Muitos anarquistas consideram o nacional-anarquismo, também chamado de anarco-nacionalismo como um plano de grupos extremistas brancos, principalmente vinculados a figura do músico Troy Southgate, que na Europa buscam diminuir, ou mesmo confundir a juventude em um momento de ampliação dos ideais anarquistas pelo mundo, com a ampliação dos movimentos antiglobalização.
Definição
Anarquismo pode ser definido como uma doutrina (conjunto de princípios políticos, sociais e culturais) que defende o fim de qualquer forma de autoridade e dominação (política, econômica, social e religiosa). Em resumo, os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade total, porém responsável.
O anarquismo é contrário a existência de governo, polícia, casamento, escola tradicional e qualquer tipo de instituição que envolva relação de autoridade. Defendem também o fim do sistema capitalista, da propriedade privada e do Estado.
Os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade dos indivíduos, solidariedade (apoio mútuo), coexistência harmoniosa, propriedade coletiva, autodisciplina, responsabilidade (individual e coletiva) e forma de governo baseada na autogestão.
O movimento anarquista surgiu na metade do século XIX. Podemos dizer que um dos principais idealizadores do anarquismo foi o teórico Pierre-Joseph Proudhon, que escreveu a obra "Que é a propriedade?" (1840).
Nasceu no dia 30 de maio de 1814 (18 de maio no calendário juliano) na cidade de Premukhimo, província de Tver; faleceu em 1 de julho de 1876 (19 de junho no calendário juliano) em Berna, na Suíça.
Bakunin era filho de um proprietário de terras e desde 1837 começou a estudar a filosofia hegeliana. Em 1840 inicia o curso de filosofia na Universidade de Berlim, onde logo começou sua atividade política, criticando a filosofia especulativa preferindo a teoria da ação política. De 1843 a 1848 viajou pela Europa, onde acabou conhecendo Karl Marx e Proudhon (em Paris tal fato aconteceu). Participou do Congresso Eslavo no que tinha em mente o pan-eslavismo (Praga, 1848) e no mesmo ano participou da Revolução Proletária em Paris.
Em 1849 foi preso e condenado a morte por uma insurreição em Dresden, mas a pena foi anulada e foi entregue ao governo russo, ficando preso em São Petersburgo e depois exilado no Sibéria (1857). Acabou fugindo para o Japão e depois se fixou na Suíça.
Por volta de 1863 tentou montar uma campanha em prol do anarquismo para irem a Polônia, mas não obteve nada.
Em 1868 fundou a Aliança Internacional da Democracia Social, que queria fazer a união com a Associação Internacional de Trabalhadores, no qual disputou a liderança dessa última com Karl Marx, mas em 1872 acabaram se desentendendo no Congresso de Haia.
A expulsão de Bakunin da Associação Internacional de Trabalhadores, se deu por divergências políticas com Marx.
Bakunin defendia que as energias revolucionárias deveriam ser concentradas na destruição das "coisas", no caso, o Estado, e não das "pessoas".
Na obra de 1872, Bakunin faz oposição a Comte, pois identifica a fonte de todo problema na centralização da autoridade e do Estado, pois acabam por criar um obstáculo ao desenvolvimento das pessoas e das Nações. A paz e a realidade devem estar diante das coisas para realização do homem, pois querem uma descentralização das coisas que levaria o desenvolvimento dos homens.
Com a participação de Bakunin, a partir de 1870, acabou influenciando o proletário e atraindo mais pessoas, e nesse mesmo período começou a criticar o comunismo de Estado, com propostas antiautoritárias de socialismo. Com o fracasso da Comuna de Paris, as duas tendências começaram uma briga que a cada ano se agravava, de um lado os comunistas de Estado ou socialistas autoritários, como eram chamados pelos socialistas libertários, na época, até que, em 1876, a Associação Internacional dos Trabalhadores encerrou suas atividades.
