tornou o primeiro país do mundo a dar às mulheres o direito de voto nos mesmos termos dos homens. Isso aconteceu devido ao sucesso do movimento feminino pelo direito de voto. Hoje praticamente todos os estados permitem que mulheres votem; as únicas excepções são sete estados muçulmanos, principalmente no Oriente Médio: Arábia Saudita, Barein, Brunei, Kuwait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos.

 

O nazismo

O nazismo, conhecido oficialmente na Alemanha como nacional-socialismo (em alemão: Nationalsozialismus), é a ideologia praticada pelo Partido Nazista da Alemanha, formulada por Adolf Hitler, e adotada pelo governo da Alemanha de 1933 a 1945, e esse período ficou conhecido como Alemanha Nazista ou Terceiro Reich.

No Brasil, como em vários outros países, a apologia ao nazismo é capitulada em lei como crime inafiançável.

O nazismo é frequentemente considerado por estudiosos como uma derivação do Fascismo. Mesmo incorporando elementos tanto da direita política quanto da esquerda política, o nazismo é considerado de extrema direita. Os nazistas foram um dos vários grupos históricos que utilizaram o termo nacional-socialismo para descrever a si mesmos, e na década de 1920, tornaram-se o maior grupo da Alemanha. O Partido Nazista apresentou seus ideais no programa de 25 pontos do Nacional Socialista em 1920. Entre os elementos-chave do nazismo, há o anti-parlamentarismo, o pangermanismo, o racismo, o coletivismo, a eugenia, o antissemitismo, o anticomunismo, o totalitarismo e a oposição ao liberalismo econômico e político.

Na década de 1930, o nazismo não era um movimento monolítico, mas sim uma combinação de várias ideologias e filosofias centradas principalmente no nacionalismo, no anticomunismo e no tradicionalismo. Alguns grupos, como strasserismo, faziam inicialmente parte do movimento nazista. Uma de suas motivações foi a insatisfação com o Tratado de Versalhes, que era entendido como uma conspiração judaica-comunista para humilhar a Alemanha no final da Primeira Guerra Mundial. Os males da Alemanha pós-guerra foram críticos para a formação da ideologia e suas críticas à República de Weimar pós-guerra. O Partido Nazista chegou ao poder na Alemanha em 1933.

Em resposta à instabilidade criada pela Grande Depressão, os nazistas procuraram um terceiro jeito de gerenciar a economia do seu país, sem que tenha ideais comunistas ou capitalistas. O governo nazista efetivamente acabou em 7 de maio de 1945, no Dia V-E, quando os nazistas incondicionalmente renderam-se às potências Aliadas, que tomaram a administração da Alemanha até que o país formasse o seu próprio governo democrático.

Etimologia

O nome do Partido Nazista era "National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei" (N.S.D.A.P.) ou em português, Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. O nome socialista era utilizado, entretanto, sob o nosso atual entendimento de socialismo, o nazismo é radicalmente antissocialista ou anticomunista. O termo "National Sozialistische", que em alemão dá origem a "Nazismo" era utilizado como forma de se contrapor ao termo comunismo, ou internacional Socialista no sentido utilizado pelo marxismo. O nazismo pode ser considerado uma forma extrema de fascismo, muitas vezes chamado de nazifascismo. Os vários tipos de fascismos se identificam como anti-socialistas.

Hitler dizia que o termo "socialista" era uma palavra de origem alemã, correspondente a um modelo ideal de terras semi-coletivas, semi-privadas que existia entre os antigos povos germânicos do 1º Reich, e afirmava que Karl Marx, um judeu, havia "roubado" esta palavra para sua teoria subversiva, o comunismo. Foi justamente para diferenciar a sua proposta de novo modelo de sociedade do socialismo primitivo, que Marx criou o termo comunismo (enquanto estágio pós-socialista). Hitler defendia o retorno ao "socialismo" germânico do 1º Reich. Assim, na Alemanha, havia uma disputa retórica e linguístico-formal entre nazistas e comunistas em torno do uso e do significado do termo "socialismo" na língua alemã.

Quando questionado o porquê de usar a palavra socialismo como parte do nome de seu partido, Adolf Hitler disse: "Por que eu iria forçar essas criaturas a se submeterem a uma disciplina rígida, da qual não conseguem escapar? Eles podem ter tantas terras ou usinas quanto querem, o importante é que o estado, por intermédio do partido, decida quanto às ações e atitudes, pouco importando, assim, que sejam proprietários ou operários. Compreendem, agora, que tudo isso não significa mais nada? Nosso socialismo tem uma forma de agir mais profunda. Não modifica a ordem das coisas, não faz senão mudar as relações dos homens com o estado (...) Que significado têm a partir de agora as expressões 'propriedade' e 'renda'? Por que teremos a necessidade de socializar os bancos e as usinas? Nós socializamos os homens!"

Definição

Segundo o Dicionário de Política: "O sistema totalitário com um partido único e com um único líder foi definitivamente implantado no verão de 1934, quando Hitler, através de expurgos sangrentos dentro do partido (e das organizações militares do partido, as SA), conseguiu o apoio total do exército e se nomeou, após a morte do presidente Hindenburg, chefe do Estado, chanceler, líder do partido e da nação, ditador único da Alemanha." (BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO, 1998, p. 811)

Segundo o Dicionário de Política de BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO (1998, p. 1061), o racismo, no Nazismo alcança um patamar nunca alcançado na história, torna-se uma Política de Estado para eliminar outros povos considerados biologicamente inferiores. Isto porque Hitler: "julga que só a raça ariana é "depositária do progresso da civilização" e, portanto, como um povo de senhores, tem de conquistar e submeter as raças inferiores." (idem, p. 1061)

O Nazismo consistia assim em um movimento que defendia a superioridade da raça ariana e a doutrina do "espaço vital" nacional necessário aos alemães (BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO, 1998, p. 808), um espaço territorial mínimo, que, para um povo desta grandeza, siginificava controlar toda a Europa.

História

Adolf Hitler chegou ao poder enquanto líder de um partido político, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, ou NSDAP). Os termos Nazi ou Nazista são acrônimos do nome do partido (vem de National Sozialist). A Alemanha deste período é também conhecida como "Alemanha Nazista" ("Alemanha Nazi" PE) e os partidários do nazismo eram (e são) chamados nazistas (nazis PE). O nazismo foi proibido na Alemanha moderna, muito embora pequenos grupos de simpatizantes, chamados neonazistas (neonazis PE), continuem a existir na Alemanha e noutros países. Alguns revisionistas históricos disseminam propaganda que nega ou minimiza o Holocausto.

Programa do NSDAP

O Programa do Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP) pode ser resumido em 25 pontos-chaves:

"Nós pedimos a constituição de uma Grande Alemanha, que reúna todos os alemães, baseados no direito dos povos a disporem de si mesmos.

Pedimos igualdade de direitos para o Povo Alemão em relação às outras nações e a revogação do Tratado de Versalhes e do Tratado de Saint Germain.

Pedimos terras e colônias para nutrir o nosso povo e reabsorver a nossa população.

Só os cidadãos gozam de direitos cívicos. Para ser cidadão, é necessário ser de sangue alemão. A confissão religiosa pouco importa. Nenhum judeu, porém, pode ser cidadão.

Os não cidadãos só podem viver na Alemanha como hóspedes, e terão de submeter-se à legislação sobre os estrangeiros.

O direito de fixar a orientação e as leis do Estado é reservado unicamente aos cidadãos. Por isso pedimos que todas as funções públicas, seja qual for a sua natureza, não possam ser exercidas senão por cidadãos. Nós combatemos a prática parlamentar, origem da corrupção, de atribuição de lugares por relações de Partido sem importar o caráter ou a capacidade.

Pedimos que o Estado se comprometa a proporcionar meios de vida a todos os cidadãos. Se o país não puder alimentar toda a população, os não cidadãos devem ser expulsos do Reich.

É necessário impedir novas imigrações de não-alemães. Pedimos que todos os não-alemães estabelecidos no Reich depois de 2 de Agosto de 1914, sejam imediatamente obrigados a deixar o Reich.

Todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres.

O primeiro dever do cidadão é trabalhar, física ou intelectualmente. A atividade do indivíduo não deve prejudicar os interesses do coletivo, mas integrar-se dentro desta e para bem de todos. É por isso que pedimos:

A supressão do rendimento dos ociosos e dos que levam uma vida fácil, a supressão da escravidão do juro.

Considerando os enormes sacrifícios de vidas e de dinheiro que qualquer guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal com a guerra deve ser estigmatizado como um crime contra o povo. Pedimos por isso o confisco de todos os lucros de guerra, sem exceção.

Pedimos a nacionalização de todas as empresas que atualmente pertencem a trusts.

Pedimos uma participação nos lucros das grandes empresas.

Pedimos um aumento substancial das pensões de reforma.

Pedimos a criação e proteção de uma classe média sã, a entrega imediata das grandes lojas à administração comunal e o seu aluguer aos pequenos comerciantes a baixo preço. Deve ser dado prioridade aos pequenos comerciantes e industriais nos fornecimentos ao Estado, aos Länder ou aos municípios.

Pedimos uma reforma agrária adaptada às nossas necessidades nacionais, a promulgação de uma lei que permite a expropriação, sem indemnização, de terrenos para fins de utilidade pública – a supressão de impostos sobre os terrenos e a extinção da especulação fundiária.

Pedimos uma luta sem tréguas contra todos os que, pelas suas atividades, prejudicam o interesse nacional. Criminosos de direito comum, traficantes, agiotas, etc., devem ser punidos com a pena de morte, sem consideração de credo religioso ou raça.

Pedimos que o Direito romano seja substituído por um direito público alemão, pois o primeiro é servidor de uma concepção materialista do mundo.

A extensão da nossa infra-estrutura escolar deve permitir a todos os Alemães bem dotados e trabalhadores o acesso a uma educação superior, e através dela os lugares de direção. Os programas de todos os estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às necessidades da vida prática. O espírito nacional deve ser incutido na escola a partir da idade da razão. Pedimos que o Estado suporte os encargos da instituição superior dos filhos excepcionalmente dotados de pais pobres, qualquer que seja a sua profissão ou classe social

O Estado deve preocupar-se por melhorar a saúde pública mediante a proteção da mãe e dos filhos, a introdução de meios idôneos para desenvolver as aptidões físicas pela obrigação legal de praticar desporto e ginástica, e mediante um apoio poderoso a todas as associações que tenham por objetivo a educação física da juventude.

Pedimos a supressão do exército de mercenários e a criação de um exército nacional.

Pedimos a luta pela lei contra a mentira política consciente e a sua propagação por meio da Imprensa. Para que se torne possível a criação de uma imprensa alemã, pedimos que:

Todos os diretores e colaboradores de jornais em língua alemã sejam cidadãos alemães.

A difusão dos jornais não-alemães seja submetida a autorização expressa. Estes jornais não podem ser impressos em língua alemã.

Seja proibida por lei qualquer participação financeira ou de qualquer influência de não-alemães em jornais alemães. Pedimos que qualquer infração estas medidas seja sancionada com o encerramento das empresas de impressão culpadas, bem como pela expulsão imediata para fora do Reich os não-alemães responsáveis. Os jornais que forem contra o interesse público devem ser proibidos. Pedimos que se combata peã lei um ensino literário e artístico gerador da desagregação da nossa vida nacional; e o encerramento das organizações que contrariem as medidas anteriores.

Pedimos a liberdade no seio do Estado para todas as confissões religiosas, na medida em que não ponham em perigo a existência do Estado ou não ofendam o sentimento moral da raça germânica. O Partido, como tal, defende o ponto de vista de um cristianismo positivo, sem todavia se ligar a uma confissão precisa. Combate o espírito judaico-materialista no interior e no exterior e está convencido de que a restauração duradoura do nosso povo não pode conseguir-se senão partindo do interior e com base no princípio: o interesse geral sobrepõe-se ao interesse particular.

Para levar tudo isso a bom termo, pedimos a criação de um poder central forte, a autoridade absoluta do gabinete político sobre a totalidade do Reich e as suas organizações, a criação de câmaras profissionais e de organismos municipais encarregados da realização dos diferentes Länder, de leis e bases promulgadas pelo Reich.

Os dirigentes do Partido prometem envidar todos os seus esforços para a realização dos pontos antes enumerados, sacrificando, se for preciso, a sua própria vida.

Munique, 24 de Fevereiro de 1920".

A essência do Nazismo: totalitarismo e racismo

A essência do fascismo e do nazismo está no totalitarismo, especificamente na noção de controle totalitário, ou seja, na ideia de que o Estado, e em última instância o chefe-de-Estado (no caso da Alemanha o Führer), deveria controlar tudo e todos. Para isso a homogeneização da sociedade é fundamental. As formas de controle social em regimes totalitários geralmente envolvem o uso e exacerbação do medo a um grau extremo. Todos passam a vigiar a todos e todos se sentem vigiados e intimidados. Cada indivíduo passa a ser "os olhos e ouvidos" do Führer no processo de construção de uma sociedade totalitária. Neste processo de homogeneização totalitária, os inúmeros festivais, atividades cívicas, com mobilização das massas nas ruas foram determinantes.

Para controlar tudo e todos, o nazismo instigava e exacerbava ao extremo o nacionalista, geralmente associado às rivalidades com outros países suposta ou realmente ameaçadores. A ideia de um inimigo externo extremamente poderoso é funcional unir a sociedade contra o "inimigo comum". O medo de um inimigo externo é funcional para aglutinar socialmente povos que até pouco tempo não se identificavam enquanto uma só nação, como foram os casos de países unificados apenas no século XIX (Alemanha e Itália). Como Freud havia demonstrado, a necessidade da criação artificial da identidade em grupos sociais pode levar à homogeneização forçada destes, e a existência de membros diferentes no grupo é desestabilizadora, o que leva o grupo a tentar eliminá-lo. Tão relevante é esta explicação para entender o fenômeno do fascismo e do nazismo, que as obras de Freud estiveram entre as primeiras a serem queimadas nas famosas queimas de livros organizadas pelo Partido Nazista em 1933 e 1934.

Entretanto, era necessário mais do que apenas o medo de um inimigo externo para conseguir atingir o ultra-nacionalismo e o totalitarismo. Para isso era funcional criar "inimigos" internos, sorrateiros, subterrâneos, conspiratórios. Este papel de inimigo sorrateiro é destinado ao comunismo e aos comunistas como um todo na ideologia fascismo. O Nazismo acrescenta ao rol de "inimigos", em que já estava o comunismo, minorias étnico-religiosas como "inimigas": os judeus em um primeiro momento, depois ciganos e povos eslavos (já durante a II Guerra Mundial). A partir disto é que se torna central o segundo pilar do nazismo, a ideologia da superioridade racial ariana.

O papel da ideologia da superioridade racial no Nazismo

Hitler e a obra Mein Kampf

De acordo com o livro Mein Kampf ("Minha Luta"); Hitler desenvolveu as suas teorias políticas pela observação cuidadosa das políticas do Império Austro-Húngaro. Ele nasceu como cidadão do Império e acreditava que a sua diversidade étnica e linguística o enfraquecera. Também via a democracia como uma força desestabilizadora, porque colocava o poder nas mãos das minorias étnicas, que tinham incentivo para enfraquecer e desestabilizar mais o Império, diferentemente da ditadura, que colocava o poder nas mãos de indivíduos restritos e intelectualmente favoráveis.

O ponto mais idiossincrático do nazismo, se analisado sob as lentes dos tempos atuais, é a superioridade da raça ariana. A teoria nazista defende que a raça ariana é uma raça-mestra, superior a todas as outras.

O nazismo defende que uma nação é a máxima criação de uma raça.

O nazismo defende que uma nação é a máxima criação de uma raça. Consequentemente, as grandes nações (literalmente, nações grandes) seriam a criação de grandes raças. A teoria diz que as grandes nações alcançam tal nível devido seu poderio militar e intelectual e que estes, por sua vez, se originam em culturas racionais e civilizadas, que, por sua vez ainda, são criadas por raças com boa saúde natural e traços agressivos, inteligentes e corajosos.

As nações mais fracas seriam então aquelas criadas por raças impuras, isto é, que não apresentam a totalidade de indivíduos de origem única.

De acordo com os nazistas, um erro óbvio deste tipo é permitir ou encorajar múltiplas línguas dentro de uma nação. Esta crença é o motivo pelo qual os nazistas alemães estavam tão preocupados com a unificação dos territórios dos povos de língua alemã.

Nações incapazes de defender as suas fronteiras, diziam, seriam a criação de raças fracas ou escravas. Defendiam eles que as raças escravas eram menos dignas de existir do que as raças-mestras. Em particular, se uma raça-mestra necessitar de um Espaço vital (Lebensraum) para viver, teria ela o direito de tomar o território das raças fracas para si.

Trata-se de uma teoria originalmente concebida pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que propôs uma Antropogeografia, como um ramo da geografia humana, como o espaço de vida dos grupamento humanos. Ao sistematizar os conhecimentos políticos aplicados pela geografia, Ratzel contribuiu decisivamente para o surgimento da geografia política, que no início do século XX foi acrescida do termo geopolítica (este cunhado por Rudolf Kjellèn).

Friedrich Ratzel visitou a América do Norte no início de 1873 e se impressionou com a doutrina do Destino Manifesto nos EUA. Ratzel simpatizava com os resultados do "Destino Manifesto", mas ele nunca usou o termo. Em vez disso, ele contou com a Tese da Fronteira de Frederick Jackson Turner. Ratzel promoveu colônias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África, mas não uma expansão em terras eslavas. Depois alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o direito do raça alemã de expandir na Europa, essa noção foi mais tarde incorporada na ideologia nazista. Harriet Wanklyn argumenta que que os políticos distorceram a teoria de Ratzel para objetivos políticos.

Raças sem pátria eram, portanto, consideradas "raças parasíticas". Quanto mais ricos fossem os membros da "raça parasítica" mais virulento seria o parasitismo. Uma raça-mestra podia, portanto, de acordo com a doutrina nazista, endireitar-se facilmente pela eliminação das "raças parasíticas" da sua pátria.

Foi esta a justificativa teórica para a opressão e eliminação dos judeus, ciganos, eslavos e homossexuais, um dever que muitos nazis consideravam repugnante, tendo eles como prioridade a consolidação do estado ariano.

As religiões que reconhecessem e ensinassem estas "verdades" eram as religiões "verdadeiras" ou "mestras" porque criavam liderança por evitarem as "mentiras reconfortantes". As que pregassem o amor e a tolerância, "em contradição com os fatos", eram chamadas religiões "escravas" ou "falsas".

Os homens que aceitassem estas "verdades" eram chamados "líderes naturais"; os que as rejeitassem eram chamados "escravos naturais". Dizia-se dos escravos, especialmente dos inteligentes, que embaraçavam os mestres pela promoção de falsas doutrinas religiosas e políticas.

Problemas teóricos

É importante notar que a ideia da superioridade genética e cultural-moral do povo alemão sofria de um grande problema empírico: "Se os alemães são superiores, como foram derrotados na I Guerra Mundial?". Ou seja, como explicar ao povo alemão que o país havia sido derrotado se este era tão superior?

A derrota na I Guerra Mundial e o impasse teórico da superioridade ariana

Não é possível compreender este fato sem entender o dramático desfecho da I Guerra Mundial.

Nas palavras de Karl Dietrich Bracher, o Nazismo: "como Hitler, foi o produto da Primeira Guerra Mundial, porém, recebeu sua forma e sua força daqueles problemas básicos da história alemã moderna que caracterizaram a difícil caminhada do movimento democrático." (BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO, 1998, p. 810)

Em 1917 a Alemanha havia derrotado a Rússia, que se retira da guerra em meio à Revolução Bolchevique. Entretanto, o povo alemão também estava insatisfeito com a guerra que já durava tempo demais e havia consumido vidas demais enquanto a elite do país continuava vivendo de forma extravagante. Em 1918 tem início na Alemanha uma série de rebeliões populares, de trabalhadores e soldados, que, inspirados na Revolução Russa de 1917, pretendiam derrubar o governo e acabar com a guerra. Os movimentos mais fortes eram justamente os socialistas, organizados pelo grupo chamado de Spartakista ou Liga Spartacus, liderados por Rosa Luxemburgo que havia convivido com Lenin quando este morou na Alemanha. Quase simultaneamente, estouravam rebeliões de camponeses famintos no sul da Alemanha e na região da Bavária. Os comunistas quase tomaram o poder em janeiro de 1919 foram aniquilados. Entretanto durante todo o período 1917-1919 a situação da elite alemã era muito frágil, e a ameaça da insurreição era constante e a elite temia que uma revolução popular pudesse acontecer a qualquer momento.

Apesar da guerra no front ocidental estar tecnicamente empatada, a entrada dos Estados Unidos a favor da Inglaterra e da França em 1917, começava a mudar a guerra contra a Alemanha. A elite alemã toma uma decisão desesperada: aceita um acordo de paz desfavorável para não correr o risco de ver uma revolução comunista na Alemanha. A elite alemã literalmente traiu a Alemanha e, ignorando os milhões de alemães mortos na guerra, decidiu por um acordo de paz pouco favorável para continuar mandando no país. Afinal, para a elite alemã, pior que a derrota era perder seus preciosos bens, que a elite russa viu serem expropriados pela Revolução russa de 1917. A elite alemã preferiu "perder os anéis" para "preservar os dedos". A sensação que ficou para o povo alemão foi de traição.