Depois desse rompimento Bakunin planejava a construção de uma associação para unir os anarquistas de todos os países. Acabou criando grupos anarquistas em vários países do mundo, repassando a tradição anti-autoritária, mutualista e o caráter descentralizador do anarquismo para outros anarquistas, que viriam a se tornar célebres dentro do movimento, Piotr Kropotkin, anarquista russo, Errico Malatesta, anarquista italiano, Elisée Reclus, etc.
Após sua morte, diversos acontecimentos políticos com influência anarquistas puderam ser notados, como a insurreição anarquista de 1918 no Rio de Janeiro, cujo movimento sindical era de sua totalidade composto pela maioria de anarquistas e culminando com a guerra civil espanhola em 1936, que seria a derradeira e última revolução de massas da ideologia anarquista.
Porém a obra e vida de Bakunin, influenciara diversos movimentos alternativos após os anos 60, como os grupos ambientalistas, que utilizam a tática de ação direta, descrita em toda sua obra. Movimentos cooperativistas, de ocupação e reforma urbana, grupos e locais de trabalho autogestionados, também carregam em si, o germe da ideologia anarquista e o pensamento célebre de Bakunin.
Obras:
· Die Reaktion in Deutschland (A Reação na Alemanha) – 1842;
· Federalismo, Socialismo e Antiteologia – 1872;
· Staat und Anarchie (Estado e Anarquia) – 1873;
Faça você mesmo (em inglês do it yourself, sigla DIY) refere-se à prática de fabricar ou reparar algo por conta própria em vez de comprar ou pagar por um trabalho profissional. A prática, atualmente, engloba qualquer área de atividade, dos cuidados médicos ao design de interiores, da publicação à eletrônica.
A partir do final da década de 1970 o princípio faça você mesmo se tornou profundamente associado ao anarquismo e vários outros movimentos anticonsumistas, principalmente nos casos de grande e evidente rejeição à idéia de que um indivíduo deve sempre comprar de outras pessoas as coisas que deseja ou necessita.
O faça você mesmo, concebido como princípio ou ética, questiona o suposto monopólio das técnicas por especialistas e estimula a capacidade de pessoas não-especializadas aprenderem a realizar coisas além do que tradicionalmente julgam capazes.
O federalismo libertário é um método organizacional que consiste na divisão da sociedade anarquista em grupos ou divisões operacionais - criadas quando há necessidade - para o exercer pleno da solidariedade e do mutualismo. Ele é derivado, no plano das idéias, do fedaralismo estatal, porém completamente ausente de relações verticais como o último, sendo regido de forma puramente coletiva e permeada pelo conceito-base da Democracia Direta. Nas palavras de George Woodcock, "é uma ordem natural que se expressa pela autodisciplina e pela cooperação voluntária"[1]
Sendo o braço primário do princípio da “Ação Direta”, o federalismo libertário é o meio de organização proposto pela maior parte das vertentes anárquicas, desenvolvido, no âmbito libertário, pela primeira pessoa a se intitular “anarquista”: Pierre-Joseph Proudhon (1809 - 1865). Esse conceito consiste na subdivisão organizacional temporária ou permanente da sociedade libertária (que se organizaria de baixo para cima) – em grupos de associações, comunas, ou cooperativas que se juntariam em federações, e daí em confederações, e qualquer outra forma de conjugação da força operacional humana – para a maior eficiência das interações humanas, sociais. Por intermédio do federalismo, de cunho libertário, seria possível uma intervenção rápida e direta do homem frente às problemáticas emergentes na sociedade anarquista.
Evidencia-se que o conceito de federalismo, no campo libertário, transcende o conceito atual de Federalismo que conhecemos, deixando de representar apenas as associações de grande escala para adentrar no âmbito pessoal, abrangendo, inclusive, as relações interpessoais. Desta forma, o Federalismo Libertário se firma enquanto a máxima coesão entre o homem e a satisfação proficiente de suas necessidades.
O federalismo libertário se difere do federalismo estatal - como o que vigora no Brasil - por não ser concebido em meio a nenhuma relação de submissão e por ser regido, em sua completude, pelas necessidades humanas. Seriam sempre as problemáticas que definiriam e prescreveriam a organização, e não os interesses, sejam eles coletivos ou pessoais.
Com efeito, vários anarquistas já propuseram modelos mais elaborados de organização, de Plataformas Organizacionais, mas, como é a conjuntura e a naturalidade que devem definir a organização numa Sociedade Anarquista, elas são consideradas inferências, projetos divergentes, porém, todos unificados pelo conceito uno do Federalismo Libertário. Em outras palavras, o Federalismo Libertário é tido enquanto o germe de qualquer organização anarquista.
Em cada bairro ou fábrica se formariam associações que seriam regidas por assembleias de seus membros. Essas assembleias utilizariam o voto democrático direto, sendo que as minorias poderiam apelar sempre e tentar rever seus casos. Haveria um comitê comunal dessas associações em que teriam a função de administrar as decisões das assembleias.
As associações se uniriam através de delegações livremente em confederações, que se formariam de baixo para cima. Assim as decisões fluiriam de baixo (das associações) para cima. Da mesma forma que as associações teriam assembleias, as confederações teriam suas conferências com os delegados e regularmente haveriam conferências locais, regionais nacionais e internacionais onde os assuntos que foram colocados em pauta seriam discutidos. Cada confederação de nível acima computaria os votos da confederação (ou associação) de nível abaixo através dos delegados que diriam qual foi o resultado da conferência (ou assembléia)da confederação (ou associação) que representam.
Este é o tipo de organização que os anarquistas encontraram para substituir o governo e o capitalismo.
As vantagens alegadas pelos anarquistas é que todos poderiam participar das decisões de forma ativa não ficando mais passivos como atualmente e fortaleceria o pensamento crítico. Também segundo os anarquistas poderia desatar um grande potencial criativo que existe dentre a humanidade.
Os críticos alegam que esse tipo de organização resultaria em caos e confusão. Os anarquistas rebatem a acusação afirmando que funcionou bem na Revolução Espanhola
O Mutualismo é uma teoria econômica e social que propõe que "volumes iguais de trabalho devem receber pagamento igual". Foi Pierre-Joseph Proudhon quem criou o termo mutualismo para descrever a sua teoria econômica, na qual o valor se baseia no trabalho. O mutualismo pode ser considerado "o primeiro anarquismo", já que Proudhon foi o primeiro autor a se auto-intitular anarquista.
Esta teoria adotada por seguidores de Proudhon que formavam fileiras na AIT, pregava uma associação de trabalhadores livres de posse de seus próprios recursos para a produção, desta forma, se opondo a tendências coletivistas e/ou comunistas de organização, contra a socialização dos meios de produção ou ainda sua concentração nas mãos de um Estado, ainda que fosse contrário à propriedade da grande burguesia e defendesse que esta instituição humana fosse comparável à escravidão e, portanto, condenável tal qual um crime. Vê na propriedade a origem do governo e das instituições humanas.
Uma organização comunista, por outro lado, imporia, ao ver de Proudhon, restrições ao livre e pleno exercício das faculdades e potencialidades do indivíduo que estaria submetido à vontade da comunidade e, portanto, à sua opressão.
Esta oposição entre propriedade e comunidade, só poderia ser superada encontrando através da análise os elementos de cada um que constituiríam a verdade e a natureza da sociabilidade humana. A simples união destes dois elementos não pode ser senão impositiva ao ver de Proudhon. Tal síntese, segundo pretende o autor, constituir-se-á na liberdade.
A única centralização concebida neste modelo econômico, de livre mercado, seria a concepção de um "Banco do Povo" que seria responsável pela administração da circulação da produção e trocas de valores referentes ao trabalho despendido pela emissão de "cheques-trabalho".
Karl Marx se opôs a esta concepção classificando-a como pequeno-burguesa na medida em que defendia pequenas propriedades para os trabalhadores. Já Bakunin, admirador de Proudhon, também foi relutante quanto às suas concepções individualistas, tendo mais tarde rompido com estas defendendo a socialização dos meios de produção, fundando a corrente dos anarquistas coletivistas/bakuninistas.