Na década de 1920 os nazistas se levantam como novo bastião contra os socialistas e se utilizam do discurso anticomunista para conseguir doações dos banqueiros e industriais alemães para suas campanhas eleitorais. O Partido Nazista tinha assim dois grandes desafios político-ideológicos: explicar a derrota de um povo teoricamente superior e ao mesmo tempo conseguir um encontrar um culpado que não fossem os banqueiros alemães que agora financiavam as campanhas eleitorais do partido Nazista. Hitler construiu a solução na obra "Minha Luta", que refinou posteriormente em outros escritos do Partido Nazi. A solução era simples: Hitler argumentou que a Alemanha havia sido derrotada por uma grande conspiração internacional de judeus. Hitler criou uma maléfica e terrível conspiração de judeus de diferentes países (banqueiros judeus na Inglaterra e na França, associados com judeus comunistas na Rússia), que se uniram para derrotar a Alemanha. Hitler conseguiu com uma só teoria, explicar a derrota na I Guerra Mundial, encobrir a traição da elite alemã e ainda jogar toda a culpa nos judeus e nos comunistas. Entretanto esta simples ideia teve grandes consequências políticas: o Holocausto.

A maior parte dos Judeus que tinha condições econômicas suficientes, deixou a Alemanha logo que Hitler tomou o poder em 1933-1934 e são inciadas as primeiras perseguições generalizadas de judeus. Entretanto, a maior parte dos judeus alemães era pobre e teve que continuar no país. Muitos se sentiam mais alemães do que judeus e acreditavam que podiam convencer o restante da Alemanha disso. E a perseguição começou aos poucos, em 1933-1934, com a caça aos "judeus comunistas", acusados de provocar o incêndio no Reichstag. Isto permitiu à Hitler eliminar o principal partido de oposição (o Partido Comunista Alemão), prender e mandar matar os líderes sindicais (a maioria comunistas) e impor sua ditadura. Na sequência a "depuração" da sociedade alemã (como os nazistas denominavam este processo de limpeza étnica), continuou com a prisão dos judeus nos campos de trabalho forçado.

Somando-se os judeus residentes na Alemanha, mais os judeus que residiam nos países que foram ocupados pelos nazistas durante a II Guerra Mundial (Polônia, Tchecoslováquia, Áustria), mais ciganos, homossexuais e um número incontável de presos políticos, comunistas, anarquistas e sindicalistas em geral, foram mortos entre 5 e 6 milhões de pessoas, apenas nos Campos de Concentração. Outros 25 milhões de soviéticos morreram na Guerra contra a Alemanha, metade destes eram civis.

Quando finalmente Hitler percebeu que a Alemanha estava sendo derrotado por povos que considerava "inferiores" (Americanos e Soviéticos), o Führer ordena que o povo alemão lute até o último homem, pois se não era forte o bastante para derrotar os "bárbaros" era melhor que fosse eliminado. Ao todo a loucura da II Guerra Mundial ceifou cerca de 70 milhões de vidas humanas.

Apropriações filosóficos de Nietzsche pelo Nazismo

Se bem que a raça fosse um fator crucial na visão do mundo dos nazistas, as raízes ideológicas do nazismo iam um pouco mais fundo. Os nazistas procuraram legitimação em obras anteriores, particularmente numa leitura, por muitos considerada discutível, da tradição romântica do século XIX, em especial do pensamento de Friedrich Nietzsche sobre o desenvolvimento do homem em direcção ao Übermensch.

No seu livro de 1939, Alemanha:Jekyll & Hyde, Sebastian Haffner chama ao Nazismo de "uma primeira (autónoma e nova) forma de Niilismo radical, que nega simultaneamente todos os valores, sejam eles valores capitalistas e burgueses ou sejam eles proletários". É bem verdade que este ponto de vista acaba por desconsiderar o projecto de crescimento industrial e de manutenção da ordem social estabelecida, como se percebe na Alemanha sob poder nazista, e um repúdio seletivo a elementos da "cultura burguesa tipicamente inglesa", e não apenas burguesa (visto o repúdio aos judeus, parte visível da burguesia na época).

Liberalismo, Teoria econômica e Nazismo

O nazismo também defendia uma forte intervenção do Estado na economia para manter o capitalismo e evitar uma crise mais profunda que permitisse a ascensão dos comunistas como havia acontecido na Rússia em 1917 e quase aconteceu na Alemanha em 1918. Desta forma, o nazismo pode ser considerado uma ideologia contrária ao livre mercado e ao liberalismo ou antiliberal antiliberalismo[27] e racista. É relevante ressaltar que após a I Guerra Mundial, mas especialmente após a Crise de 1929 a maior parte dos novos movimentos políticos assumiram um discurso antiliberal, tanto no plano político como no econômico, e isto inclui desde grupos conservadores pró-capitalismo como o nazismo, passando por grupos moderados e defensores da democracia e da intervenção do Estado na Economia como keynesianos e social-democratas, até movimentos revolucionários anticapitalistas socialistas ou comunistas.

Alguns economistas reconhecem que tanto a Alemanha de Hitler, como os Estados Unidos e a Inglaterra, só se recuperaram economicamente da Crise de 1929 quando implementaram políticas fortemente intervencionistas, associadas a uma acelerada militarização da sociedade e da economia. Esta militarização da economia se traduziu no direcionamento de vários setores da indústria para atender as enormes encomendas militares, além do fim do desemprego pelo recrutamento de soldados.

Socialismo e nazismo

A generalidade da esquerda rejeita que o nazismo tenha sido de fato socialista, apontando para a existência, ainda antes da tomada do poder por Hitler, de uma resistência comunista e socialista ao nazismo, para o carácter internacionalista do socialismo, totalmente oposto à teoria e prática nazista, e a manutenção, pelos nazistas, de toda a estrutura capitalista da economia alemã, limitada apenas pelas condicionantes de uma economia de guerra e pela abordagem àquilo a que os nazistas chamavam a questão judia. Porém esta questão é controversa, com alguns autores a referirem-se ao nazismo como uma forma de socialismo, apontando para a designação do partido, para alguma da retórica nazista e para a estatização da sociedade. Ludwig von Mises argumenta, por exemplo: "O governo diz a estes supostos empreendedores o que e como produzir, a quais preços e de quem comprar, a quais preços e a quem vender … A autoridade, não os consumidores, direciona a produção … todos os cidadãos não são nada mais que funcionários públicos. Isto é socialismo com a aparência externa de capitalismo". O próprio Hitler chegou a afirmar, em um de seus discursos, que o nacional-socialismo era socialista não na forma tradicional de socialismo, mas sim interpretando o socialismo como "exaltação do social".

Nazismo e romantismo

De acordo com Bertrand Russell, o nazismo provém de uma tradição diferente quer do capitalismo liberal quer do comunismo. E por isso, para entender os valores do nazismo, é necessário explorar esta ligação, sem trivializar o movimento tal como ele era no seu auge, nos anos 1930, e o descartar como pouco mais que racismo.

Muitos historiadores dizem que o elemento anti-semítico, que também existe nos movimentos-irmãos do nazismo, os fascismos de Itália e Espanha (mesmo que em formas e medidas diferentes), foi adaptado por Hitler para obter popularidade para o seu movimento. O preconceito anti-semita era muito comum no mundo ocidental. Por isso, diz-se que a aceitação das massas dependia do anti-semitismo e da exaltação do orgulho alemão, ferido com a derrota na Primeira Guerra Mundial.

Mas há quem diga (por exemplo o filólogo Victor Klemperer) que as origens e os valores do nazismo provém da tradição irracionalista do movimento romântico do início do século XIX.

O historiador e escritor Joachim Fest vai além, mostrando que o anti-semitismo é fruto não de doutrinas atuais, mas sim de tempos remotos. De fato, traços anti-semíticos são observados desde o Império Romano.

A política econômica do nazismo

A teoria econômica nazista preocupou-se com os assuntos domésticos imediatos e, em separado, com as concepções ideológicas da economia internacional.

A política econômica doméstica concentrou-se em três objetivos principais:

eliminação do desemprego

eliminação da hiperinflação

expansão da produção de bens de consumo para melhorar o nível de vida das classes média e baixa

Todos estes objetivos pretendiam contrariar aquilo que era visto como os defeitos da República de Weimar e para solidificar o apoio doméstico ao partido. Nisto, os nazistas foram bastante bem sucedidos. Entre 1933 e 1936 o PIB alemão cresceu a uma taxa média anual de 9,5%, e a taxa de crescimento da indústria foi de 17,2%. Alguns economistas defendem que a expansão da economia alemã nesse período não foi resultado da ação do partido nazista, mas sim uma consequência das políticas econômicas dos últimos anos da República de Weimar que começaram então a ter efeito. Tal ponto de vista é contestado visto que pouquíssimo se fez para a manutenção da economia, chegando Hugenberg a afirmar que a política ao seu alcance era uma política que não pretende lutar contra a miséria, mas aprender a conviver lado-a-lado com ela.

Vale ainda ressaltar que não existem dúvidas se a economia realmente cresceu ou se só se recuperou da depressão, visto que apesar de os salários na Alemanha nazista de 1939 serem um pouco menores do que os salários na Alemanha de 1929, a inflação controlada proporcionou um aumento incrível no valor da moeda, o que significa que um marco de 1929 valia muito menos do que um marco de 1939.

Esta expansão empurrou a economia alemã para fora de uma profunda depressão e para o pleno emprego em menos de quatro anos. O consumo público durante o mesmo período aumentou 18,7%, enquanto que o consumo privado atou 3,6% anualmente. No entanto, e uma vez que a produção era mais consumidora do que produtora (a elaboração de projetos de trabalho, a expansão da máquina de guerra, a iniciação do recrutamento para tirar homens em idade produtiva do mercado de trabalho), as pressões inflacionárias reapareceram, se bem que não chegassem a um nível comparável ao da República de Weimar. Estas pressões econômicas, combinadas com a máquina de guerra azeitada durante a expansão (e as concomitantes pressões para o seu uso), levou alguns comentadores à conclusão de que bastavam essas razões para tornar uma guerra europeia inevitável. Dito de outra forma, sem uma nova guerra europeia, que suportasse esta política econômica consumista e inflacionária, o programa econômico doméstico nazista era insustentável. Isto não significa que as considerações políticas não tivessem tido maior peso no desencadear da Segunda Guerra Mundial. Significa apenas que a economia foi e continua a ser um dos principais fatores de motivação para que qualquer sociedade vá para a guerra.

O partido nazista acreditava que uma cabala da banca internacional tinha estado por trás da depressão global dos anos 1930. O controle desta cabala foi identificado com os judeus, o que forneceu outra ligação à sua motivação ideológica para o holocausto. De uma maneira geral, a existência de grandes organizações internacionais da banca e de banca mercantil era bem conhecida ao tempo. Muitas dessas instituições bancárias eram capazes de exercer pressões sobre os estados-nações através da extensão ou da retenção de créditos. Esta influência não se limita aos pequenos estados que precederam a criação do Império Alemão enquanto estado-nação na década de 1870, mas surge nas histórias de todas as potências europeias desde 1500. Na realidade, algumas corporações trans-nacionais do período entre 1500 e 1800 (a Companhia Holandesa das Índias Orientais é um bom exemplo) foram criadas especificamente para entrar em guerras no lugar dos governos e não o inverso.

Usando mais nomenclatura moderna, ainda que fazê-lo possa ser algo discutível, é possível dizer que o partido nazista estava contra o poder das corporações trans-nacionais, que considerava excessivo em relação ao dos estados-nação. Embora por motivos por vezes opostos, esta posição anticorporativa é partilhada por muitas forças políticas desde a esquerda e centro-esquerda, até a extrema-direita.

É importante fazer notar que a concepção nazista da economia internacional era muito limitada. A principal motivação do partido era incorporar no Reich recursos que anteriormente não faziam parte dele, pela força e não através do comércio. Isto fez da teoria económica internacional um fator de suporte da ideologia política em vez de uma trave mestra da plataforma política, como acontece na maioria dos partidos políticos modernos.

Do ponto de vista econômico, o nazismo e o fascismo estão relacionados. O nazismo pode ser encarado como um subconjunto do fascismo - todos os nazistas são fascistas mas nem todos os fascistas são nazistas. O nazismo partilha muitas características econômicas com o fascismo, com o controle governamental da finança e do investimento (através da atribuição de créditos), da indústria e da agricultura, ao mesmo tempo que o poder corporativo e sistemas baseados no mercado para criar os preços se mantinham. Citando Benito Mussolini: "O fascismo devia ser chamado corporativismo, porque é uma fusão do Estado e do poder corporativo."

Em vez de ser o estado a requerer bens das empresas industriais e a colocar nelas as matérias-primas necessárias à produção (como em sistemas socialistas/comunistas), o estado pagava por esses bens. Isto permitia que o preço desempenhasse um papel essencial no fornecimento de informação sobre a escassez dos materiais, ou nas principais necessidades em tecnologia e mão-de-obra (incluindo a educação de mão-de-obra qualificada) para a produção de bens. Além disso, o papel que os sindicatos deviam desempenhar nas relações de trabalho nas empresas era outro ponto de contacto entre fascismo e nazismo. Tanto o partido nazista alemão como o partido fascista italiano tiveram inícios ligados ao sindicalismo, e encaravam o controle estatal como forma de eliminar o conflito nas relações laborais.

 

Efeitos

Na condição de escravos do nazismo, Judeus e outros perseguidos políticos no campo de concentração de Wobbelin foram libertados pelos Aliados

Estas teorias foram utilizadas para justificar uma agenda política totalitária de ódio racial e de supressão da dissidência com o uso de todos os meios do estado.

Como outros regimes fascistas, o regime nazista punha ênfase no anticomunismo e no princípio do líder (Führerprinzip). Este é um princípio-chave na ideologia fascista, segundo o qual se considera o líder como a corporização do movimento e da nação. Ao contrário de outras ideologias fascistas, o nazismo era virulentamente racista. Algumas das manifestações do racismo nazista foram:

Anti-semitismo, que culminou no Holocausto;

Nacionalismo étnico, incluindo a noção dos alemães como o Herrenvolk ("raça-mestra") e o Übermensch ("super-homem");

Uma crença na necessidade de purificar a "raça alemã" através da eugenia, que culminou na eutanásia não-voluntária de pessoas diminuídas.

O anticlericalismo faz parte da ideologia nazista, o que é mais um ponto de divergência com outros fascismos.

Efeitos secundários

Talvez o efeito intelectual mais importante do nazismo tenha sido o descrédito, durante pelo menos duas gerações, das tentativas de utilizar a sociobiologia para explicar ou influenciar assuntos sociais.

Pessoas e história

O nazista mais importante foi Adolf Hitler, que governou a Alemanha Nazi entre 30 de Janeiro de 1933 até ao seu suicídio a 30 de Abril de 1945, levou o Reich alemão à Segunda Guerra Mundial. Com Hitler, o nacionalismo étnico e o racismo juntaram-se numa ideologia militarista.

Depois da guerra, muitos nazis de primeiro plano foram condenados por crimes de guerra e contra a humanidade no Julgamento de Nuremberg.

O símbolo nazista é a suástica orientada no sentido dos ponteiros do relógio, sendo desenhada em um plano 5x5.

 

Nazismo e religião

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Estado deplorável de Judeus e outros contrários ao nazismo, no final da guerra. Campo de concentração de Buchenwald

As relações iniciais entre o nazismo e o cristianismo podem ser descritas como complexas e controversas. Nas igrejas protestantes a revolução nazista foi no início acolhida com "benévola simpatia". Tendo o nazismo procurado identificar-se com o patriotismo alemão, algumas personalidades protestantes, como o Dr. Martin Niemöller, votaram inicialmente a favor dos nacionais socialistas. Em julho de 1933, os representantes das igrejas protestantes alemães escreveram uma constituição para a criação de uma Igreja do Reich, criada a partir da fusão das 28 igrejas luteranas e reformistas alemães, que englobavam em torno de 48 milhões de adeptos, e era considerada a "igreja oficial" do regime.

Desde o início, foi diferente a atitude dos católicos, alarmados pelo conteúdo racista dos livros "Minha Luta" de Adolf Hitler e "O Mito do Século XX" de Alfred Rosenberg. Nesses livros, os arianos surgem como os elementos superiores da humanidade, defendendo-se a pureza racial ariana como a primeira necessidade dos alemães. Contrapunham os católicos que a destruição de barreiras entre judeus e gentílicos pertence à própria essência do Evangelho e que o racismo não tem cabimento na igreja cristã. Quando Hitler aceitou uma Concordata com o Vaticano, houve alguns católicos que ainda hesitaram. Os três inimigos mortais da Alemanha, tal como os nazistas afirmavam na sua propaganda interna, eram porém claramente identificados: marxismo, judaísmo, e cristianismo. A "incompatibilidade fundamental do nacional-socialismo com a religião cristã era manifesta", passando todos os cristãos, tanto protestantes como católicos, ao ataque sistemático ao nazismo.

Apesar disso, as relações do Partido Nazista com a Igreja Católica tem sido apresentada por alguns autores[carece de fontes?] como controversa. Argumentam não saber se Hitler se considerava, ou não, cristão, e que a hierarquia da Igreja, representada pelo Papa Pio XI, se teria mantido basicamente silenciosa. A existência de um Ministério de Assuntos da Igreja, instituído em 1935 e liderado por Hanns Kerrl, teria sido quase ignorada por ideólogos como Alfred Rosenberg e por outros decisores políticos.

Hitler e os outros líderes nazistas procuraram utilizar o simbolismo e a emoção cristã para propaganda junto do público alemão, esmagadoramente cristão. Enquanto que autores não-cristãos[carece de fontes?] puseram ênfase na utilização externa da doutrina cristã, sem dar importância ao que poderia ter sido a mitologia interna do partido, os cristãos, baseando-se nos livros dos chefes nazis, e nos folhetos de propaganda que estes lançavam contra o cristianismo, tipificaram Hitler como ateu ou ocultista — ou mesmo um satanista.

Declarações públicas e oficiais produzidas por autoridades católicas sobre o nazismo, existem pelo menos desde o ano de 1930, bem antes da chegada de Hitler ao poder, quando o Ordinário de Mogúncia, em nome do seu bispo, declarou: "O que acabamos de dizer (sobre o nazismo), responde às três perguntas que nos foram postas: a) Pode um católico ser membro do partido hitleriano? b) Está um sacerdote católico autorizado a consentir que os adeptos desse partido tomem parte em cerimónias eclesiásticas, incluindo funerais? c) Pode um católico fiel aos princípios do partido ser abrangido pelos sacramentos? Devemos responder "Não" a tais perguntas".

O Papa Pio XI sabia do que se passava na Alemanha e escreveu vários documentos condenando o nazismo, com destaque para a encíclica de condenação do Nazismo - Mit brennender sorge ("Com viva preocupação"). Muitos padres e líderes católicos opuseram-se com todo o vigor ao nazismo, dizendo que ele era incompatível com a moral e a fé cristã. Tal como aconteceu com muitos opositores políticos, muitos destes padres foram condenados aos campos de concentração pela sua oposição. O próprio Dr. Martin Niemöller, que a princípio lhes dera apoio, foi enviado para Dachau.

O ano de 1938 ficou assinalado pela anexação da Áustria, imediatamente seguida pelo assalto aos bens e à influência da Igreja; os cardeais Innitzer e Faulhaber, bem como o arcebispo Grober e o bispo Sproll foram vítimas de violências organizadas pelas "kochende Volksseele".

No mesmo ano de 1938, o neo-paganismo romântico gerado pela acção dos responsáveis e órgãos nazis, vai entrar abertamente em ruptura com as igrejas cristãs, protestantes e católica.

Nazismo e Paganismo

Foi por intermédio do nazismo que se deu no século XX a mais importante manifestação do paganismo.

Uma denuncia da componente pagã do nazismo surgiu nos Estados Unidos da América, em 1934, logo após a vitória eleitoral e a subida ao poder de Adolf Hitler, como o livro "Nazismo: um assalto à civilização".[38] Nesse livro se chamava a atenção para algo que se considerava inquietante: no dia 30 de Julho de 1933 mais de cem mil nazistas tinham-se reunido em Eisenach para declarar querer tornar "a origem germânica a realidade divina", restaurando Odin, Baldur, Freia, e os outros deuses teutónicos nos altares da Alemanha - Wotan deveria estar no lugar de Deus, Siegfried no lugar de Cristo.

Durante o ano de 1936, os líderes nazis começam a abandonar a "cristandade alemã" ou o que também se designava por "cristianismo positivo". É então que Goebbels apresenta o Nazismo como se fosse uma religião a ser respeitada - havia uma nova fé alemã a defender. Enquanto Von Schirach tentava imbuir na Juventude Hitleriana a admiração pelas antigas tribos pagãs, o Movimento da Fé Germânica (Deutsche Glaubensbewegung, DGB) fazia o grosso da propaganda. O DGB tinha como profeta Jakob Wilhelm Hauer (1881-1962),  professor de Teologia em Tübingen, que pregava a ideia de uma fé ariana dos alemães. No livro Deutsche Gottschau, Hauer defendia que a história da Alemanha era mais do que mera sequência de factos, havendo na sua base uma Divindade que encarnava o espírito da raça ariana.

A Páscoa de 1936 já foi preparada na Alemanha como se um grande festival pagão se tratasse. As livrarias encheram-se de literatura pagã, e a bandeira azul com o disco solar dourado do "Movimento da Fé Germânica" (DGB) chegou às mais recônditas zonas rurais. Uma grande manifestação foi organizada em Burg Hunxe, na Renânia.

Em 1937, o Papa Pio XI publica uma Carta Encíclica de condenação do Nazismo - Mit brennender sorge ("Com viva preocupação"), onde diz: Damos graças, veneráveis irmãos, a vós, aos vossos sacerdotes e a todos os fieis que, defendendo os direitos da Divina Majestade contra um provocador neopaganismo, apoiado, desgraçadamente com frequência, por personalidades influentes, haveis cumprido e cumpris o vosso dever de cristãos.