Pierre-Joseph Proudhon (Besançon, 15 de Janeiro de 1809 — Passy, 19 de Janeiro de 1865) foi um filósofo político e econômico francês, foi membro do Parlamento Francês. É considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se auto-proclamar anarquista, até então um termo considerado pejorativo entre os revolucionários. Foi ainda em vida chamado de socialista utópico por Marx e seus seguidores, rótulo sobre o qual jamais se reconheceu. Após a revolução de 1848 passou a se denominar federalista.[1]
Proudhon foi também tipógrafo aprendendo por conta própria o idioma Latim para imprimir melhor livros nesta língua. Sua afirmação mais conhecida é que a Propriedade é Roubo!, está presente em seu primeiro e maior trabalho, O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo (Qu'est-ce que la propriété? Recherche sur le principe du droit et du gouvernement), publicado em 1840.
A publicação do livro atraiu a atenção das autoridades francesas. Atraindo também o interesse de Karl Marx, que começou a se corresponder com seu autor. Os dois influenciaram-se mutuamente: encontraram-se em Paris por ocasião do exílio de Marx. A amizade de ambos finalmente chegou ao fim quando Marx respondeu ao seu texto Sistema das Contradições Econômicas, ou A Filosofia da Miséria com outro provocadoramente intitulado A Miséria da Filosofia.
A disputa tornou-se uma das origens da divisão entre as alas marxistas e anarquistas nos encontros da Associação Internacional dos Trabalhadores. Alguns, como Edmund Wilson, argumentam que o ataque de Marx a Proudhon tem sua origem na defesa prévia do segundo de Karl Grün, o qual Marx abertamente detestava e que havia sido o autor de traduções do trabalho de Proudhon para diversos idiomas.
Proudhon favoreceu as associações dos trabalhadores ou cooperativas, bem como o propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.
Proudhon também tentaria criar um banco operário, semelhante em alguns aspectos, às atuais cooperativas de crédito que beneficiaria os trabalhadores com empréstimos sem juros. Mal-lograda a tentativa, a ideia seria apropriada por capitalistas e acionistas que incorporariam imposição de juros em seus empréstimos.
De origem humilde, começou a trabalhar cedo, numa tipografia, onde entrou em contato com liberais e socialistas experimentais, que representavam as mais importantes correntes políticas de sua época. Assim conheceu Charles Fourier, idealizador do socialismo experimental dos falanstérios, que posteriormente o influenciaria em suas ideias. Em 1838, já diplomado pela faculdade de Besançon, foi para Paris, onde em 1840 publicou Qu´est-ce que la propriéte? (Que é propriedade?). Nessa obra se afirma socialista, criticando a propriedade privada. Sustentava que a exploração da força de trabalho de um semelhante era um roubo e que cada pessoa deveria comandar os meios de produção de que se utilizasse.
Em 1842 lançou algumas teses em Avertissement aux propriétaires (Advertência aos proprietários) e foi processado. No entanto acabou sendo absolvido, pois os juízes se declararam incompetentes para julgá-lo. Depois disso foi para Lyon, onde se empregou no comércio. Nesse período entrou em contato com uma sociedade secreta que defendia uma doutrina segundo a qual uma associação de trabalhadores da nascente indústria deveria administrar os meios de produção. Com isso esperavam transformar as estruturas sociais, não pela atração econômica mas pela revolução violenta.
Em Paris, Proudhon conheceu Karl Marx e outros revolucionários, como Mikhail Bakunin.
Em 1846 escreveu Système des contradictions économiques, ou philosophie de la misère (Sistemas de contradições econômicas ou filosofia da miséria), onde criticou o autoritarismo comunista e defendeu um estado descentralizado. Marx, que admirava Proudhon, leu a obra, não gostou, e respondeu a Proudhon em 1847 com Misère de la philosophie (Miséria da filosofia), decretando o rompimento de relações entre ambos.
Proudhon participou da Revolução de 1848 em Paris. Entre 1849 e 1852 ficou preso por causa de suas críticas direcionadas a Napoleão III. Em 1851 escreveu Idée générale de la révolution au XIX siècle ("Ideia geral de revolução no século XIX"), que colocava a visão de uma sociedade federalista de âmbito mundial, sem um governo central, mas baseada em comunas autogeridas. Os comunistas acabaram por rotulá-lo de reacionário, quando defendeu uma união entre proletários e burgueses.
Depois de publicar, em 1858, De la justice dans la révolution et dans l'église("A justiça na revolução e na igreja"), obra totalmente anticlerical, passou a viver sob vigilância da polícia, o que o levou a se exilar em Bruxelas. Em 1864 voltou a Paris e publicou Du Principe fédératif ("Do princípio federativo"), uma síntese de suas concepções da política.
|
"Aquele que puser as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo!" —Proudhon, 1849 |
|
|
||
Proudhon foi o primeiro a referir-se a si próprio como um anarquista. Em O que é a propriedade, publicado em 1840, ele definiu anarquia como sendo "a absência de um mestre, de um soberano", e em A Ideia Geral de Revolução (1851) ele argumentou em favor de uma "sociedade sem autoridade." Proudhon ampliou sua análise para além das instituições políticas, argumentando em O que Propriedade? que "proprietário" é "sinônimo" de "soberano". Para Proudhon:
"Capital"... no campo político é análogo a "governo"... A ideia econômica de capitalismo, as políticas de governo ou de autoridade, e a ideia teológica de igreja são três ideais idênticos, de várias formas, vinculados. Atacar uma delas é o equivalente a atacar todas elas... o que o capital faz ao trabalho, e o Estado à Liberdade, a Igreja faz com o espírito. Esta trindade do absolutismo é tão perniciosa na prática quanto o é na filosofia. O meio mais efetivo de oprimir os povos seria simultaneamente escravizar seu corpo, sua vontade e sua razão[3]
|
Proudhon em seus primeiros trabalhos analisou a natureza e os problemas da economia capitalista. Enquanto fora profundamente crítico do capitalismo, ele também criticou os socialistas de seu tempo que idolatravam a ideia de associação. Em uma sequência de argumentos, do O que é Propriedade? (1840) até Teorias da Propriedade (Théorie de la propriété - publicado postumamente entre 1963-64), ele declarou contraditoriamente que "propriedade é roubo", "propriedade é impossível", "propriedade é despotismo" e "propriedade é liberdade". Quando afirmava que "propriedade é roubo" e que "propriedade é despotismo" ele se referia ao proprietário de terras ou ao capitalista que em sua perspectiva "roubava" a mais valia dos trabalhadores. Para Proudhon, o trabalho assalariado capitalista era uma posição voluntária de subordinação e exploração, uma condição permanente de obediência.
Ao afirmar que "propriedade é liberdade", ele se referia não só ao produto individual do trabalho, mas também daquilo produzido em coletividades - a propriedade coletiva de camponeses e artesãos, capaz de possibilitar pertences pessoais, habitação, ferramentas de trabalho, e o valor justo pela venda de seus produtos. Para Proudhon, a única fonte legítima de propriedade é o trabalho. Aquilo que alguém produz é propriedade desse alguém e tudo para além disso não é. Este pensador defendia a auto-organização dos trabalhadores e que estas organizações teriam legitimidade para possuir elas próprias os meios de produção. Ele se contrapos veementemente a apropriação dos produtos do trabalho pela sociedade, argumentando em O que é Propriedade? que enquanto "propriedade do produto [...] não deve estar vinculada à propriedade dos meios de produção"[5] [...] O direito sobre o produto é exclusivo de quem produz [...] o direito aos meios é comum e aplicando isso a terra ("a terra é [...] algo comum"[6]) e locais de trabalho ("todo o capital acumulado tornar-se propriedade social, ninguém poderá ser seu proprietário exclusivo".[7]) Proudhon portanto, não aprovava a ideia de uma "sociedade" possuindo os meios de produção ou a terra, mas ao invés disso que o "usuário" tivesse possuísse (sob a supervisão da sociedade), com a organização e regulamentação social" de forma a "regular o mercado".[8] Proudhon chamou a si mesmo de socialista, mas se opôs a propriedade estatal dos bens capitais em favor da propriedade dos trabalhadores por si próprios em associações. Isso faz com ele seja considerado uma dos primeiros teóricos do socialismo libertário. Proudhon foi uma das principais influências sobre a teorização, ao fim do século XIX e no século XX, de auto-administração dos trabalhadores, também chamada autogestão.