No Congresso de Nuremberg, em 1937, revivia entre os nazistas o paganismo ancestral do povo ariano, surgindo um místico laicismo como um dos tópicos centrais em discussão: para que a Alemanha voltasse à sua antiga fé, não bastava a separação da Igreja e do Estado; as Igrejas cristãs teriam que ser destruídas, e o Estado transformado numa nova Igreja; impunha-se uma nova religião Nacional.

O ano de 1938 veio a revelar-se como um dos pontos altos de manifestação dessa nova religião pagã. No festival nórdico do Solestício de Verão, Julius Streicher, director do Strümer e amigo pessoal de Hitler, perante uma enorme multidão de alemães reunidos em Hesselberg (montanha a qual o Fuhrer declarou sagrada), ao lado de uma grande fogueira simbólica, disse: "Se olharmos para as chamas deste fogo sagrado e nelas lançarmos os nossos pecados, poderemos baixar desta montanha com as nossas almas limpas. Não precisamos nem de padres nem de pastores".

Este neo-paganismo romântico, gerado pela ação dos responsáveis e órgãos nazistas, com destaque para, além de Goebbels, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich, entrava então já em clara ruptura com as igrejas cristãs, protestantes e católica. Em 1938, depois das perseguições aos judeus que vinham desde a subida ao poder de Hitler, a perseguição aos cristãos passava então também a ser sistemática.

Mais tarde, ao estudar o fenómeno totalitário, o filósofo Herbert Marcuse identifica na ideologia do nazismo várias camadas sobrepostas, considerando precisamente o paganismo, a par do misticismo, racismo e biologismo, uma das componentes essenciais da sua "camada mitológica". A perspectiva de Marcuse foi partilhada pela "Escola de Frankfurt", especialmente por Max Horkheimer e Erich Fromm. Segundo Paul Tillich, no paganismo do nazismo estava o elemento essencial que explicava o seu anti-semitismo, no enfoque colocado nos "laços de sangue arianos". Para Emmanuel Levinas, o Nazismo apresentava uma forma de religiosidade pagã que se opunha a toda uma civilização monoteísta.

 

Vítimas religiosas

Corpos de prisioneiros dos nazistas encontrados pelas tropas americanas em Weimar, Alemanha

Chama-se a atenção também para o facto de as Testemunhas de Jeová terem sido vítimas por opção. "A guerra nazista contra os judeus visava à sua aniquilação e os deixou com poucas opções para escapar", explicou o Dr. Abraham J. Peck, Diretor Executivo do Museu do Holocausto de Houston, Texas, EUA. "A perseguição nazista contra as Testemunhas de Jeová visava a erradicação da religião. Por conseguinte, as Testemunhas de Jeová recebiam dos nazistas a oferta de liberdade, caso renunciassem à sua . A maioria das Testemunhas preferiu sofrer e enfrentar a morte junto com as outras vítimas do nazismo a apoiar a ideologia nazista de ódio e violência."[carece de fontes?]

Como judeu polonês, o Dr. Ben Abraham, agora Vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do Nazismo, passou cinco anos e meio em campos de concentração onde conheceu pessoalmente várias Testemunhas de Jeová. Ele disse: "A diferença entre as Testemunhas e todos os outros prisioneiros é que, se renunciassem à sua fé e se comprometessem a denunciar os outros que praticavam a mesma crença, seriam soltas na hora. Mas preferiam permanecer presas a renunciar à fé."[carece de fontes?]

Nazismo e fascismo

O termo "nazismo" é frequentemente - mas incorretamente - usado como sinônimo de "fascismo". Ao passo que o nazismo incorporou elementos estilísticos do fascismo, as semelhanças principais entre os dois foram a ditadura, o irredentismo territorial e a teoria econômica básica. Por exemplo, Benito Mussolini, o fundador do fascismo, não adaptou o anti-semitismo até se ter aliado a Hitler, enquanto que o nazismo foi explicitamente racista desde o início. O ditador espanhol Francisco Franco, frequentemente chamado fascista, poderá talvez ser descrito como um monárquico católico reacionário que adotou pouco do fascismo para além do estilo.

Para o fim do século XX, surgiram movimentos neonazistas em vários países, incluindo os Estados Unidos da América e várias nações europeias. O neonazismo inclui qualquer grupo ou organização que exibe uma ligação ideológica com o nazismo. É frequentemente associado à subcultura juvenil skinhead, apesar de nem todos membros desta cultura estarem ligados à ideologia nazista. Alguns partidos políticos da orla do espectro como, nos EUA, o Partido Verde Nacional Socialista Libertário (LNSGP, ou Libertarian National Socialist Green Party), adotaram ideias nazistas.

Motivos do sucesso do nacional-socialismo

Uma questão importante sobre o nacional-socialismo tem a ver com os fatores que promoveram a sua ascensão, não só na Alemanha mas também noutros países europeus e do continente americano (podiam encontrar-se movimentos nacionais-socialistas na Suécia, Grã-Bretanha, Itália, Espanha, Checoslováquia, EUA, Argentina e Chile nos anos 1920 e 30).

Estes fatores podem ter tido a ver com:

A devastação económica em toda a Europa depois da Primeira Guerra Mundial;

A falta de orientação em muitas pessoas depois da queda da monarquia em muitos países europeus;

A fama de envolvimento judaico em aproveitamentos ilegítimos com a Primeira Guerra Mundial;

A rejeição do comunismo;

A influência das comunidades de língua alemã;

As dificuldades das classes trabalhadores e a crise econômica.

O termo "nazista" na cultura popular

As atrocidades cometidas pelo regime nazista e a sua ideologia extremista tornaram o nazismo tão digno de nota na linguagem popular como na história. O termo "nazista" (no português do Brasil) ou "nazi" (no português europeu), é frequentemente utilizado para descrever grupos de pessoas que tentam impor soluções impopulares ou extremistas à população em geral, ou que cometem crimes e outros tipos de violações sobre terceiros sem mostrar remorso. Israel é um alvo comum e extremamente controverso do termo "nazista", quando aplicado ao modo que os judeus tratam os palestinianos.

Alguns dos usos do termo que se vêem na cultura popular são extremamente ofensivos. Frases como "nazista do software livre" ou "feminazi" são dois exemplos de usos particularmente objetáveis. Mesmo muitos dos que mais fortemente se opõem ao movimento do Software Livre não gostam do que encaram como a trivialização dos nazistas.

O termo, usado tão frequentemente que inspirou a "lei de Godwin" que diz que "com o prolongamento de uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo os nazistas ou Hitler aproxima-se de um". Talvez esteja a acontecer o mesmo que com outras palavras ofensivas e a comunidade esteja a reclamar o termo.

Bibliografia

1925 - Adolf Hitler -Mein Kampf - Minha Luta (Editora Centauro, 2001).

1939 - N. Micklem - National socialism and Christianity, Nova Iorque, Farrar and Rinehart (O Nacional-Socialismo e a Cristandade, Lisboa, Editorial da Marinha, 1940).

1968 - J. S. Conway - The Nazi Persecution of the Churches, 1933-1945, Nova Iorque, Basic Books.

1969 - Johan M. Snoek - The Grey Book

1973 - Joachim Fest - Hitler, 2 vols. (Editora Nova Fronteira, 2005).

2002 - Joachim Fest - No Bunker de Hitler (Editora Nova Fronteira, 2005).

Ver também

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Ascensão do nazismo

Genocídio

O Homem do Castelo Alto (livro de história alternativa em que os nazistas venceram a segunda guerra mundial)

Nazismo no Brasil

Neonazismo

Novilíngua (para uma discussão das implicações semânticas de palavras como nazismo)

Suástica

Holocausto

Os triângulos do Holocausto

Objetor de consciência

Ministros do III Reich

Pessoas

Adolf Hitler

Benito Mussolini

Leopold Engleitner

Friedrich Kellner

Victor Klemperer

Paul de Lagarde (um ideólogo precursor do Nazismo)

Joseph Mengele (médico nazista que realizava experimentos com seres humanos)

Ligações externas

Entre a feijoada e o chucrute - Reportagem sobre o partido nazista no Brasil (em português)

Instituto Anne Frank - ONG contrária a proliferação nazista (em português)

Hitler Takes Power: Hitler Appointed Chancellor: Germany Recovers from the Depression. MacroHistory. (em inglês)

Encíclica papal Mit brennender Sorge (condenação do nazismo), 1937 (em inglês)

As perseguições aos católicos durante o nazismo, com vasta bibliografia (em inglês)

 

Nacional-anarquismo é um movimento pseudo-anarquista criado por grupos extrema-direita com a intenção de denegrir movimentos libertários a partir de uma fusão impossível dos ideais anarquistas com o nazismo. A expressão foi cunhada pelo músico inglês satanista Troy Southgate, o factoide se alastrou entre meios skinheads e punks em alguns países, estando principalmente vinculado a figuras como o ativista anti-imigração Peter Töpfer na Alemanha, o punk nazista Hans Cany na França, o revisionista Keith Preston nos Estados Unidos e o racista Welf Herfurth na Austrália.

A conciliação entre uma ideologia nacionalista com o pensamento anarquista só é possível através de uma série de distorções graves das idéias de autonomia e ação política propostas por autores anarquistas de renome como Mikhail Bakunin, Piotr Kropotkin, Pierre-Joseph Proudhon, Leon Tolstoy, Bob Black e John Zerzan. Indiferentes a isso os auto-proclamados nacional-anarquistas atacam o internacionalismo proletário no qual está imbricada a ideia mutualidade entre diferentes povos e se recusam a participar de espaços de debate com outras correntes anarquistas na Europa e nos Estados Unidos.

Descentralização

O nacional-anarquismo supõe que seja possível uma descentralização e manutenção da nação sem a existência de um Estado hierárquico. Pregam uma suposta reorganização das relações humanas pautadas em identidades nacionais.

Distributismo

O nacional-anarquismo tende a advogar uma prática económica que pode ser facilmente descrita como uma variedade de distributismo, em que se realçam a propriedade dos meios de produção pelos operários bem como as cooperativas de trabalhadores e o pequeno comércio, deixando de lado a solidariedade entre povos de diferentes nações, e estimulando a competitividade entre nações pela demarcação de fronteiras e a utilização de recursos.

Separatismo racial

O proponentes do nacional-anarquismo afirmam ser possível apoiar o separatismo racial e, ao mesmo tempo condenar o ódio racial e o supremacismo branco. Boa parte dos nacional-anarquistas acredita que o multiculturalismo é maléfico, argumentam que uma vez que misturando demasiado as culturas isto destruirá as culturas existentes. Os críticos do nacional-anarquismo, ou seja, quase todas as correntes anarquistas existentes, defendem que esta crença é somente uma nova roupagem para o velho ódio racial.

Relações com outros movimentos

A maior parte dos anarquistas modernos rejeitam o conceito de segregação racial dos nacional-anarquistas como sendo hierárquico ou não-igualitário. Por conseqüência distanciam-se daquilo que julgam ser um movimento supremacista branco em potencial. Os nacional-anarquistas, por sua vez, distanciam-se tanto dos anarquistas normais como dos supremacistas brancos, considerando ambos os conceitos como ultrapassados e dogmáticos.

O nacional-anarquismo rejeita também o fascismo tradicional uma vez que é meramente uma outra forma de estatismo. Mesmo assim tem sido utilizado, por terceiros, o termo pós-fascista para descrever as suas crenças, devido às suas raízes intelectuais parcialmente oriundas da Terceira Via, uma ideologia considerada normalmente como neofascista.

 

 

Ainda que Kropotkin detestasse a disciplina militar de sua escola e rapidamente tenha adquirido a reputação de rebelde, sua formação acadêmica foi intensiva, pautada por uma matriz de ensino racionalista e liberal com forte ênfase em ciências. Nesta instituição formou-se nas matérias de astronomia, física, história, literatura e filosofia.Foi nela também que conheceu a obra dos enciclopedistas franceses e teve o primeiro contato com as ideias evolucionistas de Jean-Baptiste de Lamarck que tanto marcariam a sua formação científica.

Em 1858 Kropotkin também já havia tido seu primeiro contato com as ideias revolucionárias, quando leu a revista de Herzen, A Estrela Polar. "Com um sentimento que raiava à veneração costumava eu olhar para o medalhão impresso na primeira página de A Estrela Polar, e que representava as nobres cabeças dos cinco dezembristas enforcados por Nicolau I depois da rebelião de 14 de dezembro de 1825: Bestuzhev, Kajovski, Pestel, Riléiev e Muravief Apostol".

Militar na Sibéria

 

Concluída sua formação em 1862, teve que servir no Exército russo, podendo optar em qual regimento desejava servir escolheu o de Cossacos Siberianos destacados para uma expedição a Sibéria a fim de garantir o controle czarista sobre a recém conquistada região de Amur. Ainda que Kropotkin pudesse escolher um destino mais cômodo, optou pela expedição à Sibéria também com o objetivo de se afastar da vida da corte russa na capital à qual considerava desagradável e opressiva. Sua formação que demandou que fosse pagem pessoal do então czar Alexandre II pelo período de dois anos permitira a Kropotkin testemunhar as extravagâncias da vida na corte, estilo de vida este que passara a desprezar.

Partiu para seu destino em Irkutsk em 24 de junho de 1862, e foi nomeado ajudante de campo do general Kukel; finalmente se estabeleceram na aldeia de Chitá, a capital da região. Kukel havia sido designado como governador de Transbaikal, tendo anteriormente estabelecido relações amistosas com Bakunin.

Os cinco anos que passei na Sibéria foram para mim muito instrutivos a respeito do caráter e da vida humanos. Me vi colocado em contato com homens de todas as condições, os melhores e os piores; aqueles que se encontravam na cúspide da sociedade e os que vegetavam em seu mesmo fundo; isto é, os vagabundos e os chamados criminosos insensíveis. Tive ocasiões de sobra para observar os hábitos e costumes dos camponeses em seu labor diário, e ainda mais, para apreciar o pouco que a administração oficial podia fazer em seu favor, ainda quando animada das melhores intenções.

—P. Kropotkin; Memórias de um revoluciánario.

 

 

A vida sofrida dos camponeses russos do século XIX e suas práticas de mutualidade tiveram grande impacto na visão política de Kropotkin.

Sua principal tarefa consistiu em fazer uma avaliação do cruel sistema penitenciário siberiano para sua reforma. Esta experiência o impressionou profundamente, principalmente por se ver forçado a encarar as deficiências da burocracia estatal e a corrupção administrativa, ao mesmo tempo também possibilitou que observasse as primeiras formas de cooperação direta e autônoma entre camponeses e caçadores. A despeito de todo um esforço por melhorar o sistema carcerário, as reformas sugeridas por Kropotkin com base em sua investigação nunca foram aplicadas. Na Sibéria conheceu o poeta russo Mikhail Larionovich Mikhailov, que havia sido condenado a trabalhos forçados por suas ideias revolucionárias. Foi Mikhailov que primeiramente lhe apresentou as ideias anarquistas, recomendando-lhe a leitura de Proudhon. O contato com a obra Sistema de contradições econômicas de Proudhon e os comentários de N. Sokolov, foram em grande parte responsáveis pela conversão do jovem Kropotkin ao socialismo libertário. Estes anos na Sibéria foram determinantes para o desenvolvimento do pensamento político de Kropotkin:

Ainda que não houvesse formulado minhas observações em termos análogos aos usados pelos grupos militantes, posso dizer agora que perdi na Sibéria toda a fé que antes pudera ter tido na disciplina do Estado, preparando-se assim o terreno para converter-me em anarquista.

—P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário.

Viagens e descobertas científicas

 

 

Biblioteca da Sociedade Geográfica Russa em 1916 da qual Kropotkin foi membro entre as décadas de 1860 e 1870.

Entre 1864 e 1866 realizou diversas viagens exploratórias no território ainda não mapeado da Manchúria. A última expedição foi a mais frutífera em seu aspecto científico, incluindo a região montanhosa do norte da Sibéria entre os rios Lena e Amur. Esta viagem proporcionou importantes conhecimentos científicos, auxiliando de maneira notável no conhecimento da estrutura geográfica da região siberiana; o descobrimento de restos fósseis contribuiu para a elaboração posterior de teorias glaciais; ampliou o conhecimento sobre a fauna siberiana, proporcionando dados a Kropotkin sobre apoio mútuo (ou cooperação intraespecífica) e o altruísmo em sociedades animais; e por último descobriu a rota de Chitá e a região do Lago Baikal até a tundra do norte.

Uma insurreição de prisioneiros poloneses na Sibéria e sua cruel repressão por parte das autoridades kzaristas, foram decisivas para o abandono do serviço militar por Kropotkin e seu irmão Alexandro. Regressaram a São Petersburgo em 1867, quando ingressou à Universidade e apresentou à Sociedade Geográfica Russa um relatório sobre sua expedição de Vitim, que foi publicado e lhe valeu uma medalha de ouro. Foi nomeado secretário da seção de Geografia Física da Sociedade Geográfica Russa. Explorou os glaciares da Finlândia e da Suécia em nome desta associação entre os anos de 1871 e 1873. Seu trabalho mais importante nesta época foi seu estudo da estrutura orográfica de Ásia, refutando as hipóteses de tipo conjetural baseadas no modelo alpino sugerido por Alexander von Humboldt. Ainda que posteriormente outros investigadores tenham descoberto estruturas mais complexas, as linhas gerais do enfoque idealizado por Kropotkin se mantiveram vigentes até a atualidade.

 

 

Esboço da fortaleza de Skanslandet em Sveaborg, Helsingfors, feito por Kropotkin como parte de sua pesquisa na Finlândia.

Em 1873, publicou uma importante contribuição para a ciência; um mapa no qual provava que todos os mapas existentes até então representavam erroneamente a estrutura física do continente asiático; as principais linhas estruturais corriam na verdade do sudoeste em direção ao noroeste, não do norte ao sul ou de leste a oeste como se acreditava. Outro trabalho de grande importância foi o relatório que escreveu sobre os resultados de sua expedição à Finlândia. Em 1874 apresentou em uma conferência sua teoria sobre como a capa de gelo da glaciação havia alcançado o centro da Europa, ideia que se contrapunha ao sabedoria convencional de sua época. Su proposição foi recebida com polêmica, até por fim ser posteriormente aceita pela comunidade científica. Finalmente, a terceira grande contribuição de Kropotkin para a teoria da ciência geográfica foi sua hipótese sobre a divisão da Eurásia, como consequência do retrocesso da glaciação da era precedente. Todas estas ideias foram concebidas quando ainda não havia chegado a completar trinta anos, o qual fazia pressupor um grande futuro como pesquisador científico. O prestígio de sua obra geográfica foi tão considerável que foi convidado para ser presidente da seção de Geografia Física da Sociedade Geográfica Russa. Kropotkin, no entanto, não aceitou o convite, porque seu interesse havia se voltado para as atividades revolucionárias:

No outono de 1871, estando eu na Finlândia, caminhando lentamente apé pela costa, ao largo da ferrovia recentemente construída, observando atentamente as paragens de onde primeiro devem ter aparecido as mostras inequívocas da primitiva extensão do mar, que seguiu ao período glacial. recebi um telegrama da da sobredita corporação, que dizia: "O Conselho pede para que aceiteis o cargo de secretário da Sociedade." Ao mesmo tempo, o secretário que deixava o cargo me suplicava encarecidamente de que eu prestasse boa acolhida a proposição. Minhas expectativas haviam se realizado; mas ao mesmo tempo, outras ideias e outras aspirações haviam invadido meu pensamento. Depois de ponderar sobre como deveria proceder, telegrafei: "Agradeço encarecidamente; mas não posso aceitar".

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

Durante suas pesquisas pelo círculo polar ártico Kropotkin percorreu em torno de 50 mil milhas. Importantes descobertas resultaram deste longo trabalho de campo, não só para a Geografia, como também para um melhor entendimento dos processos geológicos que moldaram aquelas paisagens, como também, num sentido mais amplo a própria História natural do planeta Terra.

Entre revolucionários na Suíça

Ainda durante seu período de investigações científicas no círculo polar ártico, Kropotkin se dedicou também ao estudo dos principais teóricos sociais e políticos de seu tempo. Após saber dos acontecimentos da Comuna de Paris em 1871 passou a se interessar cada vez mais pelo movimento operário. Ao mesmo tempo, em suas longas viagens pela Rússia e pela Finlândia se deparou com o estado de terrível miséria em que viviam os camponeses naquelas regiões. A convivência com estas populações despertou-lhe um grau tal de solidariedade, um impulso para que ele abandonasse a atividade científica em busca de uma solução revolucionária:

Mas que direito tinha eu a gozar de uma ordem elevada, quando tudo que me rodeava não era mais que miséria e luta por uma triste porção de pão, quando por pouco que fosse o que eu gastasse para viver naquele mundo de agradáveis emoções, havia por necessidade de arrancá-lo da mesma boca dos que cultivavam o trigo e não tinham suficiente pão para seus filhos? Da boca de alguém há de se tomar a força, posto que a agregada produção da humanidade permanece ainda tão limitada… Por isso contestei negativamente a Sociedade Geográfica.

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

 

 

Logotipo da Federação de Jura.

A herança recebida da morte de seu pai lhe proporcionou o acesso a copiosos recursos econômicos, que lhe permitiram realizar uma viagem ao Leste Europeu que duraria três meses. Partiu de São Petersburgo em fevereiro de 1872 e seu primeiro destino foi a cidade suíça de Zurique, com o objetivo de estabelecer contato com setores do movimento europeu organizado e inteirar-se de sua situação. Lá teve contato com um grupo de exilados russos fortemente influenciados pelas ideias de Mikhail Bakunin. Entre estes de encontravam uma mulher de sua família, Sofia Nicolaevna Lavrov, Nadeshdna Smezkaia e Mikhail Sazhin (um discípulo de Bakunin mais conhecido como Armand Ross). Em Genebra incorporou-se como membro da Primeira Internacional, inicialmente contatando os setores marxistas, especialmente o grupo russo dirigido por Nicolai Utin. No entanto, não demorou para que estranhasse o tipo de socialismo dos marxistas e suas estratégias políticas dentro da Primeira Internacional. Após cinco semanas deste contato, muito contrariado frente ao comportamento oportunista de seus dirigentes, decidiu conhecer aos grupos da tendência bakuninista.

 

 

O libertário James Guillaume em 1970, figura notável da Federação de Jura.

Não podia conciliar este joga e afrouxa dos chefes com os esquentados discursos que havia ouvido pronunciar na tribuna, o que produziu em mim tamanha desilusão que indiquei a Utin minha intenção de colocar-me em contato com outra agrupação da Associação Internacional de Genebra, que era conhecida com a bakuninista, porque a palavra anarquista não estava ainda muito generalizada. Utin deu-me no ato quatro cartas para outro russo chamado Nicolai Zhukovski, que fazia parte dela, e olhando-me fixamente nos olhos, disse-me suspirando: "Já não voltarás mais para o nosso lado; ficarás com eles." E acertou em seu prognóstico.

—P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário.

O anarquista Nicolai Zhukovsky lhe recomendou que deixasse Genebra e viajasse para Jura, local em que o movimento anarquista era mais forte. Lá chegando Kropotkin estudou o programa mais radicalizado da Federação de Jura em Neuchâtel e passou muito tempo na companhia de seus mais proeminentes membros, adotando definitivamente os ideais anarquistas. Esta federação formada em sua maioria por construtores de relógios suíços era "era associação sem ambições políticas, e que não fazia distinções entre líderes e militantes de base. Em Jura conheceu o historiador James Guillaume de quem se tornou amigo por longa data, e posteriormente o primeiro biógrafo de Bakunin. Apesar de compartilharem a mesma nacionalidade Kropotkin não chegaria a conhecer Bakunin pessoalmente. A influência do pensamento daquele grande revolucionário russo estava visível por toda federação. A impressão causada em Kropotkin pela vivência foi tremenda:

…as relações igualitárias que encontrei nas Montanhas de Jura, a liberdade de ação e pensamento que vi se desenvolver entre os trabalhadores, e sua ilimitada devoção pela causa, tocaram fortemente meus sentimentos; e quando tive que deixar as montanhas, depois de permanecer uma semana com os relojeiros, minhas visões do socialismo foram estabelecidas. Eu era um Anarquista…

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

Círculo Tchaicovsky

No começo de maio de 1872 já estava de volta à Rússia trazendo na bagagem escritos de autores revolucionários, a maioria deles proibidos no país. Uma vez em São Petersburgo retomou suas investigações geográficas, e começou a trabalhar ativamente como propagandista da revolução, estabelecendo um forte vínculo com o Círculo Tchaicovsky para o qual fora convidado pelo geógrafo Dimitri Klements. Como seu membro reescreveu panfletos políticos em uma linguagem mais acessível dos impressos até então, com o objetivo de torná-los acessível até mesmo à pessoas com graus precários de educação.

O Círculo Tchaicovsky que havia começado suas atividades como um grupo pequeno de jovens, havia se ampliado consideravelmente no momento da chegada de Kropotkin. Entre seus membros estavam Sofia Perovskaia, que havia ingressado na organização com o objetivo de aperfeiçoar suas conhecimentos em crítica social. Em 1869 Nechayev havia tentando formar uma organização revolucionária secreta entre a juventude, imbuída do desejo anteriormente referido de trabalhar entre o povo a ideia da insurreição e do sacrifício político levados as suas últimas consequências. Na opinião de Kropotkin estes procedimentos não poderiam prosperar na Rússia. Logo esta organização foi dissolvida, todos seus membros foram presos, e alguns dos jovens mais entusiastas e decididos foram enviados para o exílio na Sibéria antes mesmo que pudessem realizar uma única ação. O Círculo Tchaicovsky se formara em oposição à organização e às estratégias propostas por Nechayev, focando seus esforços no melhoramento e na educação mútua de seus membros, bem como em um desenvolvimento moral pessoal.

Foi devido a isso que o Círculo Tchaicovsky, ampliando gradualmente seu campo de atuação, se estendeu tanto na Rússia e adquirira tão importantes resultados; e mais tarde, quando as ferozes perseguições do governo criaram uma luta revolucionária, produzira essa notável classe de homens e mulheres que com tanta bravura sucumbiram na terrível contenda que travaram contra a autocracia.

—P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário.

Ainda que tenha continuado colaborando com a Sociedade Geográfica Russa em São Petersburgo, sua atenção estava voltada para a ação libertária: Disfarçado de camponês e utilizando o nome falso de Borodin assistia às reuniões noturnas do Círculo Tchaicovsky. Durante sua participação viu muitos de seus companheiros serem presos pela polícia política do czar.

Durante os anos que venho falando se fizeram muitas prisões, tanto em São Petersburgo como nas províncias. Não se passava um mês sem que experimentássemos a perda de alguém, ou ficássemos sabemdo que certos membros deste ou daquele grupo provincial haviam desaparecido. Chegado o final de 1873, as prisões se fizeram cada vez mais frequentes. Em novembro, um dos nossos principais centros, situado em um bairro na periferia da capital, foi invadido pela polícia. Perdemos a Peróvskaia e três amigos mais, tendo que suspender todas nossas relações com os trabalhadores daquela área. Fundamos um novo ponto de reunião mais distante, mas logo tivemos que abandoná-lo. A polícia extremou a vigilância, e a presença de um estudante nos bairros de trabalhadores era imediatamente advertida, circulando espiões entre os operários, aos quais não se perdia de vista. Dimitri, Klementz, Serguey e eu, com nossas samarra e nosso aspecto de camponeses, passamos inadvertidos, e continuamos frequentando o terreno vigiado pelo inimigo; mas eles, cujos nomes haviam adquirido grande notoriedade nestes bairros, eram objeto de todas as buscas; e se fosse dito casualmente em algum dos registros noturnos na casa de algum amigo, imediatamente acabavam detidos.

—P. Kropotkin, Memorias de un revolucionario

Prisão e fuga

No final de 1873, no dia seguinte ao seu rechaço à presidência da Sociedade Geográfica, Kropotkin foi preso pela polícia. Havia sido delatado por um trabalhador que se convertera a informante policial.

A noite se passou sem novidades. Dei uma folheada em meus papéis, destruí tudo o que pudesse comprometer alguém, juntei minhas coisas e me despus a partir (…) e desci rapidamente, saindo da casa. À porta não havia mais que um coche de aluguel; subi nele, e o condutor me levou ao Nevsky Prospekt. A princípio ninguém nos perseguia, e me considerei a salvo; mas em pouco tempo percebi que vinha uma outra carruajem correndo a toda velocidade atrás da nossa, e tendo que diminuir sua marcha o cavalo que conduzia-nos, a outra tomou nossa dianteira. E eu vi com surpresa um dos dois tecelões que haviam sido detidos, acompanhados de outra pessoa. Me fez sinal com a mão, como se tivesse algo a me dizer, e eu ordenei ao cocheiro que parasse. Talvez - pensei - tenha sido posto em liberdade e tenha algo importante a me comunicar. Mas tão pronto nos detivemos, o que acompanhava o tecelão - era um policial - gritou: "Senho Borodin, príncipe Kropotkin, está preso!" Fez um sinal aos guardas, abundantes nas principais ruas de São Petersburgo, e ao mesmo tempo saltou em meu coche e me mostrou um papel com o selo da polícia da capital, dizendo ao mesmo tempo: "Tenho ordem de conduzi-lo perante o governador geral para que deis uma explicação.

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

 

 

Imagem da Fortaleza de Pedro e Paulo que durante séculos serviu de prisão política do Império Russo.

Levado aos escritórios da polícia política secreta, a Seção Terceira, foi interrogado durante alguns dias. Sua prisão causou sensação em São Petersburgo, ainda mais frente a irritação do czar, já que Kropotkin havia sido durante algum tempo seu ajudante pessoal. Diversos jornais identificados com as elites russas passaram a divulgar informações de que o príncipe Kropotkin estaria acometido de algum tipo de loucura. O rótulo de "louco" seria associado ao seu nome entre os nobres e burgueses da Rússia por um longo período. Neste meio tempo foi encarcerado na Fortaleza de Pedro e Paulo em uma cela solitária, escura e úmida. Os notáveis da Sociedade Geográfica Russa, seus amigos e em especial seu irmão Alexandro intervieram em seu favor para que lhe fosse permitido dar continuidade às suas pesquisas geográficas, para que pudesse ter acesso a livros, papéis e lápis.

No início de 1875 seu irmão também foi preso pelo regime czarista por escrever uma carta para Piotr Lavrovich Lavrov. Alexandro seria enviado para a Sibéria, passando doze penosos anos exilado no pequeno povoado de Minusinsk. Ao fim deste período, não aguentando mais o ostracismo, cometeu suicídio. A prisão de seu irmão e a desarticulação dos círculos revolucionários - foram feitas pelo menos duas mil detenções na Rússia - produziram naquele momento, um colapso psicológico em Kropotkin que caiu deprimido. Em consequência da depressão sua condição física piorou, aumentando os danos causados por escorbuto.

Em março de 1876 transferiram-no para a Cadeia de São Petersburgo, lugar onde as condições de vida eram mais insalubres ainda que na fortaleza, ainda que ali houvesse muito mais facilidades para receber visitas e romper o isolamento. Mas sua deterioração física piorou mais ainda, fazendo com que corresse risco de morrer. Diante deste quadro os médicos recomendaram sua transferência para o hospital contíguo à Prisão Militar de São Petersburgo. A mudança para um ambiente arejado, iluminado e limpo, com uma melhor alimentação, favoreceram a recuperação de sua saúde. Neste mesmo momento seus amigos começaram a planejar sua fuga da prisão. Após muitos preparativos, através de um sistema de sinais com o exterior, Kropotkin escapou correndo através do pátio da prisão, local em que praticava exercícios diários, ao abrir os portões que davam passagem às carroças dos entregadores de lenha. Perseguido pelos guardas montou em um coche que o esperava e se perdeu em meio à multidão.

Com horror vi que a carruagem estava ocupada por um homem vestido a paisana e com um quepe militar, que estava sentado sem virar a cabeça em minha direção. Minha primeira impressão foi de que havia sido vendido. Os companheiros me diziam em sua última carta: "Uma vez na rua, não se entregue; não lhe faltaram amigos que os defendam em caso de necessidade". Eu não queria subir no coche, se ele estivesse ocupado por um inimigo; mas ao me aproximar dele, notei que o indivíduo tinha costeletas ruivas muito parecidas com as de um dos meus melhores amigos que, ainda que não pertencesse ao nosso círculo, me professava verdadeira amizade, a qual eu lhe correspondia, e em mais de uma ocasião pude apreciar seu valor admirável, e até que ponto se voltavam hercúleas suas forças nos momentos de perigo. Será possível - dizia eu - que seja ele? E estava a ponto de pronunciar seu nome, quando contendo-me a tempo, bati palmas, sem deixar de correr, para chamar sua atenção. Então se virou para mim e soube quem era. "Sobe, sobe logo!" - gritou com voz terrível, e depois, dirigindo ao cocheiro com revolver na mão, gritou-: "Ao galope, ao galope, ou lhe arranco a carne dos ossos!" O cavalo era um excelente animal, comprado expressamente para o caso, saiu no ato galopando. Uma multidão de vozes ressoavam as nossas costas, gritando: "Parados! Detenham-os!" enquanto meu amigo me ajudava a colocar um elegante abrigo e sapatos.

—P. Kropotkin. Memórias de um revolucionário.

Participaram da organização do plano de fuga o doutor Orestes Weimar, a senhora Lavrov e Stepniak, entre outros. A égua negra que puxava o coche da fuga, batizada de "Bárbara", foi utilizada também em outros feitos revolucionários posteriores, entre eles em 1878 também auxilou na fuga de Sergei Kravchinski, executor do general Nikolai Mezentsov.

Depois de ser escondido momentaneamente em uma casa, trocou de roupas e foi levado a uma barbearia onde lhe cortaram a copiosa barba. Logo partiram em direção a uma rua movimentada de São Petersburgo e entraram sob a vista de todos em um restaurante da moda. Após fazerem uma refeição partiram no meio da noite na direção um pequeno povoado distante. Paralelo a isso, forças de segurança política realizavam batidas policiais nas casas de seus amigos, sem encontrar quaisquer pistas. Vestido como oficial militar, Kropotkin se dirigiu até o pequeno porto de Vaasa, no golfo de Botnia, embarcando rumo à Suécia e de lá para a Noruega. De lá tomou um navio a vapor britânico até o porto de Hull, na Inglaterra.

Longo exílio

Imagem do porto da cidade inglesa de Hull pintada por John Atkinson Grimshaw em 1884. O local em que Kropotkin desembarcara oito anos antes.

Nos primeiros dias de agosto de 1876, Kropotkin desembarcou no porto de Hull, sob o nome falso de "Alexis Lavashov". Estabeleceu-se inicialmente em Edimburgo, mas em pouco tempo mudou-se para Londres, onde teria maiores possibilidades para garantir seu sustento. Começou a colaborar com o periódico The Times e com a prestigiada revista Nature, iniciando amizade com James Scott Keltie, subdiretor da revista. Paralelamente passou a corresponder-se mais seguidamente com James Guillaume na Suíça. Foi Guillaume que lhe repassou o contato do pedagogo libertário Paul Robin que na época havia tornara-se figura notória por suas propostas de reforma sexual, pela defesa do controle de natalidade e seu ativismo pelo fim da prostituição. Kropotkin e Robin travaram debates e discussões sobre temáticas sociais, nestes debates uma faceta puritana do pensamento do ex-príncipe russo tornou-se evidente.

Após um curto período na Inglaterra, estabeleceu-se na Suíça, chegando a Neuchâtel em dezembro de 1876, incorporando-se quase que imediatamente à Federação de Jura. Lá conheceu Carlo Cafiero e Errico Malatesta, os dois membros mais prominentes da seção italiana da Internacional. Decidido a se estabelecer no continente, realizou um breve viagem até a Inglaterra para tratar de questões trabalhista com a revista Nature, partindo em 23 de janeiro para Ostende e de lá para Verviers, na Bélgica, com a intenção de se tornar um articulados do movimento da região, mas a expulsão de seu amigo Paul Brousse levou Kropotkin a continuar viagem aé Genebra. Ali reuniu-se mais uma vez com Dimitri Klemetz, seu amigo de longa data, e conheceu outro célebre geógrafo anarquista, Élisée Reclus na cidade de Vevey. Juntamente com Brousse, e com a intenção de disseminar a filosofia e a ação anarquista para outras regiões da Suíça lançou o periódico L'Avant Garde (A Vanguarda) que alcançou sucesso relativo, e simultaneamente mais um jornal no idioma alemão, o Arbeiterzeitung, que resultou em um grande fracasso, deixando de ser publicado alguns meses depois. Na Bélgica viajou para Verviers, para participar do último congresso da seção bakuninista na Primeira Internacional, no qual atuou como delegado dos russos no exílio e levou a cabo a tarefa de redigir as atas do congresso. Devido rumores de que seria detido, teve que abandonar o congresso, embarcando de Amberes em direção à Londres.

 

 

Títular do periódico L'Avant Garde de 15 de julho de 1878.

Da Inglaterra retornou a França onde fez contato com Andrea Costa, prosseguindo em seus estudos sobre a Revolução francesa que havia iniciado ainda na cidade de Londres. As atividades clandestinas de Kropotkin chamaram a atenção do aparato repressor do estado francês no início de 1878, por este motivo teve que retornar a Genebra no final de abril. Pouco depois visitou a Espanha, para familiarizar-se com a situação do movimento naquele país. A visita lhe causa uma forte impressão, é a primeira vez que se depara com um setor massivo do movimento anarquista.  Após retornar para Genebra em agosto imediatamente participou de um congresso de grupos anarquistas suíços em Friburgo, no qual se evidenciou o sensível declínio da Federação de Jura. Em 8 de outubro de 1878 uniu-se em matrimônio com a jovem russa emigrada Sofia Ananiev. Em 10 de dezembro as autoridades suíças fecham a redação de L'Avant Garde, prendendo também Brousse, ainda que por um curto período de tempo. Pouco tempo depois decidiram iniciar um novo periódico que desse continuidade ao trabalho desenvolvido no anterior. Em 22 de fevereiro apareceuLe Révolté, que devido a falta de participantes era redigido quase que inteiramente por Kropotkin. O jornal alcançou sucesso imediato, e em abril de 1879 contava com 550 assinaturas, o que lhe permitiu comprar a crédito sua própria imprensa, fundando a Imprimerie Jurassienne. Nesta mesma época passa a imprimir uma série de outros periódicos, cartazes e panfletos. Seus principais auxiliares foram dois trabalhadores, Francois Dumartheray e George Herzig, de quem Kropotkin relembra com admiração em suas Memórias de um revolucionário.

Teórico e propagandista

Reclus também geógrafo e anarquista foi amigo e colaborador de Kropotkin.

Através das páginas do periódico Le Révolté, Kropotkin apresentou as primeiras formulações do anarcocomunismo, sua principal contribuição teórica ao movimento anarquista. O primeiro artigo sobre o tema foi publicado em 1 de dezembro, tinha como título A ideia anarquista do ponto de vista de sua realização prática. O argumento nele apresentado afirmava que a revolução deveria se basear nas federações de comunas locais e nos grupos independentes, evoluindo a sociedade de uma etapa coletivista de apropriação dos meios de produção pelas comunas, até o comunismo.  No ano de 1880 foi convidado por Élisée Reclus para colaborar em sua obra Geografia Universal, neste mesmo período Piotr e Sofia se mudaram Clarens.

"Aqui, para onde vim com minha mulher Sofia, com quem conversava sobre todos os acontecimentos e os trabalhos realizados, e que exercia uma severa crítica literária sobre estes últimos, foi onde produzi o melhor de minha obra para o Révolté, entre o qual se encontra o chamamento Aos jovens, que tanta aceitação alcançou em todas as partes. Em uma palavra, neste lugar apliqui os cimentos e tracei as linhas gerais de tudo o que escrevi mais adiante. Em Clarens, além da convivência com Élisée Reclus e Lefrançais, que desde então tenho cultivado sempre, me encontrava em íntimas relações com os trabalhadores, e ainda trabalhava bastante na geografia e todavia acabava contribuindo em maior escala e cotidianamente com a propaganda anarquista."

—P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário.

Em março de 1881 seu amigo Stepniak lhe inteirou sobre o assassinato do czar Alexandre II, por membros do grupo Narodnaya Volya. A repressão sobre todos os grupos identificados com ideais revolucionários na Rússia foi terrível. A execução de sua ex-companheira do Círculo Tchaicovsky, Sofia Verovskaya, deixou Kropotkin indignado, e em meio a sua indignação imprimiu um folheto A verdade sobre as execuções na Rússia participando também na qualidade de orador em diversas manifestações de protesto. Estas atividades fizeram com que a policia genebresa o interrogasse, mas por fim a instituição decidiu não prendê-lo. Em 10 de julho partiu até Paris, para continuar viagem até Londres, para assistir na qualidade de delegado ao Congresso Socialista Revolucionário Internacional,. Devido à pobreza de Kropotkin, seu amigo e companheiro Varlaam Cherkesov, realizou uma coleta para pagar sua viagem. Em uma carta para Malatesta, Kropotkin apresentava suas dificuldades econômicas:

 

 

Desenho reconstituindo o assassinato de Alexandre II da Rússia em São Petersburgo.

"Le Révolté e tudo mais me ocupa normalmente uma semana, de modo que me sobram duas semanas por mês nas quais tenho que ganhar cento e cinquenta a duzentos francos para nós dois, cinquenta francos para Robert, outros quarenta para os russos, trinta para a correspondência, de dez a quinze para papel, etc; no total mais de trezentos francos."

—P. Kropotkin

Kropotkin participou do congresso em Londres, lá apresentou seu apoio formal à estratégia da propaganda pelo Ato e ao attentat, ratificando desta forma seu apoio a então recente execução do czar Alexandre II da Rússia pela organização Narodnaya Volya. Argumentando que uma ação seria muito mais efetiva que qualquer tipo de voto ou discurso para despertar nos oprimidos a necessidade de revolução. Ao fim do congresso Kropotkin declarou-se abertamente decepcionou pelo tom caótico das discussões e porque finalmente não se tratou o tema para o qual ele havia sido originalmente convocado: a formação de uma nova Internacional.Permaneceu na Inglaterra durante um mês e, ao fim deste, regressou a Suíça.

Logo após sua volta, foi expulso pelo governo suíço em parte devido as pressões diplomáticas exercidas pelo império russo. Antes no entanto, de partir de Genebra tomou conhecimento de um plano da polícia secreta russa para assassiná-lo em Londres, plano este que frustrara sem saber, com sua partida. Deixou a cidade de Genebra em 30 de agosto e se estabeleceu no pequeno povoado francês de Thonon, as margens do Lago Léman. A redação do Le Révolté ficou a cargo de Herzig e Dumartheray, ainda assim seguiu contribuindo para este periódico na qualidade de colaborador a distância. Ali permaneceram por dois meses até que Sofia concluiu seu bacharelado em Genebra.