Este uso-propriedade ele chamou de "posse", e este sistema econômico foi chamado por ele de Mutualismo. Proudhon foi autor de inúmeros argumentos contra a titulação da terra e do capital, incluindo razões baseadas na moralidade, economia, política, e liberdade individual. Um destes argumentos afirmas que este tipo de titulação de um lado permitiu o lucro, do outro levou a instabilidade social e guerra criando círculos de débito e eventualmente a superação da capacidade do de ser pago. Outro é que esta titulação produziu "despotismo" e tornou os trabalhadores em assalariados submetendo-os à autoridade de um chefe.
Em O que é Propriedade? Proudhon escreveu:
Propriedade, atuando pela exclusão e transgressão, frente a uma população em crescimento, tem sido o princípio vital e a causa definitiva de todas as revoluções. Guerras religiosas, e guerras de conquista, se comparados aos extermínios raciais, estes têm sido apenas distúrbios acidentais, logo reparados pela progressão matemática da progressão da vida das nações. A queda e a morte de sociedades se dão decido ao poder de acumulação implicado na propriedade.
|
Joseph Déjacque atacou o apoio de Proudhon à noções de Patriarcado, que os anarquistas do século XX classificaram como uma forma de sexismo, uma pré-noção reconhecida por estes, como estando em oposição aos princípios anarquistas.
Próximo ao fim de sua vida, Proudhon repensou alguns elementos de sua perspectiva política. Em Do Princípio Federativo (1863) ele reviu sua perspectiva anti-estatal anterior, ponderando "o equilíbrio entre autoridade e liberdade", levando adiante uma "teoria de governo federal" descentralizado. Ele também definiu anarquia de uma forma distinta como "o governo de cada um por si próprio", o que significava "que funções políticas deveriam ser reduzidas a funções industriais, e que a ordem social deveria surgir de nada além de transações e trocas." Neste trabalho Proudhon chamou seu sistema econômico como uma "federação agro-industrial", considerando que esta ordem poderia prover "arranjos federais específicos para proteger aos cidadãos dos estados federados do feudalismo capitalista financeiro, tanto no interior como fora deste sistema" e dessa forma acabar com a reintrodução do "trabalho assalariado". Isto se dava porque o "direito político deve estar apoiado no direito econômico."
Na publicação póstuma Teoria da Propriedade, este autor argumentou que a "propriedade é a única força capaz de agir como um contrapeso ao Estado." Portanto, "Proudhon poderia manter a ideia de propriedade enquanto roubo, e ao mesmo tempo oferecer uma nova definição disto como liberdade. Existe a possibilidade constante de abuso, exploração, que significa o roubo. Ao mesmo tempo a propriedade é a criação espontânea de sociedade um baluarte contra o poder eternamente violador do Estado."[9]
Ele continuou, portanto, fazendo oposição tanto a propriedade capitalista quanto a propriedade estatal. Em Teoria da Propriedade ele reforça: "Agora em 1840, eu categoricamente rejeitei a noção de propriedade... de ambas a grupal e a individual", mas até então ainda não havia formulado sua nova teoria da propriedade: "propriedade é a maior força revolucionária que existe, com uma capacidade inigualável de lançar ela própria contra a autoridade..." então a principal função da propriedade privada dentro de um sistema político deve ser atuar como um contrapeso ao poder do Estado, para desta forma assegurar a liberdade do indivíduo." No entanto, ele continuou se opondo a concentrações de riqueza e propriedade, em favor da propriedade de pequena escala associada a camponeses e artesãos. Seguiu fazendo oposição a ideia de propriedade privada da terra: "O que não posso aceitar, em relação à terra, é que o trabalho permita a posse daquilo sobre o qual se trabalha." Somando-se a isso, Proudhon ainda acreditava que a "propriedade" deveria ser mais igualitariamente distribuída e limitada em tamanho para aquilo que poderia ser utilizado e trabalhado individualmente, ou em associações familiares e operárias. Ele apoiou o direito de herança, e defendeu "como uma das fundações da família e sociedade." No entanto, ele refutou a estender este direito para além das posses pessoais argumentando que "sob a lei da associação, transmissão da riqueza não se aplica aos instrumentos do trabalho."
"Como, de que forma você responde tal pergunta? Você é um republicano?”
“Um republicano! Sim; mas essa palavra não é nada específica. Res. publica; isto é, a coisa pública. Agora, quem quer que seja interessado em assuntos públicos – não importando sob qual forma de governo – pode chamar a si próprio de republicano. Até mesmo reis são republicanos.”
“Bom! Você é um democrata?”
“Não.”
“O que? "Você gostaria de viver numa monarquia?"
"Não. "
" Um constitucionalista?"
"Deus me livre. "
"Então você é um aristocrata?"
"Não mesmo!"
"Você quer uma forma mista de governo?"
"Ainda menos. "
"Então o que você é?"
"Eu sou um anarquista. "
"Ah! Estou te entendendo; você diz satiricamente. Isto é um ataque ao governo. "
"De forma alguma. Eu apenas lhe apresentei minha mais séria e bem ponderada declaração de fé. Ainda assim sou um firme amigo da ordem, sou (no sentido forte do termo) um anarquista. “Entenda-me.”
"Diálogo com um Filisteu" de O que é a Propriedade?
Como consequência de sua oposição ao lucro, ao trabalho assalariado, à exploração dos trabalhadores, à propriedade da terra e do capital, bem como à propriedade estatal, Proudhon rejeitou ambos capitalismo e comunismo. Ele adotou o termo mutualismo para seu tipo de anarquismo, que implicava no controle dos meios de produção pelos trabalhadores. Em sua perspectiva, artesãos auto-empregados, camponeses, e cooperativas poderia disponibilizar seus produtos no mercado. Para Proudhon, fábricas e outros locais de trabalho grandes poderiam ser administrados por "associações de trabalhadores" operando diretamente com base nos princípios democráticos. O estado seria abolido; ao invés dele, a sociedade se organizaria por meio de uma federação de "comunas livres". Em 1863 Proudhon disse: "Todas as minhas ideias econômicas como foram desenvolvidas a mais de vinte cinco anos atrás podem ser resumidas no termo: federação agrícola-industrial. Todos os meus ideais políticos desaguam em uma formula similar: federação política ou descentralização."
Proudhon considerava ilegítimo os ganhos de juros e de aluguéis, mas não buscou aboli-los através da lei: "Protestei contra isso quando fui criticado... o complexo de instituições no qual a propriedade é a pedra fundamental, nunca quis proibir ou suprimir, por um decreto soberano, o aluguel do solo ou os juros do capital. Penso que todas estas manifestações de atividade humana deveriam permanecer livres e voluntárias para todos. Não peço para elas modificações, restrições ou supressões, de outra forma elas desapareceriam naturalmente e por necessidade através da universalização do princípio de reciprocidade que proponho."[13]
As ideias de Proudhon rapidamente se espalharam por toda a Europa, influenciando organizações de trabalhadores e os mais fortes movimentos sindicais que se manifestaram na Rússia, Portugal, Itália, Espanha e na França. O legado teórico de Proudhon é retomado por outros importantes autores como Mikhail Bakunin, Piotr Kropotkin, Errico Malatesta, Emma Goldman, entre outros que a partir das ideias desse pensador desenvolveram outras perspectivas e análises teóricas. Em Portugal foi traduzido e amplamente divulgado entre os sectores progressistas por Heliodoro Salgado.