 

 

Capa da versão russa da obra Memórias de um Revolucionário publicada em 1933.

Em novembro de 1881 retornou com sua esposa em segredo para a Inglaterra, realizando poucas conferências no trajeto da viagem até Paris, e lá, entrou em contato com Jean Grave. Na Inglaterra se eximiu de falar em público ou contatar anarquistas, reuniu-se apenas discretamente com Malatesta, Cafiero e Élisée Reclus. Durante o ano de 1882 estabeleceu também contato com dois marxistas ingleses, Ernest Belfort Bax e H. M. Hyndman. Hyndman lhe apresentou a James Knowles, editor da revista O Século Dezenove (The Nineteenth Century), publicação em que colaborou por três décadas. Seguiu escrevendo para a Nature, The Times e The Fortnightly Review, também foi convidado a contribuir para a Enciclopédia Britânica. No Le Révolté publicou dois importantes artigos: A lei e a autoridade e Governo revolucionário. Durante sua estadia na Inglaterra se escreveu demasiado a respeito da situação na Rússia, expondo suas reflexões em clubes operários em alguns encontros que organizou junto a membros exilados do círculo Tchaicovisky; dessa forma também expunham o ideal anarquista. Sendo inicialmente sua audiência escassa, a situação mudou quando passou a visitar aos círculos de mineiros na Escócia, onde suas exposições atraíram uma multidão de trabalhadores. A atmosfera deprimente e apática de Londres fez com que o casal retornasse à França, onde o movimento anarquista estava florescente e ativo, chegando em Thonon em 26 de outubro. Ali passou a viver com eles um jovem irmão de Sofia, em estado agonizante frente a um quadro avançado de tuberculose. As atividades revolucionárias em Lyon, onde havia por volta de três mil anarquistas ativos, as desordens provocadas pela crise da industria da seda e alguns enfrentamentos violentos entre trabalhadores e policiais, foram a desculpa para prender Kropotkin, que nada tinha a ver com os distúrbios, junto com outros sessenta anarquistas. Em 21 de dezembro de 1882 Kropotkin foi detido pela policia, horas depois da morte de seu jovem cunhado. Durante o enterro, Reclus e outros anarquistas reuniram-se com os camponeses da região, para protestar contra as detenções.

"O governo francês desejava fazer daquele um destes grandes processos que causam fortes impressões no país; mas não havia meio de envolver aos anarquistas presos na causa das explosões, por fim foi necessário levá-los frente a um juri que, com probidade, acabou por nos absolver, em consequência do resultado, adotaram uma política maquiavélica de perseguir-nos por termos pertencido à Associação Internacional dos Trabalhadores. Existe na França uma lei, votada imediatamente após a queda da Comuna, pela qual se pode fazer comparecer a qualquer um frente a um juiz de instrução, por haver pertencido a dita associação. O máximo da pena é de cinco anos, e o governo tem sempre a segurança de que o tribunal ordinário lhe deixará satisfeito".

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

Prisão na França

 

 

Frente da antiga abadia de Clairvaux, atual prisão de Clairvaux, na qual Kropotkin esteve confinado por cinco anos até 1886.

Ao fim do julgamento pela acusação de pertencimento a Internacional, foi sentenciado a cinco anos de prisão e mil francos de multa por suas atividades anarquistas; foi a condenação mais severa de todas. A imprensa independente, e até setores moderados da imprensa como o Journal des Economistes, protestaram contra as condenações criticando aos magistrados por condenar pessoas sem qualquer fundamento ou evidência de culpa. Os anarquistas, especialmente Bernard, Gautier e Kropotkin, aproveitaram o julgamento para dar publicidade a suas ideias realizando discursos incendiários contra as elites econômicas e políticas da Europa.

Foi encaminhado de Lyon para a prisão de Clairvaux, na velha abadia de São Bernardo, onde lhe foi imputado o status de prisioneiro político. Durante este período seguiu contribuindo para a Geografia Universal e a Enciclopédia Britânica, dando continuidade também para suas contribuções para a The Nineteenth Century. Um dos artigos publicados neste periódico intitulado What Geography ought to be ganhou grande notoriedade na época. As condições de detenção não foram desta vez tão sofridas como quando estevo prisioneiro na Rússia, já que as autoridades lhes permitiam cultivar verduras, jogar bola e trabalhar numa oficina de encadernação. Kropotkin aproveitava o tempo para dar aulas de idiomas, matemática, física e cosmografia para outros detentos. Podiam escrever e receber cartas, sob um regime de censura. Podiam receber livros e revistas, mas não periódicos, muito menos de tendência revolucionária.

Kropokin recebeu de Paris os votos de preocupação da Academia Francesa de Ciências, que se ofereceu para lhe enviar livros para suas investigações; da Inglaterra também vieram mostras de solidariedade, foi redigida uma petição em seu favor, assinada por quinze professores universitários, os diretores do Museu Britânico, a Sociedade Real de Minas, a Royal Geographical Society, a Enciclopédia Britânica, e nove periódicos ingleses, bem como personalidades da época como William Morris, Patrick Geddes e Alfred Russell Wallace. A petição apresentada ao ministro de Justiça da França pelo escritor Victor Hugo, foi rechaçada. No final de 1883 Kropotkin contraiu malária, enfermidade endêmica da região, comprometendo sua saúde durante alguns meses.  Neste meio tempo, Reclus reuniu os artigos de Kropotkin publicados no Le Révolté num único volume que foi publicado em Paris em novembro de 1885, intitulado Palavras de um Rebelde.

 

 

Kropotkin em seus anos de maturidade.

 

Os abaixo-assinados pela liberdade de Kropotkin pressionaram tanto ao governo francês que o primeiro-ministro Freycinet se viu obrigado a declarar que "razões diplomáticas impidem a liberação de Kropotkin", gerando uma reação ainda maior da opinião publica ao admitir que as exigências do czar eram capazes de intervir na política interior da França. O governo francês não teve mais saída além de perdoar aos detidos e liberá-los no dia 15 de janeiro de 1886. Kropotkin e Sofia, quebrados economicamente mudaram-se para Paris, onde puderam obter meios de subsistência mais adequados. Para prevenir uma possível deportação para a Rússia por parte do governo francês, Kropokin decidiu se estabelecer na Inglaterra, não sem pronunciar no dia 28 de fevereiro de 1886, na véspera de sua partida, o discurso O anarquismo e seu lugar na evolução socialista diante de vários milhares de pessoas. Suas experiências vivenciadas como prisioneiro na Rússia e na França, provocaram em Kropotkin seu rechaço frente a todas as formas de encarceramento como forma suposta de recuperação social e moral dos detidos. Posteriormente estas impressões deram forma a um texto publicado na Inglaterra em março de 1887, Nas prisões russas e francesas. A primeira edição deste livro foi comprada pelos agentes do governo russo para impedir sua difusão, conseguindo o governo russo destruir a maior parte dos exemplares. Por fim o livro foi reeditado anos mais tarde.

"…pude convencer a mim mesmo de que, quanto a seus efeitos sobre o preso e seus resultados para a sociedade em geral, as melhores prisões reformadas - sejam ou não divididas em celas - são tão ruins ou ainda piores, que os imundos carceres antigos. Elas não melhoram ao preso; pelo contrário, na imensa e obscura maioria dos casos, exercem sobre eles os efeitos mais lamentáveis. O ladrão, o vigarista e o bandido que passou alguns anos em uma penitenciária, saem dela mais dispostos que nunca a continuar pelo mesmo caminho, fazendo-se melhores preparados para ele, havendo aprendido a fazer o pior, estando mais irritado contra a sociedade e encontrando uma justificativa mais sólida para sua rebeldia contra suas leis e costumes, razão pela qual têm, necessária e inevitavelmente, que cair cada vez mais fundo no abismo dos atos anti-sociais que da primeira vez que lhe levaram diante dos juízes."

—P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário

Na Inglaterra

 

A capa do livro Lei e autoridade, edição inglesa de 1886.

Kropotkin e Sophia chegaram à Inglaterra em março de 1886, e por lá permaneceram as três próximas décadas. O casal se estabeleceu nos subúrbios de Londres levando uma vida completamente distinta dos anos anteriores, calma e de hábitos sedentários, dedicada à pesquisa científica e ao desenvolvimento teórico. Esta mudança de comportamento se dera em grande medida devido à saúde de Kropotkin que fora muito afetada pelos anos de prisão. As interpéries do clima da ilha pioraram ainda mais seu quadro clínico, fazendo com que ele tivesse crises crônicas de bronquite.

Uma de suas primeiras ações foi reunir um grupo editorial. Este grupo era composto por Charlotte Wilson, o Dr. Burns Gibson, Piotr e Sofia, entre outras pessoas. O grupo se denominava Freedom (Liberdade) e estava engajado na realização de encontros e em ações de propaganda trabalho de propaganda, e posteriormente, na organização de um jornal que levava seu nome. Anteriormente o grupo publicava seus escritos no jornal The Anarchist (O Anarquista) editado por Henry Seymour. Em pouco tempo a influência intelectual do pensamento de Kropotkin passou a ser mais e mais notável nas posições políticas de Saymour que até então se declarava um tuckeriano. Em seu jornal Saymour declararia publicamente seu compromisso com o comunismo anarquista. Nesta época também Kropotkin fez amizade com William Morris. Em abril daquele mesmo ano se estabeleceram em uma casa modesta, com pouca mobília na região de Harrow, fora da cidade de Londres. Dali Piotr seguiu contribuindo para diversas publicações: A The Nineteen Century, Die Freiheit publicada por Johann Most, La Revolte (periódico que sucedeu Le Révolté), a Nature e The Times.

O grupo deixou de contribuir para o The Anarchist após uma discussão com Seymour e, em outubro de 1886 foi publicada a primeira edição do Freedom. Tratava-se de um caderno com quatro páginas escrito principalmente por Kropotkin e Wilson, que seria impresso até 1888 no escritório da Liga Socialista de William Morris. Nesta mesma época Kropotkin sofreu um duro revés ao receber as notícias do suicídio de seu irmão Alexandre no dia 6 de agosto, exilado e esquecido por doze anos em uma pequena vila na Sibéria. Com a morte de Alexandre rompeu-se seu último laço familiar com a Rússia.

 

O crescimento dos movimentos socialistas na Inglaterra despertou o interesse do público em relação ao anarquismo, e Kropotkin passou a ser convidado como professor visitante para palestrar em quase todas as grandes cidades da Inglaterra e da Escócia. Durante uma visita à Edimburgo fez amizade com Patrick Geddes, cujo pensamento fortemente influenciou.

No dia 15 de abril de 1887 nasceu sua única filha, a quem o casal deu o nome de Alexandra, em memória ao tio. Naquele mesmo ano, poucos meses mais tarde, Kropotkin acabou envolvido e preocupado diante das sentenças de morte dada a anarco-sindicalistas acusados de uma atentado no qual morreu um policial, ocorrido em Haymarket no Estados Unidos. Kropotkin participou em diversos momentos da campanha pela libertação dos presos anarquistas, discursando em um grande evento no dia 14 de outubro ao lado de William Morris, George Bernard Shaw, Henry George e Stepniak. Apesar de muitas mobilizações semelhantes terem ocorrido nos principais centros urbanos do mundo os réus foram executados pelo governo dos Estados Unidos da América em 11 de novembro.

Em 13 de novembro participaram de uma manifestação organizada por William Morris em favor da liberdade de expressão na Praça Trafalgar, que terminou em sérios distúrbios. Neste meio tempo o grupo Freedom crescia, não só em número de membros, mas como também em influência em relação aos movimentos revolucionários. A ele convergiram antigos membros da Liga Socialista Anti-Parlamentar fundada por Morris - este que ainda que aceitasse a perspectiva de Kropotkin, jamais se declarou abertamente anarquista - formada de uma cisão com os chamados socialistas parlamentares organizados em torno da figura de Eleanor Marx. No entanto, as relações entre o grupo Freedom e os socialistas da Liga Antiparlamentar também se deterioraram, levando a um progressivo distanciamento.

Escritor, cientista e teórico

 

A partir de 1890 as atividades de Kropotkin como agitador tornaram-se cada vez mais raras em grande medida devido a sua idade avançada, passou a predominar seu caráter de pensador, intelectual e cientista. Escreveu para muitos periódicos libertários como Temps Noveaux (para os quais colaborava gratuitamente) e outras revistas como as publicações inglesas The Speaker e The Forum e as estadunidenses The Atlantic Monthly, The North American Review e The Outlook. Realizou dezenas de conferências, em cidades como Glasgow, Aberdeen, Dundee, Edimburgo, Manchester, Darlington, Leicester, Plymouth, Bristol e Walsall. Os temas eram tão diversos que, para além da teoria anarquista, tratava também de literatura, política russa, organização industrial, o sistema carcerário, naturalismo e as primeiras exposições sobre sua teoria do mutualismo.

Quando Huxley, querendo lutar contra o socialismo, publicou em 1888 na The Nineteenth Century, seu atroz artigo Struggle for Existence Manifesto, decidi apresentar em forma compreensível minhas objeções a seu modo de entender à referida luta, o mesmo entre os animais que entre os homens, materiais que estive acumulando durante seis anos. Falei em particular para os meus amigos; mas fiz com que a interpretação de luta pela existência no sentido do grito de guerra: Ai dos vencidos! elevado à altura de uma regra da natureza revelada pela ciência, estava tão profundamente arraigada neste país, que havia se convertido pouco menos que um dogma.

—P. Kropotkin, Memórias de um revolucionário

 

 

A página titular de Mutualismo: Um Fator de Evolução da primeira edição em alemão traduzida por Gustav Landauer e publicada em 1904.

Em 1888 Kropotkin começou a escrever sua obra sociológica, separada em três artigos publicados na The Nineteenth Century (“A queda de nosso sistema industrial;” “O futuro reino da abundância;” e, “A cidade industrial do futuro”) que constituiriam as bases do livo Campos, fábricas e oficinas, que publicaria posteriormente. Nesta época expôs em suas conferências suas ideias sobre a livre distribuição, o trabalho voluntário e a abolição do sistema salarial, baseando-se no principio: “De cada qual segundo a sua capacidade, a cada qual segundo a sua necessidade”.

Ao longo do ano de 1889 escreveu artigos para Le Revolté e The Nineteenth Century sobre a revolução francesa e suas consequências, e em março de 1890 publicou o ensaio Trabalho intelectual e trabalho manual. A partir de setembro de 1890 publicou na The Nineteenth Century os primeiros ensaios em resposta a Thomas Henry Huxley, que seriam reunidos finalmente naquela que viria a ser sua obra científica mais prestigiosa: Mutualismo: Um Fator de Evolução. Durante 1892 escreveu regularmente artigos de divulgação científica para este mesmo periódico, explorando temáticas tão diversas como geologia, biologia, física e química; também foi publicado na França A Conquista do Pão, com prefácio escrito por Élisée Reclus. Por esta época a reputação de Kropotkin cresceu ainda mais, obtendo um grande respeito e sucesso como escritor entre o público em geral, além do reconhecimento acadêmico que se materializava nos frequentes convites para realizar conferências sobre temas científicos na British Association, na Universidade de Londres e na Teacher’s Guild. Em 1894 Contemporary Review lhe dedicou um artigo laudatório intitulado “Nosso refugiado político mais ilustre”.

Em 1892 os Kropotkin se mudaram para Woodhurst Road, Acton, mas em 1894 voltaram a mudar de residência, se estabelecendo em uma casa de campo em Bromley, Kent. Ali cultivavam uma horta, Piotr tinha sua oficina de trabalho onde fabricava seus próprios móveis e um escritório cujas paredes estavam cobertas de livros até o teto, de acordo com a descrição de Rudolf Rocker, que o visitou em 1896. Em sua residencia recebia visitas de libertários notáveis de todo o mundo como a communard Louise Michel, o espanhol Fernando Tarrida del Mármol, a escritora e oradora Emma Goldman e Georg Brandes, entre outros.

 

 

Escrevendo cercado por sua biblioteca

O movimento libertário na Inglaterra começou a minguar frente ao crescimento da influência do socialismo autoritário de cunho parlamentar; em 1895 o grupo Freedom, o grupo Commonwealth e a Liga Socialista fundiram-se, assumindo Alfred Marsh como redator chefe substituindo Charlotte Wilson. Kropotkin –que era considerado pelo público em geral mais como um sábio erudito que como um anarquista - seguiu colaborando com o periódico mas sem participar de suas atividades de propaganda, agitação ou ativismo, abraçando quase que exclusivamente para si a atividade intelectual. Durante o Congresso Socialista Internacional de Londres de 1896, os anarquistas foram impedidos de participar pelos parlamentaristas, neste momento estabelece-se um cisão definitiva no movimento socialista. Após protestarem energicamente, os anarquistas eles próprios organizaram um congresso separadamente, ainda que Kropotkin, devido à problemas de saúde, não teve uma participação muito ativa. O final do ano de 1896 trouxe notícias que afetaram profundamente Kropotkin: a morte de seus amigos William Morris e Stepniak.

 

 

Primeira página da primeira edição de A Conquista do Pão originalmente lançada em francês em 1892.

Em 1897 participou das campanhas contra o governo espanhol, acusado de torturar e assassinar prisioneiros na fortaleza de Montjuïc (Barcelona), mas sua saúde piorava gradualmente e a própria Sofia o substituiu como conferencista dem diversos eventos, algo que se tornaria cada vez mais comum dali em diante. Nesse ano viajou para a América do Norte por meio da Sociedade Inglesa para o Patrocínio da Ciência, que celebrava uma reunião em Toronto, Canadá. Nos Estados Unidos participou de três conferencias sobre mutualismo no Instituto Lowell de Boston, e mais uma Nova Iorque. Nesta última cidade encontrou com Johann Most, Benjamin Tucker e o líder socialista Daniel de Leon. Em Pittsburgh tentou visitar Alexander Berkman que estava na prisão, mas as autoridades não lhe permitiram que o fizesse. Também começou as negociações para publicar suas Memórias de un revolucionário em fascículos pela revista Atlantic Monthly, que posteriormente, em 1899, lançaria o texto em um único volume. Paralelamente trabalhou na atualização e aprofundamento dos artigos que constituiriam a edição definitiva de Campos, fábricas e oficinas, publicada também naquele ano. Durante a Guerra dos Boers Kropotkin declarou publicamente sua oposição denunciando os crimes do exército inglês, indiferente a possibilidade de ser expulso do país.

Voltou aos Estados Unidos em 1901, visitou Chicago e realizou conferências em importantes universidades e novamente no Instituto Lowell de Boston, onde falou sobre literatura russa, suas falas logo seriam publicadas como livro sob o título Ideais e realidades da literatura russa. Em Nova Iorque falou na Liga de Educação Política, e no Sindicato Cooper diante de 5000 pessoas e duas vezes em um local da Quinta Avenida. Também realizou discursos em Harvard e no Wellesley College. Além disso, assistiu diversas reuniões e atos organizados por seus amigos anarquistas, sempre muito concorridas e animadas. Retornou em maio para a Inglaterra e se dedicou integralmente a seus trabalhos teóricos, completando os últimos artigos de Mutualismo, finalmente publicado em 1902.

Suas crises de saúde, em especial suas infecções bronquiais, praticamente lhe impediram de voltar à vida pública. Em 1903 e 1904 expôs suas teorias geológicas na Sociedade Geográfica. Em 1904 publicou A necessidade ética da atualidade e em 1905 A moral da natureza. Nesse ano também sofreu um ataque cardíaco durante um ato de homenagem aos dezembristas, que quase acabou com sua vida. A Revolução russa de 1905 trouxe de volta Kropotkin aos assuntos de sua terra natal. Mas em julho recebeu a notícia da morte de seu amigo Élisée Reclus; Kropotkin escreveu artigos em sua memória para o Geographical Journal e para a Freedom. No outono de 1907 mudou-se para uma casa em High Gate, onde terminou os trabalhos teóricos pendentes, publicando em 1909 A Grande Revolução francesa, O terror na Rússia e entre 1910 e 1915 uma serie de artigos na The Nineteenth Century sobre ética e ajuda mútua, evolucionismo, e sobre herança biológica, tomando partido por um neolamarckismo e criticando as ideias de August Weismann. Estes artigos foram Evolução e Apoio mútuo, A ação direta do meio sobre as plantas, A resposta dos animais ao seu meio (1910), A herança de características adquiridas (1912), Variações herdadas entre as plantas (1914) e Variações herdadas entre os animais (1915).

Revolução Russa de 1905

nos últimos anos do século XIX o movimento anarquista iniciava uma certa florescência na Rússia, sendo apoiado pela atividade de grupos anarquistas russos emigrados e exilados na Suíça, na França e na Inglaterra. Em 1903 na cidade de Genebra passou a ser publicado o aperiódico Khleb i volia (Pão e Liberdade), que introduzido ilegalmente, tornou-se um meio de relativa influência na Rússia. Kropotkin e Varlaam Nikolaevich Cherkesov lhe deram seu apoio, escrevendo artigos sem assinatura. Se de um lado a influência teórica de Kropotkin entre os anarquistas na Rússia era evidente, em questões relacionadas à táticas e prática política concreta Kropotkin deles permanecia distante. Sua falta de posicionamento frente as táticas de guerrilha e expropriação (muitas vezes denominadas de terrorismo por estadistas e legalistas), contrastava com as práticas de muitos pequenos grupos anarquistas que atuavam no interior da Rússia, desestabilizando o regime czarista.

 

 

Revolucionários enfrentam as tropas czaristas na representação de Yaroslavl Malygin da Revolução Russa de 1905. Os escritos de Kropotkin serviram de inspiração para muitos destes revolucionários.

Advogou posteriormente pela expropriação enquanto tática, porque o povo livre fora aos armazéns e tomara a comida e as roupas que necessitavam, sempre racionalizando. Em relação à habitação refletiria da mesma forma. Os aluguéis deveriam ser suprimidos, as casas vazias seriam tomadas pelas famílias que viviam até então nas ruas. Aquele que tivesse casas livres, teria que cedê-las às pessoas que delas mais necessitavam.

Declarou que todos os homens e mulheres têm direito ao bem-estar social. Formulou ideias como a carga laboral de cinco horas por dia, tendo o resto do tempo livre para participar de tarefas lúdicas de interesse individual. As pessoas começariam a contribuir para a sociedade na idade de 25 anos e deixariam de fazê-lo aos 45.

Demonstrou também como um sem-número de associações funcionam sem a autoridade do estado, como a Cruz Vermelha e a Associação Inglesa de Resgate dos Náufragos (Lifeboat Associations). E também, como a evolução de todas estas associações foi vertiginosa, notória e celebrada por todos. Na visão de Kropotkin, ao invés de ser o defensor, o estado é o opressor e a causa de grande parte dos males infringidos às populações que governa.

Apresentou também uma nova e revolucionária ideia, de que o povo pode ser dotado de um espírito organizador. Pois como o povo, longe de ser uma massa de selvagens guiados por seu sentido comum, é capaz de trazer a nova ordem na ausência de todas as formas de autoridade.

Kropotkin se inclinava para o anarcossindicalismo, o movimento de massas e a participação nos sovietes (que na época eram assembleias populares, e não órgãos de autoridade partidária bolcheviques). As discussões táticas levaram os anarquistas russos a celebrar duas conferências, uma sendo realizada em Londres em dezembro de 1904 e a outra em outubro de 1906. Publicaram também um documento intitulado A revolução russa e o anarquismo em 1907. Neste documento teve forte presença o pensamento de Kropotkin, influenciado pelos acontecimentos revolucionários de 1905. A partir de então Kropotkin começou a pensar em retornar à Rússia para participar da luta contra a autocracia. Kropotkin - tal qual confessou a Max Nettlau - em suas horas livres praticava tiro ao alvo com um fuzil para se manter em forma, e participar nas lutas nas ruas caso pudesse voltar à Rússia.

Mas sua saúde seguia declinando e no outono de 1911 voltou a mudar de residência, se estabelecendo em Kemp Town, Brighton, sua última morada na Inglaterra. Por razões de saúde, fazia alguns anos que Kropotkin passava os invernos no exterior, para não sofrer as intempéries do clima. Nestas viagens visitou Paris e a região da Bretanha (França), Ascona, Bordighera e Rapallo na Itália, e Locarno na Suíça, cujo clima aliviava sua bronquite crônica. Em 1912 participou do Congresso Internacional de Eugenia em Londres, onde expôs pontos de vistas críticos contrários à esterilização de pessoas, tal medida era defendida na época por alguns cientistas. Nesse mesmo ano participou da campanha contra a deportação de Errico Malatesta para a Itália, conseguindo influenciar John Burns, um liberal que ocupava o cargo de ministro, para que ele suspendesse o processo. Em dezembro de 1912, ao cumprir 70 anos, recebeu homenagens emotivas e felicitações; uma delas foi celebrada no Palace Theatre de Londres, ocasião em que discursaram George Bernard Shaw, George Lansbury e Josiah Wedgwood, entre outros.

Após a revolução de 1905 o anarquismo na Rússia experimentou um rápido crescimento, surgindo dezenas de grupos diferentes por todo o país. As obras de Kropotkin começaram a ser editadas legal e ilegalmente, sua influência tornou-se cada vez maior entre os anarco-comunistas e anarquistas. O periódico dos emigrados do qual participava Kropotkin foi dissolvido e substituído pelo khleb i Volia listki, para o qual ele passaria a colaborar junto com Alexander Schapiro e Maria Goldsmith. No entanto, em junho de 1907 teve que abandonar esta publicação. Passou a se dedicar a traduzir para o russo grande parte de sua obra, como por exemplo o livro A Grande Revolução Francesa concluído em 1914. Kropokin colaborou também como redator para um periódico de russos anarquistas exilados chamado Rabochi Mir bem como para alguns números do jornal Khleb i volia que havia ressurgido em 1910 na cidade de Paris.

Primeira Guerra e o Manifesto dos Dezesseis

 

 

Jean Grave, co-autor junto com Kropotkin do Manifesto dos Dezesseis, e também um de seus principais defensores.

Durante os anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, rompendo com o tradicional antibelicismo dos anarquistas, Kropotkin tomou partido em favor da França Republicana em contraposição ao Império Alemão de Bismarck, considerado por ele a maior ameaça, já que pensava ser necessário fazer oposição de todas as formas à política extremamente militarizada de Alemanha com o objetivo de criar uma geopolítica. No início do conflito, houve uma cisão entre Kropotkin, Jean Grave e os anarquistas que apoiavam uma intervenção na guerra, com o movimento anarquista internacional, assumindo uma posição crítica - eram em grande parte velhos amigos seus, entre eles estavam Dumartheray, Herzig e Bertoni Luigi. Esta atitude o levou a uma disputa com os membros da revista Freedom, que publicaram uma carta de Malatesta na qual tecia críticas demolidoras dirigidas ao belicismo de Kropotkin, que representava a opinião majoritária do movimento anarquista.

"Na Freedom, em novembro de 1914, encontramos artigos de Kropotkin, Jean Grave, Cherkesov e uma carta do anarquista Verleben, todos eles com argumentos sobre os motivos pelos quais os anarquistas deviam apoiar a causa dos Aliados. Uma contribuição de Malatesta estava destinada a rechaçar os raciocínios dos autores citados: “os anarquistas têm esquecido de seus princípios"

—Vernon Richards, Malatesta: pensamiento y acción revolucionarios, p.210

 

 

Errico Malatesta, um dos anarquistas que publicamente refutaram o apoio dos dezesseis libertários aos Estados Aliados na Primeira Guerra.

Após uma violenta discussão com Thomas Keell, diretor da revista Freedom, Kropotkin, Varlaam Cherkesov, Sofia e outros anarquistas favoráveis aos Aliados abandonaram o grupo editorial do qual eram fundadores. Quase todos os anarquistas manifestaram seu rechaço à guerra e seu desacordo com Kropotkin, que foi apoiado por Jean Grave, James Guillaume, Paul Reclus, Charles Malato, Christiaan Cornelissen; estes firmaram uma declaração belicista conhecida como o Manifesto dos Dezesseis, e editaram seu próprio periódico, La Bataille Syndicaliste (A Batalha Sindicalista). Este manifesto foi também respondido por outro manifesto de oposição à guerra, assinado por Malatesta, Shapiro, Emma Goldman, Alexander Berkman, Thomas Keell e Rudolf Rocker, entre outros. Pouco depois manifestariam também suas crítica ao grupo de anarquistas belicistas Luigi Fabbri, Émile Armand e Sébastien Faure.

"E em 1916 Malatesta responde das colunas editoriais da Freedom ao “Manifesto em favor da guerra” assinado por Kropotkin, Jean Grave, Malato e outros treze “velhos companheiros”: reconhece a “boa fé e intenções” dos autores e as põe “fora de dúvida”, mas afirma que deve dissociar-se de “companheiros que se consideram capazes de conciliar as ideias anarquistas com a cooperação dos governos e as classes capitalistas de certos países em sua luta contra os capitalistas e governos de certos outros países”

—Vernon Richards, Malatesta: pensamento e ação revolucionários, p.212.

Kropotkin e seu grupo acabaram praticamente isolados, não só dentro do movimento anarquista, mas também do movimento socialista em geral. A posição de Kropotkin foi oportunamente utilizada por Lenin para qualificá-lo de pequeno-burguês e patriota, e assim poder atacar os anarquistas, em sua grande maioria contrários à guerra. Kropotkin perdeu contato com seus velhos amigos anarquistas e se tornou um recluso em sua residência, até março de 1917 quando chegaram as primeiras notícias sobre a queda do czarismo russo.

Retorno a Rússia e morte

 

Kropotkin em sua passagem pela cidade de Haparanda em 1917.

Após a Revolução de Fevereiro Kropotkin decidiu retornar à Rússia, entusiasmado pelo giro dos acontecimentos. Em meados de 1917 embarcou anônimo em Aberdeen com destino a Bergen (Noruega), mas apesar do sigilo foi recebido por uma manifestação de trabalhadores e estudantes. Passando pela Suécia e pela Finlândia ingressou na Rússia depois de 41 anos. Durante toda a viagem recebeu manifestações de apoio e carinho por cada aldeia que passava. Chegou em Petrogrado de trem às duas da madrugada, e lá foi recebido na estação por um regimento militar, e uma banda tocandoLa Marseillaise e uma manifestação de boas vindas de mais de 70.000 pessoas.

Este período se caracterizou por uma frenética participação em eventos, palestras e reuniões, que afetaram gravemente sua saúde. Mas não recomposta plenamente sua relação com boa parte do movimento libertário, Kropotkin continuava a insistir que a guerra asseguraria as conquistas da revolução "o que o levou a situações e companhias ambíguas". A imensa maioria dos anarquistas não apoiavam a guerra, razão pela qual manteve relações ocasionais com os mencheviques, e outros partidos constitucionalistas belicistas apartados do setor revolucionário. Kerensky lhe ofereceu um cargo no governo, uma farta pensão mensal e residência no Palácio de Inverno, mas Kropotkin recusou a oferta com dignidade, ainda que não tenha recusado participar de seus conselhos informalmente.

 

Por vezes Kropotkin encontrou-se com Lenin para lhe apresentar críticas e sugestões em relação ao processo revolucionário soviético. O líder bolchevique utilizaria tais reuniões como indício de apoio de Kropotkin à suas políticas, desconsiderando todas suas colocações.

Em agosto abandonou a frenética Petrogrado e se estabeleceu em Moscou, participando pouco depois na Conferência de Estado de todos os partidos como orador, onde manifestou suas críticas às políticas bolcheviques, e a favor da continuidade da guerra e da constituição de uma república federal. Estas manifestações reformistas e moderadas foram utilizadas pelos bolcheviques para desacreditar Kropotkin e contra-golpear os anarquistas. A Revolução de Outubro acabou com o governo de Kerensky, assumindo o poder os bolcheviques. No fim da guerra e a radicalização do movimento de massas acabaram com desconcerto ideológico que havia se apoderado de Kropotkin desde seu apoio à Entente, e retomou seus princípios anarquistas. Se dedicou a trabalhar na Liga Federalista, um grupo de estudiosos das problemáticas sociológicas que impulsava o federalismo e a descentralização, produzia e divulgava dados estatísticos e estudos ao público, mas em meados de 1918 foi suprimido pelas autoridades bolcheviques. Apesar de Kropotkin não ter sido pessoalmente afetado pois a repressão (já que o consideravam inofensivo), os bolcheviques iniciaram sua repressão não somente contra os opositores mencheviques e social-revolucionários, mas também contra os grupos, organizações e periódicos anarquistas, que haviam apoiado o movimento de massas na Revolução de Outubro. Esta situação e o fim da guerra, fez com que os grupos anarquistas russos se aproximassem novamente, Kropotkin restabeleceu boas relações com Gregori Maximoff, Volin e Alexander Shapiro. Na primavera de 1918 Kropotkin foi visitado por Nestor Makhno, líder dos camponeses anarquistas da Ucrânia. Em Dmitrov ficou responsável pela reorganização do museu local, e se esforçou para concluir seu livre Eticas (que apesar de seus esforços permaneceria inacabado devido aos seus problemas de saúde. Apesar de sua oposição aos bolcheviques, Kropotkin recusou a apoiar quaisquer formas de intervenção dos Aliados ocidentais nos assuntos russos. No início de maio 1919 reuniu-se com Lenin, em Moscou, e fez uma defensa das cooperativas que os bolcheviques atacavam, e criticou também os métodos coercitivos e a burocracia dos bolcheviques, ainda que o tom geral da reunião fora cordial. Mais adiante escreveria para Lenin em três ocasiões distintas em tons cada vez menos cordiais, suas petições e críticas nunca foram sequer consideradas.

"Lenin não se compara a nenhuma figura revolucionária na história. Revolucionários tinham ideais. Lenin não tem nada." [...] "Vladimir Ilyich [Lenin], suas ações concretas são completamente contrárias às ideias que você finge sustentar."

— P. Kropotkin

Os métodos bolcheviques fizeram com que Kropotkin endurecesse suas críticas. Esta atitude foi testemunhada pelos visitantes Alexander Berkman, Emma Goldman, Alexander Shapiro, Ángel Pestaña e Agustín Souchy Bauer e pelas cartas que escreveu a Georg Brandes e a Alexander Atabekian. Escreveu em junho de 1920 uma "Carta aos trabalhadores do mundo ocidental" onde expôs suas concepções anarquistas e suas críticas lúcidas à Revolução. Também em 1920 escreveu uma dura carta a Lenin reprovando-lhe a prática de ameaçar com a execução os prisioneiros de guerra para proteger-se de seus oponentes.

 

 

Kropotkin em seu leito de morte

"notícias tem aparecido nos jornais Izvestia e Pravda anunciando a decisão do governo soviético de tomar como reféns a alguns membros dos grupos Cherkov e Savinkov do Partido Social-Democrata, do centro tático nacionalista do Exército Branco, e a oficiais de Wrangel, para que, caso uma tentativa de assassinato seja cometida contra cento e oito líderes dos sovietes, sejam "exterminados sem piedade", tais reféns. Será que não há ninguém entre vocês que recorde a seus camaradas e lhes convença de que tais medidas representam um retorno ao pior período da Idade Média e das guerras religiosas, e é totalmente decepcionante, atitude de gente que deu as costas para a criação da sociedade em consonância com os princípios comunistas? Qualquer pessoa que deseje o futuro do comunismo não pode compactuar com tais medidas... Penso que devem tomar em conta que o futuro do comunismo é mais precioso do que suas próprias vidas. E me alegraria se com estas reflexões renunciassem a este tipo de medidas. Ainda que com todas estas deficiências muito sérias, a revolução de outubro trouxe um enorme progresso. Foi demonstrado que a revolução social não é impossível, coisa que pessoas da Europa Ocidental já começam a pensar, e que apesar de seus defeitos está trazendo algum progresso em direção à igualdade. Por que então golpear a revolução empurrando-a para um caminho que a levará a sua destruição, sobretudo por falhas que não são inerentes ao socialismo ou ao comunismo, será que isso não representa a sobrevivência da velha ordem e dos efeitos destrutivos da onívora autoridade ilimitada?

—P. Kropotkin

Em novembro sua saúde se deteriorou mais ainda, no dia 23 daquele mês escreveu aquela que seria a sua última carta para o anarquista holandês P. de Reyger. Em janeiro, pegou uma pneumonia que o deixou de cama até o fim dos seus dias. Apesar dos cuidados médicos, faleceu às três horas da madrugada do dia 8 de fevereiro de 1921 em Dmitrov.

Funeral multitudinário

Oradores no funeral: Goldman, Baron, Maximoff e Berkman

Multidão acompanhando ao cortejo fúnebre de Kropotkin com bandeiras negras.

Cortejo fúnebre de Kropotkin passando em frente ao Museu Tolstoi.

O governo bolchevique ofereceu um funeral oficial a Kropotkin, mas sua família e amigos libertários recusaram a oferta. Os grupos anarquistas russos formaram uma comissão fúnebre para organizar a cerimônia, entre outros faziam parte dela Alexander Berkman, Emma Goldman e Alexandra Kropotkin. As autoridades locais permitiram apenas a edição de dois folhetos em sua memória que deviam passar pela censura prévia, mas os anarquistas desobedeceriam a ordem, reabriram uma imprensa fechada pela polícia política Cheka e editaram os folhetos sem qualquer censura.

Centenas de trabalhadores, estudantes, camponeses, funcionários e soldados se dirigiram à pequena casa de Kropotkin para despedirem-se do velho revolucionário. As escolas permaneceram fechadas em sinal de luto e as crianças levavam ramos de pinheiro ao caminho da comitiva que transportava o corpo de Kropotkin. O ataúde foi levado à estação ferroviária, e dali de trem para Moscou. Uma multidão recebeu o cortejo e o acompanhou até o Palácio do Trabalho. Os anarquistas pressionaram o governo para os anarquistas detidos fossem provisoriamente liberados e que lhes permitisse participar da celebração. Kamenev lhes prometeu liberar aos detidos se em troca os anarquistas não convertessem o cerimonial em uma manifestação de repúdio ao governo. Na metade do ato chegaram apenas sete dos anarquistas detidos, entre os quais se encontravam Aarón Baron e Gregori Maximoff.

A multidão de mais de cem mil pessoas acompanhou o cortejo os 8 quilômetros do percurso até o Cemitério Novodévichi. Os seguia uma orquestra que executava a Sinfonia Patética de Tchaikovsky. Centenas de bandeiras de partidos políticos, sociedades científicas, sindicatos e organizações estudantis estavam hasteadas entre os concorrentes. Também flamejavam as grandes bandeiras negras dos anarquistas, nas quais haviam sido bordadas mensagens: "Onde há autoridade não há liberdade" e "Os anarquistas exigem a liberação das prisões do socialismo." No Museu Tolstoi também encontrava-se hasteada a bandeira negra, e ao passar os manifestantes pela Prisão de Butirka, os presos políticos estendiam os braços pelas janelas gradeadas para saudá-lo. Uma vez no cemitério, os oradores foram pronunciando suas homenagens; o último à falar foi Aarón Barón, um dos anarquistas presos liberados provisoriamente, que audazmente protestou contra o governo bolchevique, as prisões e as torturas contra os revolucionários opositores.

O funeral de Kropotkin é considerada por alguns historiadores dos movimentos libertários como a última manifestação massiva do anarquismo russo ocorrida na União Soviética.

Ideais e reflexões

Anarquismo comunista                                                                                                       

O "A" No círculo rubro-negro, um dos símbolos do anarquismo comunista.

A base de tal concepção encontra-se na ideia de que o critério para o consumo (tanto de bens quanto de serviços) dos indivíduos não seja o trabalho, mas a necessidade. Kropotkin advogava assim um sistema de distribuição livre da produção, conceito este que está ligado ao raciocínio de que não é possível medir a contribuição isolada de um indivíduo na produção social, e que, portanto, uma vez realizada, toda ela deva ser desfrutada socialmente.

"Cada descobrimento, cada progresso, cada aumento da riqueza humana é o resultado do trabalho intelectual e físico feito no passado e no presente. Assim sendo, por que alguém pode ter direto à propriedade de mais pequena parte deste enorme todo, e dizer isto é meu, e não teu?"

—Kropotkin, A Conquista do Pão

Kropotkin vê, socialista que é, a coletivização dos meios de produção como o objetivo da transformação social, mas, diferentemente de alguns, infere que a este fenômeno seguiriam como consequência inevitável a distribuição livre e a extinção de qualquer sistema de salários. Numa tal sociedade a produção seria orientada para o consumo e não para o lucro. E Kropotkin vai além em suas considerações sobre esta outra forma de sociabilidade ao vislumbrar uma ciência dedicada a descobrir meios para conciliar e satisfazer as necessidades de todos

"...Pois, no dia em que as antigas instituições forem despedaçadas sob o machado do proletariado, vozes serão ouvidas gritando: Pão para todos! Casa para todos! Direito para todos à uma vida confortável! E essas vozes serão ouvidas. O povo dirá para si mesmo: Vamos começar satisfazendo nossa sede pela vida, a alegria da liberdade que jamais havíamos conhecido. E então após todos experimentarem a felicidade, começaremos a trabalhar; o trabalho de demolição dos últimos vestígios do domínio da classe-média, com sua moralidade calculada, sua filosofia do débito e do crédito, suas instituições de minas e brilhantes...".

—Pyotr Kropotkin, A Conquista do Pão

Ao problema que se levanta quando se pensa a distribuição livre, Kropotkin não vê aí uma abertura para a instauração de um governo revolucionário, pelo contrário, diz ser a cooperação voluntária o substituto tanto para a propriedade privada quanto para a desigualdade, categorias nas quais se fundamentam o Estado. Neste sentido, Kropotkin defende um sistema de administração pública fundada na ideia de comuna não apenas enquanto unidade administrativa mais próxima do povo e de suas preocupações imediatas, mas também enquanto associação voluntária que reúne os interesses sociais representados por grupos de indivíduos diretamente ligado a eles. A união destas comunas produziria uma rede de cooperações que substituiria o Estado.

Naturalismo

Em sua faceta de naturalista, Piotr Kropotkin difundiu a importância da cooperação como fator chave na evolução paralelo à competição. Kropotkin esboçou em seu mais famoso trabalho Mutualismo: Um Fator de Evolução os princípios gerais da mutualidade entre e humanos, a partir de suas pesquisas nas expedições científicas à Sibéria. Esta obra foi escrita inicialmente em inglês e em francês e rapidamente tornou-se popular em outros idiomas como o espanhol, atualmente podem ser encontrados exemplares de seus escritos em múltiplos idiomas.

Em Mutualismo Kropotkin faz contraposição às ideias de Thomas Henry Huxley e de Herbert Spencer (considerado por muitos o pai do darwinismo social) que baseados na seleção natural defendiam a necessidade de competição entre indivíduos e grupos sociais para o processo de evolução de uma sociedade. Outro argumento do darwinismo social ao qual Kropotkin fez frente foi a ideia de que a competição entre diferentes sociedades permitiria com que as melhores se sobressaíssem e as piores definhassem e desaparecessem.

Legado

Monumentos e pinturas

Em Dmitrov, cidade natal de Kropotkin há um monumento erigido em frente ao antigo casarão de sua família, casarão este que até 1942 serviu de museu em sua memória. Tendo o edifício original vindo abaixo na década de 1960 ele foi reconstruído recentemente com a finalidade de novamente servir de museu em sua memória. Kropotkin foi retratado em estilo expressionista lírico em enamel, pelo artista estadunidense Bernard Re Jr, em novembro de 2004. A imagem do teórico russo foi também estilizada por Patrick St. John. Nesta imagem o busto de Kropotkin é acompanhado do termo "ajuda mútua" (mutual aid). Neste mesmo estilo St. John retratou também ao mexicano Emiliano Zapata e a oradora Emma Goldman.

Na sede da Editora Freedom Press no bairro londrino de Whitechapel um desenho de Kropotkin figura entre os desenhos de outros anarquistas notáveis.

No cinema e na música

Uma foto de Kropotkin junto com imagens de Bakunin e Proudhon é exibida atrás da mesa na reunião da Sociedad Obrera no filme La Patagonia Rebelde de 1974. Também neste mesmo filme um de seus personagens cita Kropotkin nominalmente nesta mesma cena da reunião "Bem dizia Kropotkin que a revolução…".

A banda de punk rock e delta blues The Kropotkins tem este nome em homenagem ao grande teórico anarquista russo do século XIX. Junto com outros grandes anarquistas, Kropotkin aparece na colagem de imagens antigas que dá forma ao videoclipe da música Catbird Seat da banda de post-rock estadunidense The Silent League. A banda belga de percussão industrial Militia homenageia o príncipe anarquista com a música conrade Pyotr Kropotkin, assim como o grupo francês les Baudouins Morts na canção Do de Kropotkin.


 

Ver também

 

Portal da Anarquia

Mikhail Bakunin

Emma Goldman

Gregori Maximoff

William Godwin

Liev Tolstói

Referências

 Na Rússia czarista o título de príncipe designava a um nobre da alta aristocracia, normalmente aparentado com a família real. Não se trata, pois, do sentido usual de príncipe em outros países. Veja príncipe.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 42-46.

 P. Kropotkin; Memórias de um revoluciánario

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 60-63.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 68-69

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 66.

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 76-80

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 84-87

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 90-91

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 90-94

Historia de la vida de Kropotkin, por Roger Baldwin, en: Kropotkin's Revolutionary Pamphlets. R.N. Baldwin, ed. Vanguard Press, Inc. 1927

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 109-110

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 112-116

 P. Kropotkin; Memórias de um revolucionário.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 128

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 132.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 134.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 144-146.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 157-158.

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 164-166.

 Ver, George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p.166.

 também conhecido como A Internacional Anarquista

 Tomado de George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p.168.

 Expressão francesa que a época definia toda ação direta violenta focada em algum símbolo ou pessoa que represente o poder do estado ou da burguesia

 Ver George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 178-179. Este artigo pode ser encontrado em.

 Segundo George Woodcoock e Ivan Avakumovic (El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 180-182) nem todos os consultados aceitaram assinar a petição, sendo o rechaço mais significativo o de Thomas Henry Huxley.

 

"Ao terminar o primeiro ano, no entanto, voltei a ressentir-se em minha saúde. Clairvaux estava edificado sobre áreas pantanosas, nos quais a malária é endêmica, e ela e o escorbuto se apoderaram de mim. Então minha esposa, que fazia seus estudos em Paris, trabalhando no laboratório Würtz e preparando-se para as provas do doutorado em ciências, abandonou a tudo e veio para a pequena aldeia de Clairvaux, que se compunha de menos de uma dúzia de casas agrupadas aos pés do muro imensamente elevado que rodeava a prisão"

—P. Kroptkin; Memorias de un revolucionario

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 183).

 Emily Talen,Beyond the Front Porch: Ideais Regionalista no Novo Urbanismo Movimento. Journal of Planning History, 2008, 7, 20.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 203-204).

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 212).

 Ver Angel Cappelletti, Prólogo a El apoyo mutuo de P. Kropotkin.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 221).

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 222-223).

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 231).

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 241).

 As bandeiras vermelhas são em parte um anacronismo, através do qual o pintor soviete autor do quadro em 1929, simula naquele momento passado a ampliação da influência bolchevique de sua época, ainda que de fato ela não fosse ainda majoritária entre os revolucionários.

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 317-326

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 327).

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 242

 Segundo Woodcock, "uma falha de conceito que lhe permitiu identificar pessoas com Estados e pensar em termos nacionais, ao invés de fazê-lo em termos internacionais do pensamento anarquista, e tendo aceitado este fundamento falso, seu raciocínio era claro "(George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 336 ). Quase todos os anarquistas europeus e russos foram contrários à guerra.

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 274

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 341

 É dito que suas palavras exatas foram: "Eu considero o ofício de lustra-botas a mais honrosa e útil das profissões" (George e Ivan Woodcoock Avakumovic,O príncipe anarquista.Ed Jucar, 1978, p. 354).

 George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 353

 Segundo Woodcock, "o mais provável é que o objetivo principal de Lenin fosse assegurar o nome de Kropotkin como apoiador naqueles dias difíceis para os bolcheviques, especialmente considerando que uma declaração de parcialidade por parte de Kropotkin ajudaria a debilitar o prestigio de Makhno na Ucrânia." George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 369

 BlackCrayon.com: People: Peter Kropotkin

George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 385-386; Paul Avrich, Los anarquistas russos, Alianza Editorial, 1974, p.232

Paul Avrich, Los anarquistas rusos, Alianza Editorial, 1974, p.232

El funeral de Kropotkin, Homenagem da Federação Local dos Sindicatos de Madrid

 Uma descrição mais detalhada do funeral encontra-se em George Woodcoock e Ivan Avakumovic; El Príncipe anarquista. Ed. Jucar, 1978, p. 385-388

 Lyrical Expressionist Enamel Paintings - By Bernard Re, Jr.

 Mulatta Records: The Kropotkins "Five Points Crawl"

 The Silent League – The Catbird Seat – Vídeos, transmissões e estatísticas na Last.fm:

 Militia – Comrade Pyotr Kropotkin – Transmissões e estatísticas na Last.fm

 les Baudouins Morts – Doe De Kropotkin – Transmissões e estatísticas na Last.fm

Bibliografia

WOODCOCK, G. História das ideias e movimentos Anarquistas. Porto Alegre: Ed. L&PM Pocket, 2002.

KROPOTKIN, P. A Anarquia: sua filosofia, seu ideal. Coleção Escritos Anarquistas. São paulo Ed. Imaginário, 2001.

KROPOTKIN, P. O Estado e seu papel histórico. Coleção Escritos Anarquistas. São paulo Ed. Imaginário, 2000.


 

Anarquismo (do grego ν (ausência de) + ρχειν (de governo) + ισμός (do termo -ιζειν), "sem arcontes," "sem governantes") é uma filosofia política fundamentada em teorias e atitudes que apóiam a obsolescência de todas as formas de governo e coerção, uma vez que estas encontram-se fundamentalmente ancoradas em princípios e práticas autoritárias. Apesar dos termos anarquista e anarquismo serem utilizados pejorativamente para designar libertários em diferentes contextos desde a antiguidade, o primeiro anarquista auto-declarado foi Pierre-Joseph Proudhon em sua obra O que é a propriedade? de 1840. Essencialmente formulado como filosofia política cujo princípio é a busca pela harmonia coletiva através da soberania pessoal, o anarquismo inspirou o surgimento de diversos modelos econômicos ao longo dos séculos XIX e XX. Nos séculos anteriores, como na atualidade, libertários foram ativos em um amplo espectro de movimentos de libertação. Envolveram-se no movimento pela abolição da escravidão e após esta ser alcançada seguiram atuando contra todas as formas de exploração de humanos por humanos. Como antes militam em movimentos sindicais pelos direitos dos trabalhadores atuando também pela criação e defesa dos direitos e liberdades civis. Se engajam na luta por espaço e autonomia das minorias, sejam estas raciais, étnicas ou de gênero. Se posicionam contra todas as formas de racismo, heterossexismo e antiindigenismo. São igualmente ativos na defesa do meio ambiente, na luta contra o especismo em favor da libertação animal. Atuam historicamente em favor da libertação feminina se envolvendo também desde longa data em movimentos antinacionalistas, antimilitaristas, anticlericais e antiproibicionistas.

 

Nascido François Claudius Koeningstein, mais conhecido como Ravachol, (Saint-Chamond, 14 de Outubro de 1859Montbrison, 11 de Julho de 1892) foi um dos mais famosos anarquistas ilegalistas franceses, tornando-se a seu tempo o arquétipo do "anarquista lançador de bombas" através de suas ações diretas violenta contra a corrupta Terceira República Francesa.

A partir de uma perspectiva legalista e capitalista entrou para história como um dos grandes terroristas do fim do século XIX. Chamado no meio anarquista de "voz da dinamite", Ravachol foi a personificação do revolucionário que se contrapunha a moralidade burguesa, tida por ele como uma forma de preconceito sempre em desfavor aos pobres. Nesse sentido, não admitia limites para a ação revolucionária, considerando a propriedade e o estado imorais. Daí justificava seus atos que por muitos foram considerados criminosos, empregados como forma de sobrevivência e apoio à causa anarquista em favor da superação do capitalismo.

Banco de artigos destacados

Ocorre que não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo. Daí porque, se estamos iludidos a esse respeito, essa ilusão é o maior bloqueio para a obtenção do conhecimento. Como já disse alguém, não há melhor prisão do que aquela que não se parece com uma.                         Júlio César Burdzinski

Banco de citações

"Nem gênero, nem mestre" - O anarco-queer é uma das vertentes do anarquismo que foca suas críticas e esforços na promoção de princípios igualitários e libertários entre transgêneros, homo e bissexuais contra o heterossexismo.

 

FILMES

Ácratas (2000)

Anarchism in America (1983)

Los anarquistas (1983)

La actividad guerrillera (2002)

B

Breaking the Bank (2001)

Breaking the Spell (2001)

Brad, uma Noite Mais nas Barricadas (2008)

Buenaventura Durruti, anarquista (2000)

C

A Corporação (2003)

D

Durruti en la revolución española (1996)

E

Emma Goldman: An Exceedingly Dangerous Woman (2003)

Emma Goldman: The Anarchist Guest (2000)

En la brecha (1937)

Essa É a Cara da Democracia (2000)

La estrategia del caracol (1993)

F

Francisco Ferrer y Guardia, uma vida pela liberdade (1909)

The Free Voice of Labor: The jewish anarchists (2003)

G

Genova Libera (2003)

I

In Prison My Whole Life (2007)

L

Louise-Michel (2008)

Libertárias (1996)

M

Manufacturing Consent (1992)

Memória Subversiva, Anarquismo e Sindicalismo em Portugal

The Miami Model (2003)

Mujeres del 36 (1999)

N

Ni vieux, ni traîtres (2006)

No Passaron (2003)

O

Ovelhas Negras (2007)

30 Quadros por Segundo: A OMC em Seattle (2000)

P

Pickaxe (1999)

A Place Called Chiapas (1998)

Presas de Franco

Pode a dialética quebrar tijolos? (1973)

Potencialidades de um paraíso tempestuoso (2009)

Q

Quarta Guerra Mundial (2004)

R

Reclaim the Streets

S

Sacco & Vanzetti (2006)

A Sociedade do Espetáculo (1967)

Squating (2004)

Steal this Film (2006)

Still We Ride (2004)

Storm from the Mountain (2003)

Surplus (2003)

K

Koyaanisqatsi (1983)

T

The Take (2004)

There Is No Authority But Yourself (2006)

Terrorists: The Kids They Sentenced (2003)

Tornallon

V

Vivir la utopía (1997)

Z

Zapatista (1999)

 

 

 

 

O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral. Karl Marx postulou que o comunismo seria a fase final na sociedade humana, o que seria alcançado através de uma revolução proletária. O "comunismo puro", no sentido marxista refere-se a uma sociedade sem classes, sem Estado e livre de opressão, onde as decisões sobre o que produzir e quais as políticas devem prosseguir são tomadas democraticamente, permitindo que cada membro da sociedade possa participar do processo decisório, tanto na esfera política e econômica da vida.

Como uma ideologia política, o comunismo é geralmente considerado como a etapa final do socialismo, um grupo amplo de filosofias econômicas e políticas que recorrem a vários movimentos políticos e intelectuais com origens nos trabalhos de teóricos da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. O comunismo pode-se dizer que é o contrário do capitalismo, oferecendo uma alternativa para os problemas da economia de mercado capitalista e do legado do imperialismo e do nacionalismo. Marx afirma que a única maneira de resolver esses problemas seria pela classe trabalhadora (proletariado), que, segundo Marx, são os principais produtores de riqueza na sociedade e são explorados pelos capitalistas de classe (burguesia), para substituir a burguesia, a fim de estabelecer uma sociedade livre, sem classes ou divisões raciais. As formas dominantes de comunismo, como Leninismo, Maoísmo são baseadas no Marxismo, embora cada uma dessas formas tenha modificado as ideias originais, mas versões não-marxistas do comunismo (como Comunismo Cristão e anarco-comunismo) também existem.

Karl Marx nunca forneceu uma descrição detalhada de como o comunismo poderia funcionar como um sistema econômico (tal foi feito por Lenine), mas subentende-se que uma economia comunista consistiria de propriedade comum dos meios de produção, culminando com a negação do conceito de propriedade privada do capital, que se refere aos meios de produção, na terminologia marxista. No uso moderno, o comunismo é muitas vezes usado para se referir ao Bolchevismo, na Rússia, ou do Marxismo-Leninismo, designação mais empregue, noutros países. Como um movimento político, o sistema comunista teve governos, em regra, com uma preocupação de fundo para com o bem-estar do proletariado, segundo o princípio "a cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas capacidades".

Introdução

As doutrinas comunistas mais antigas, anteriores à Revolução Industrial, punham toda ênfase nos aspectos distributivistas, colocando a igualdade social, isto é, a abolição das classes e estamentos, como o objetivo supremo. Com Karl Heinrich Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), fundadores do chamado "socialismo científico", a ênfase deslocou-se para a plena satisfação das necessidades humanas, possibilitada pelo desenvolvimento tecnológico: mediante a elevação da produtividade do trabalho humano, a tecnologia proporcionaria ampla abundância de bens, cuja distribuição poderia deixar de ser antagônica, realizando-se a igualdade numa situação de bem-estar geral.

A partir dessa formulação, que teve uma profunda influência sobre o comunismo contemporâneo, a sociedade comunista seria o coroamento de uma longa evolução histórica. Os regimes "anteriores", principalmente o capitalismo e o socialismo, cumpririam o seu papel histórico ao promover o aumento da produtividade e, portanto, as pré-condições da abundância, que caberia ao comunismo transformar em plena realidade. Enquanto o capitalismo desempenha esse papel mediante a emulação da concorrência, o socialismo deveria manter, em certa medida, essa emulação ao repartir os bens ainda escassos "a cada um segundo o seu trabalho". Só o comunismo, que corresponderia ao pleno "reino da liberdade e da abundância", poderia instaurar a repartição segundo o princípio de "a cada um segundo sua necessidade".

Um planejamento geral

O comunismo contemporâneo pretende preservar e superar todo progresso tecnológico, conquistado através do capitalismo, mediante um sistema de planejamento geral, no qual as múltiplas decisões, tomadas de acordo com o mecanismo de mercado no capitalismo, sejam adotadas de forma deliberada segundo critérios que permitam maximizar a satisfação das necessidades de toda a sociedade.

Segundo a doutrina comunista, o mecanismo de mercado apresenta graves defeitos como regulador da produção e da distribuição, pois impede a plena utilização de todos os recursos disponíveis e promove desigualdade entre os que tem e os que não tem acesso à propriedade. Os críticos do comunismo, baseados na observação dos problemas que surgiram nos países socialistas, apresentam dois argumentos: I) o mecanismo do mercado não pode ser inteiramente substituído pelo planejamento numa sociedade que adota extensa divisão social do trabalho, na qual dezenas de milhares de produtos diferentes tem que ser repartidos entre milhões de pessoas, cujas necessidades diferem de acordo com suas características de sexo, idade, origem cultural e idiossincrasias pessoais; II) o planejamento geral, ao não tomar em consideração as necessidades e vontades dos consumidores, requer uma férrea ditadura, em que as liberdades individuais devem ser abolidas, não só no terreno econômico como no político.

A aplicação prática dos princípios comunistas tem sido tentada desde a mais remota antiguidade. Certas sociedades tribais viviam em comunismo, não devido à sua elevada produtividade, mas em virtude de sua pobreza. É o chamado "comunismo primitivo". Há notícias de numerosos grupos sociais que se isolam da sociedade inclusiva e se organizam de acordo com princípios comunistas. O sucesso desses grupos se limita, em alguns casos, à sua autopreservação. Em nenhum caso conseguiram eles estender os princípios de sua organização às sociedades nacionais das quais fazem parte.

Transformação pelo poder

A instauração do comunismo foi feita em alguns países - União Soviética e República Popular da China são os principais - por movimentos e partidos que, adeptos da doutrina comunista, procuraram transformar a sociedade mediante a conquista revolucionária do poder político. Em outros países o comunismo foi imposto pela União Soviética ao final da Segunda Guerra Mundial, formando-se o bloco socialista, incluindo Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Albânia e Alemanha Oriental. Outros países, pertencentes ao Terceiro Mundo (como a Argélia), passaram a integrar o bloco socialista em decorrência das chamadas guerras de libertação nacional. Como passo inicial, eles tem promovido a estatização dos meios de produção (fábricas, fazendas, etc.) e de distribuição (transporte, comércio), instaurando diferentes sistemas de planejamento que variam, segundo o país e o momento, no seu grau de países, no entanto, os mecanismos de mercado foram inteiramente abolidos.

As tentativas de aplicar o planejamento geral esbarraram com dificuldades que, em parte, eram esperadas e que se acentuam na medida em que a melhoria do nível de bem-estar permitia a elevação e a diversificação das aspirações. Quando tais dificuldades foram sendo reconhecidas, novas modalidades de planejamento foram desenvolvidas. Essas novas modalidades procuram combinar, de diferentes maneira, o planejamento com mecanismos de mercado. A procura de critério objetivos de avaliação de eficiência e de incentivos ao aumento da produtividade tem levado a um significativa diferenciação entre os chamados "regimes comunistas". Enquanto alguns, como o da Iugoslávia, recorreram ao mecanismos de mercados, restringindo a área do planejamento e recorrendo crescentemente a incentivos materiais, outros, como o da China, restringem a ação dos mecanismos de mercado e dão ênfase cada vez maior aos incentivos psicológicos e à criação de padrões de conduta segundo uma ética revolucionária.

Terminologia

O comunismo é o modo de produção em que a sociedade se libertaria da alienação do trabalho, que é a forma de alienação que funda as demais, onde a humanidade se tornaria emancipada, tendo o controle e consciência sob todo o processo social de produção. Em outras palavras, o comunismo é o "trabalho livremente associado", nas palavras do próprio Karl Marx. Enquanto no capitalismo o trabalho é livremente comercializado, enquanto mercadoria, na sociedade comunista, com a socialização dos meios de produção, o trabalho deixaria de ser um aspecto negativo e passaria a ser positivo, isto é, o trabalho seria a afirmação do prazer, dado a abundância de produtos e o desenvolvimento da produtividade do trabalho, que faria com que pudéssemos trabalhar cada vez menos, com processos de mecanização e controle racional, levando em consideração a questão da natureza.

Em uma sociedade comunista não haveria governos estatais ou países e não haveria divisão de classes, pelo contrário, a sociedade seria auto-gerida democraticamente, entretanto não na forma política e sim através da atividade humana consciente. No Marxismo-Leninismo, o Socialismo é um modo de produção intermediário entre capitalismo e comunismo, quando o governo está num processo de transformar os meios de produção de privados para sociais.

Então seria possível para as pessoas acreditarem numa sociedade comunista sem necessariamente utilizar da via proposta por Karl Marx, por exemplo utilizando o comunismo-religioso ou anarco-comunismo. Mas obviamente, para alcançar a emancipação humana há os obstáculos promovidos pela classe dominante, no caso, a burguesia, que detém todos os meios contra a revolução socialista.

Utópicos

Ver artigo principal: Socialismo utópico

As ideias comunistas desenvolveram-se a partir dos escritos dos chamados socialistas utópicos, como Robert Owen, Charles Fourier e Saint-Simon.

Robert Owen foi o primeiro autor a considerar que o valor de uma mercadoria deve ser medido pelo trabalho a ela incorporado, e não pelo valor em dinheiro que lhe é atribuído. Charles Fourier foi o primeiro a defender a abolição do capitalismo e sua substituição por uma sociedade baseada no comunismo. Enquanto isso, o Conde de Saint-Simon propôs em 1802 a formação de uma sociedade onde não houvesse ociosos (como ele se referia aos militares, religiosos, nobres e magistrados) nem a exploração econômica de grupos de indivíduos por outros. Todos estes autores, entretanto, propunham a mudança social através da criação de comunidades rurais auto-suficientes por voluntários. Estes autores não consideraram que a sociedade estaria dividida em classes sociais com interesses antagônicos.

O socialismo científico

Ver artigo principal: Marxismo

Karl Marx foi o responsável pela análise econômica e histórica mais detalhada da evolução das relações econômicas entre as classes sociais, razão pela qual é considerado o pai do "socialismo científico". Marx procurou demonstrar a dinâmica econômica que levou a sociedade, partindo do comunismo primitivo, até a concentração cada vez mais acentuada do capital e o aparecimento da classe operária. Esta, ao mesmo tempo seria filha do capitalismo, e a fonte de sua futura ruína. Marx se diferenciou dos seus precursores por explicar a evolução da sociedade em termos puramente econômicos, e se referir à acumulação do capital através da mais-valia de forma mais clara que seus antecessores.

Marx considerava, ao contrário de muitos dos seus contemporâneos e de muitos críticos actuais, o comunismo um "movimento real" e não um "ideal" ou "modelo de sociedade" produzido por intelectuais. Este movimento real, para Marx, se manifestava no movimento operário. Inicialmente ele propôs que a classe operária fizesse um processo de estatização dos meios de produção ao derrubar o poder da burguesia, para depois haver a supressão total do Estado. Após a experiência da Comuna de Paris, ele revê esta posição e passa a defender a abolição do Estado e o "autogoverno dos produtores associados". No entanto, também diferentemente dos outros autores, Marx acreditava que a sociedade era regida por leis econômicas que eram alheias à vontade humana. Para ele, tanto as mudanças passadas, quanto a Revolução socialista que poria fim ao capitalismo, eram necessidades históricas que fatalmente aconteceriam.

Libertários

Bakunin

Ver artigo principal: Comunismo libertário

Em 1840, Pierre-Joseph Proudhon publica seu livro Que é a Propriedade?, em que, baseando-se em informações históricas, jurídicas e econômicas, procura demonstrar que toda a propriedade tem em sua raiz um ato de "roubo". Proudhon ataca o conceito de renda, o qual compreende como sendo o direito de exigir algo a troco de nada. E pela primeira vez, identifica uma parcela da população como produtores de riqueza (os trabalhadores) e uma outra como os usurpadores dessa riqueza (os proprietários). Conclui que a propriedade é impossível, e só pode existir como uma ficção jurídica imposta pela força, através do Estado. Proudhon então conclui que os cidadãos só estarão livres da imposição da propriedade numa sociedade onde o Estado não exista.

Diferente de seus precursores, Proudhon desprezou a religião e procurou basear sua análise econômica apenas em fatos e lógica. Acredita que a mudança através da violência representaria apenas uma mudança de governo, nada modificando nas relações sociais. Estas, portanto teriam que ser reformadas gradativamente, pelos próprios cidadãos. Além disso, identificou parte do mecanismo pelo qual as contradições do capitalismo se intensificavam. Em Sistema de Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria (1846), Proudhon afirma que depois de ter provocado o consumo de mercadorias pela abundância de produtos, a sociedade estimula a escassez pelo baixo nível dos salários, uma idéia que se popularizaria com o nome de "crise de superprodução-subconsumo".

Após ter travado contato com Proudhon e descrito sua obra de forma lisonjeira em A Sagrada Família (1845), Marx passa a criticá-lo em Miséria da Filosofia (1847). O embate se intensifica na AIT contra Bakunin, outro anarquista, e leva a associação ao seu fim. O principal ponto de discordância era que, para Proudhon e Bakunin, a Revolução só seria possível com a abolição imediata do Estado. Já Marx acreditava que o Estado poderia ser instrumental no processo revolucionário. Os anarquistas também rejeitavam a autoridade, e Marx não. Após o fim da AIT, os adeptos de Proudhon e Bakunin passam a se chamar "comunistas libertários" para se diferenciar dos marxistas, que permanecem usando a denominação de comunistas. A partir daí, essas duas correntes do comunismo se separaram e seguiram trajetórias independentes.

Pós-marxismo

Revisionismo

Ver artigo principal: Socialdemocracia

O movimento comunista, a partir do início do século XX, passou a se dividir em diversas correntes. Inicialmente, o surgimento do chamado "revisionismo", também chamado reformismo, proposto por Bernstein, que considerava que o aburguesamento da classe operária tornava a possibilidade de uma revolução socialista quase nula e que o socialismo deveria adaptar-se a esta realidade lutando não pelo socialismo, mas pela reforma do capitalismo em bases puramente éticas. Inicialmente rejeitada pelo movimento socialista, que então recebia o nome geral de socialdemocracia, o reformismo acabou consolidando-se como prática política geral dos partidos socialistas de massa após a Primeira Guerra Mundial, quando o assentimento dos partidos socialistas da Alemanha, França e Itália em votar a favor dos créditos de guerra nos seus parlamentos revelou sua aceitação geral da legalidade burguesa e sua recusa do "derrotismo revolucionário" (isto é, a busca da revolução socialista mesmo em detrimento dos interesses do Estado Nacional) praticada pelos bolcheviques de Lenin.

Comunismo de Partido

Ver artigo principal: Leninismo

Na esteira da Revolução Russa, criar-se-ia uma divisão entre a Extrema Esquerda do movimento socialista, liderada por Lenin, que promoveria o retorno da expressão "comunismo", adotada por Marx para definir-se a si mesma, distinguindo-se das correntes socialistas reformistas, que retiveram o nome de social-democracia. A concepção "bolchevista" ou "leninista" (nas suas diversas correntes) que compreendia que o comunismo fosse precedido por um período de transição chamado socialismo, no qual haveria a estatização dos meios de produção, permaneceria existindo a lei do valor e o uso do dinheiro, entre outras características do capitalismo. Este período de transição desembocaria, pelo menos teoricamente, na extinção gradual do Estado e das demais características do capitalismo, constituindo assim o comunismo. As obras que desenvolvem esta tese são os escritos de Lênin após a revolução bolchevique, o livro de Joseph Stálin "Problemas Econômicos na União Soviética" e em vários escritos posteriores dos seguidores desta corrente, tanto na Rússia quanto no resto do mundo.

Conselhismo

Ver artigo principal: Comunismo de conselhos

Os comunistas, no entanto, logo se viram diante de uma nova divisão: por um lado, os comunistas de partido - os adeptos das teses de Lênin de que o partido de vanguarda seria um instrumento necessário para a revolução comunista - e, por, outro, os "comunistas de conselhos", que consideravam os conselhos operários ou "sovietes" como a forma de organização revolucionária dos trabalhadores. A concepção conselhista, retomava Marx e concebia o comunismo como um modo de produção que substituía o capitalismo, abolindo o Estado, a lei do valor etc., imediatamente, através da autogestão dos conselhos operários. Assim, esta corrente questionava a ideia de um período de transição, colocando-a como sendo contra-revolucionária e produto de um projeto semi-burguês no interior do movimento operário. As principais obras que expressam este ponto de vista são: "Princípios Fundamentais do Modo de Produção e Distribuição Comunista", do Grupo Comunista Internacionalista da Holanda e "Os Conselhos Operários" de Anton Pannekoek, e várias outras obras posteriores que desenvolveram estas teses até os dias de hoje, assumindo o nome contemporâneo de autogestão.

Cisões posteriores

Esta divisão seria seguida por várias outras divisões, principalmente dentro da corrente hegemônica, o "comunismo de partido" - também chamado bolchevismo, leninismo ou marxismo-leninismo, criando diversas tendências, como o maoísmo, o stalinismo, o trotskismo, entre outras. Esta divisão dentro da própria teoria acabaria por minar muitas das iniciativas do Comunismo e causar várias lutas ideológicas internas.

Revolução Russa de 1917 e derrocada comunista

Ver artigo principal: Revolução Russa de 1917

 

A Revolução Russa foi uma série de eventos políticos na Rússia, durante os quais os operários e camponeses sucessivamente derrubaram a autocracia russa, o governo provisório e expropriaram campos, fábricas e demais locais de trabalho. Estes eventos aconteceram durante o ano de 1917 e início de 1918, e resultaram numa guerra civil que durou de 1918 a 1921. Durante este processo, o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lenin e Leon Trotski, se transformou na única força política capaz de restabelecer a ordem. Ele criou um poderoso exército, que submeteu igualmente a classe operária e os demais partidos, ao mesmo tempo que adotou o discurso socialista, o qual utilizou como justificativa para a imposição de uma ditadura do proletariado.

A burocratização

Ver artigo principal: Degenerescência burocrática

Ainda durante os seus últimos anos de vida, Lenin empreendeu uma vigorosa luta contra a burocratização do Partido e a concentração de poder nas mãos de Stálin, sugerindo que Trótski, "o mais capaz do Comitê Central", assumisse o comando do partido. Além de ter exercido papel decisivo como reorganizador do Exército Vermelho, Trotsky havia proposto a teoria chamada de "Revolução Permanente", e que fora adotada por Lenin em suas Teses de Abril - quando este admitiu que a Revolução Russa colocaria em curso o transcrescimento ininterrupto entre revolução burguesa (fevereiro) e proletária (outubro).

Stalinismo

    Ver artigo principal: Stalinismo

As perseguições se agravaram pouco tempo depois da morte de Lênin, em janeiro de 1924, quando uma luta interna pelo poder estabeleceu-se entre Trótski e Stálin. Ela terminou com a vitória de Stalin, que implantou um regime de terror e intrigas, exterminando dois terços dos quadros do Partido Comunista, de forma a prevalecer inconteste. Durante seu regime a União Soviética saltou de um país arruinado pela guerra civil, para uma superpotência, mas ao custo de pelo menos 7,5 milhões de mortes devidas à grande fome de 1923-1933, somando-se ao seu regime de total e absoluto terror ditatorial, com a expansão dos antigos Gulags (campos de concentração construídos na Sibéria para punir dissidentes políticos) e perseguição política sem precedentes, culminando com o fim da liberdade de expressão e repressão ferrenha contra homossexuais, jornalistas e cientistas da academia no geral, durante e após o Grande Expurgo.

Apesar das críticas, alguns poucos do ocidente viam com admiração o regime socialista da URSS, sendo notório o apoio de um pequeno grupo de intelectuais de extrema-esquerda do ocidente ao governo de Stálin.

A oposição de esquerda

Ver artigo principal: Trotskismo

 

Túmulo de Leon Trótski em Coyoacán, bairro da Cidade do México, no jardim da casa onde morou durante seus últimos anos de vida.

Após a morte de Lênin, seguiu-se um período de conflitos, tendo como pano de fundo interno as disputas sobre a coletivização da agricultura e a burocratização do aparato partidário, Stálin deu um golpe contra Trótski e a velha guarda bolchevique, mandando para a cadeia, para o exílio ou para a morte centenas de milhares de comunistas e anarquistas russos.

Leon Trótski, expulso, permaneceu lutando pelo comunismo e construiu um novo reagrupamento internacionalista, a IV Internacional, que foi o bastião do marxismo-revolucionário nos negros anos do stalinismo. Trótski foi assassinado, em Coyoacán, México por Ramón Mercader, agente catalão em serviço para a polícia secreta de Stálin (GPU, depois KGB).

Autocrítica

Quando Nikita Khrushchev assumiu o poder da URSS denunciou os crimes de Stálin e campos de concentração (gulags), porém isso pouco mudou a ação do estado socialista repressor.

Nem mesmo a publicação do livro Arquipélago de Gulag do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1970, Aleksandr Solzhenitsyn, mudou alguma coisa, pois ninguém dentro da União Soviética sabia da existência do livro. Este livro foi escrito entre 1962 e 1973, somente foi publicado no ocidente em 1973. O livro foi publicado oficialmente na Rússia apenas em 1989.

Segundo a descrição do livro, os "gulags" eram campos de trabalho penoso, bastante próximo de uma situação de escravatura, para intelectuais opositores ou eventuais traidores do regime, cujas condições de chegada foram descritas e comparadas, por muitos dos seus sobreviventes, às de deportação para campos de extermínio. Segundo algumas descrições, os campos mais desumanos encontravam-se na região da Sibéria.

Glasnost

Ver artigo principal: Glasnost

Após a Segunda Guerra Mundial, em que a Alemanha nazista foi derrotada pelas forças aliadas (Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética), iniciou-se uma fase de revisão dos fundamentos do estalinismo, o que resultou, nos anos 1990, na revisão do Estado Soviético que foram então conhecidos como "glasnost" e "perestroika". Para alguns, isto significou uma volta ao capitalismo e uma reaproximação à política dos Estados Unidos, enquanto que, para outros que qualificavam a sociedade russa como um capitalismo de estado, tratava-se de uma volta ao capitalismo privado.

A queda do muro de Berlim

Ver artigo principal: Muro de Berlim

 

A queda do muro de Berlim em 1989.

Após a queda do muro de Berlim, o comunismo foi considerado morto por vários pensadores, intelectuais e pela mídia. O marxismo manteve-se sob outras formas, como na China, com o maoísmo, em Cuba, com Fidel Castro e, mais duramente, na Coreia do Norte, com Kim Il-sung e o seu filho Kim Jong-il. Segundo alguns pensadores, mais como uma referência filosófica e política geradora de alguma polêmica do que propriamente um ente político de largo espectro, pois ter-se-ia limitado ao nível de Governo, deixando o povo com relativa liberdade de acordo com cada norma vigente no respectivo país. O marxismo mantém-se, contudo, como uma referência filosófica e política, (polémica, é certo), que não deve ser desprezada no contexto da globalização.

Os seguidores desta doutrina política defrontam-se, entretanto, com as novas realidades históricas que têm originado movimentos reformadores que pretendem repensá-la. O projeto de instauração de uma sociedade comunista ainda é defendido por diversas correntes e pensadores, alguns mantendo a concepção que inspirou a Revolução Bolchevique, o leninismo (para quem as "renovações" são apenas sinal de subjugação ao capitalismo), e outros, fazendo revisão ou aderindo às correntes comunistas antileninistas. O socialismo continuou de outra maneira em diversos países do mundo.

Comunismo e Anarquismo

Ver artigo principal: Anarquismo

 

 

Símbolo do anarquismo

 

Os movimentos anarquista e marxista surgiram e ganharam forte atuação no século XIX, em meio aos efeitos sociais da Revolução Industrial. Foram ambos contestadores da ordem liberal capitalista e do Estado garantidor das condições trabalhistas da época, coincidindo, também, quanto ao ideal comunista: o fim das divisões de classes, da exploração e até mesmo do Estado.

A despeito dessas semelhanças (de origem, alguns alvos de atuação e objetivos finais), divergiam quanto ao caminho a ser seguido para alcançar o comunismo. Para os marxistas, deveria haver uma fase intermediária socialista — a ditadura do proletariado —, um Estado revolucionário que construiria as condições viabilizadoras do comunismo, tais como lidar com os movimentos contra-revolucionários que viessem a surgir na transição. Os anarquistas, ao contrário, pensavam em erradicar não apenas as classes, as instituições e as tradições, mas sobretudo o Estado.

Na segunda metade do século XIX, durante o século XX, e ainda no século XXI as diferenças prevaleceram sobre as semelhanças, promovendo entre os dois movimentos socialistas uma convivência de choques e divergências, nas suas lutas contra a ordem estabelecida.

Críticas ao comunismo

Ver artigos principais: Anticomunismo, O Livro Negro do Comunismo e The Soviet Story.

Desde a sua difusão, o comunismo marxista-leninista recebeu oposição, tanto da esquerda quanto da direita política.[10][11] Vários críticos atribuem ao comunismo episódios de violação de direitos humanos observados durante o século XX, como o genocídio ucraniano na União Soviética ou o massacre de um quarto da população do Camboja sob o regime de Pol Pot. Há críticas ainda ao funcionamento da economia comunista, considerada por Mises ineficiente e por Hayek inevitavelmente ligada à tirania.

As principais críticas ao comunismo se assentam essencialmente na idéia de que quanto maior é a intervenção do Estado, mais negativa é. Por que:

Interfere com a liberdade individual e livre iniciativa das pessoas e empresas, que são quem sustentam involuntariamente o Estado através dos impostos e taxas;

Ao deslocar recursos dos mais produtivos para os menos produtivos, retirando produção aos primeiros para alocar aos segundos, o Estado contribui para uma diminuição da eficiência global do sistema económico e social. Isto porque é intuitivo que a pessoa que não vê uma recompensa maior pelo seu esforço, tem tendência a produzir menos, dessa forma todos ficam mais pobres.

Bernard-Henri Lévy, Karl Popper, Ludwig von Mises, Max Weber, Michael Voslensky, Milovan Djilas, Milton Friedman, Václav Havel, são alguns eminentes críticos do comunismo. A ideologia comunista também é fortemente criticada pela Doutrina Social da Igreja Católica.

Condenação oficial da Igreja Católica

O Magistério da Igreja Católica sempre condenou oficialmente qualquer forma de comunismo, vez que acreditava que o comunismo nunca poderia ser compatível com a doutrina católica:

Em 1846, o Papa Pio IX afirmou que o comunismo é "sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida, levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos e da própria sociedade humana" (Encíclica Qui pluribus) [15]

Em 1878, o Papa Leão XIII disse que o comunismo é uma "peste mortífera, que invade a medula da sociedade humana e a conduz a um perigo extremo" (Encíclica Quod Apostolici muneris.

Em 1891, o Papa Leão XIII defendeu que "a teoria marxista da propriedade colectiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública." (Encíclica Rerum Novarum, n. 7)

Em 1931, o Papa Pio XI comentou que "ninguém pode ser ao mesmo tempo um católico sincero e um verdadeiro socialista revolucionário".

Em 1937, o Papa Pio XI criticou os bolchevistas e ateus que pregavam que o comunismo era o "novo evangelho e mensagem salvadora de redenção". Ele considerou ainda que o comunismo era um "sistema cheio de erros e sofismas, igualmente oposto à revelação divina e à razão humana; sistema que, por destruir os fundamentos da sociedade, subverte a ordem social, que não reconhece a verdadeira origem, natureza e fim do Estado; que rejeita enfim e nega os direitos, a dignidade e a liberdade da pessoa humana". (Encíclica Divini Redemptoris, n. 14)

Em 1949, a Igreja Católica, mais concretamente o Santo Ofício, emitiu o decreto contra o comunismo, que estipula que todos os católicos que sejam comunistas são automaticamente excomungados. [18]

Em 1961, o Papa João XXIII defendeu que "entre comunismo e cristianismo, [...] a oposição é radical, e acrescenta não se poder admitir de maneira alguma que os católicos adiram ao socialismo moderado: quer porque ele foi construído sobre uma concepção da vida fechada no temporal, com o bem-estar como objetivo supremo da sociedade; quer porque fomenta uma organização social da vida comum tendo a produção como fim único, não sem grave prejuízo da liberdade humana; quer ainda porque lhe falta todo o princípio de verdadeira autoridade social." (Encíclica Mater et Magistra, n. 34)

O Catecismo da Igreja Católica afirma que "a Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e ateias, associadas, nos tempos modernos, ao «comunismo» ou ao «socialismo»" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2425).

Ver também

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Anexo:Lista de estados comunistas atuais

Antianticomunismo

Capitalismo

Estado de bem-estar social

Holodomor

Manifesto Comunista, de Karl Marx, 1848

Memorial das Vítimas do Comunismo

O Capital, de Karl Marx, 1867

O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron, 1954.

Partido Comunista

Simbologia Comunista

Socialismo

Referências

Morris, William. News from nowhere. [S.l.: s.n.].. Página visitada em January 2008.

"Socialism." Columbia Electronic Encyclopedia. Columbia University Press. 03 Feb. 2008.https://www.reference.com/browse/columbia/socialis>.

Colton, Timothy J. (2007). "Communism". Microsoft Encarta Online Encyclopedia.

"Obras Escolhidas de Vladimir I. Lenin" - Tomos I a III, Edições "Avante!", 1977

Revista "Vida Soviética", Agência de Imprensa Nóvosti (APN), 1975-1989

"Manifesto to Partido Comunista" - Karl Marx, 1848

Vincentino, Cláudio. História para o ensino médio. pp. 342-346. São Paulo: Scipione, 2001. ISBN 85-262-3789-6.

Precursores de Proudhon: Max Stirner, William Godwin, entre outros.

Barry McLoughlin, Kevin McDermott. Stalin's Terror: High Politics and Mass Repression in the Soviet Union Publicaod pela Palgrave Macmillan. 2002. ISBN 1-4039-0119-8. Pág.:141.

Bernard-Henri Lévy - La barbarie à visage humain

MILL, J. S. Princípios de Economia Política, Livro IV, Capítulo 7

International Judicial Monitor - International Tribunal Spotlight: Extraordinary Chambers in the Courts of Cambodia

Vincent Cook - Pol Pot and the Marxist Ideal

Encíclica Qui pluribus, do Papa Pio IX, a 9 de novembro de 1846: Acta Pii IX, vol. I, pág. 13. Cf. Sílabo, IV: A.A.S., vol. III, pág. 170.

Encíclica Quod Apostolici muneris, do Papa Leão XIII, a 28 de dezembro de 1878: Acta Leonis XIII, vol. I, pág. 40

WESTERN EUROPE: Socialism & the Vatican, da revista Time (1957)

Decree against communism

Bibliografia

O Livro negro do Comunismo, de Stephane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panne, Andrzej Paczkowski, Karel Bartosek e Jean-Louis Margolin, Quetzal Editores, 1998

Au Pays du mensonge déconcertant, de Anton Ciliga, Gallimard, 1938.

Récits de la Kolyma, de Varlam Chalamov, 2003.

Goulag, de Tomasz Kisny, 2003.

Ligações externas

Arquivo Marxista na Internet (em português)

Rosa Luxemburgo : Reforma ou Revolução (em português)

Anton Pannekoek : As Tarefas dos Conselhos Operários (em português)

Qual a diferença entre comunismo e socialismo? Existiu algum país realmente comunista? (em português) Revista Mundo Estranho.

 

 

 

 

 

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                Rafael J. Silva