Em Confissões de um Revolucionário Proudhon afirmou que Anarquia é Ordem, uma frase que muito mais tarde, durante a Guerra Civil Espanhola inspiraria, o símbolo anarquista conhecido como A no círculo, hoje, muito comum em pichações e grafites presentes na paisagem urbana. Neste símbolo o círculo simboliza a letra "O" da palavra "Ordem", levando em seu interior a letra "A" da palavra "Anarquia".[14]
O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo (1840)
Aviso aos Proprietários (1842)
Sistema das Contradições Econômicas, ou A Filosofia da Miséria (1846)
Idée générale de la révolution au XIXe siècle (General Idea of the Revolution in the Nineteenth Century, (1851)
Le manuel du spéculateur à la bourse (1853)
De la justice dans la révolution et dans l'Eglise (1858)
La Guerre et la Paix (1861)
Do Princípio Federativo (1863)
De la capacité politique des classes ouvrières (1865)
Théorie de la propriété (1866)
Théorie du mouvement constitutionnel (1870)
Du principe de l'art (1875)
Correspondences (1875)
Binkley, Robert C. Realism and Nationalism 1852-1871. Read Books. p. 118
Martin, Henri, & Alger, Abby Langdon. A Popular History of France from the First Revolution to the Present Time. D. Estes and C.E. Lauria. p. 189
P.-J. Proudhon, Confissões de um revolucionário, (Paris: Garnier, 1851), p. 271., citado por Max Nettlau, A Short History of Anarchism, pp. 43-44.
General Idea of the Revolution in the Nineteenth Century (1851), Sixth Study, § 3 ¶ 5.
P.-J Proudhon, What Is Property? (Dover, 1970), p. 109.
P.-J Proudhon, What Is Property? (Dover, 1970), p. 92.
P.-J Proudhon, What Is Property? (Dover, 1970), p. 120.
Proudhon, Selected Writings, p. 70.
Copleston, Frederick. Social Philosophy in France, A History of Philosophy, Volume IX, Image/Doubleday, 1994, p. 67
Proudhon, Theory of Property in Selected Writings of Pierre-Joseph Proudhon p. 136, p. 129, p. 133, p. 135, p. 129.
Steward Edwards, Introduction to Selected Writings of P.J. Proudhon.
In Daniel Guérin (ed.), No Gods, No Masters, vol. 1, p. 62.
Proudhon's Solution of the Social Problem, Edited by Henry Cohen. Vanguard Press, 1927.
Marshall, Peter. Demanding the Impossible. Fontana, London. 1993. p. 558
Anarchisme et franc-maçonnerie - Anarchopedia Francesa (em francês)
Anarchisme et Franc-Maçonnerie, Jacques Cécius dans L'anarchisme: une utopie nécessaire ? Éditions Castells et Labor (em francês)
Piotr Kropotki Alexeyevich Kropotkin Пётр Алексе́евич Кропо́ткин |
|
|
|
Nascimento |
|
Morte |
8 de fevereiro de 1921 (78 anos) |
Ocupação |
|
Influências |
Influências[Expandir] Pushkin, Nekrasov, Chernyshevsky, Bakunin, Proudhon, Herzen, Liev Tolstói, Lamarck |
Influenciados |
Influenciados[Expandir] Alfred Radcliffe-Brown, Gustav Landauer, Emma Goldman, Hakim Bey, Alexander Berkman, Ba Jin, Errico Malatesta, Ricardo Flores Magón, Shūsui Kōtoku, Noam Chomsky, Patrick Geddes, William Morris, Henry Seymour |
Escola/tradição |
Piotr Alexeyevich Kropotkin (em russo: Пётр Алексе́евич Кропо́ткин; Moscou, 21 de dezembro de 1842 — Dmitrov, 8 de fevereiro de 1921) foi um geógrafo e escritor russo, um dos principais pensadores políticos do anarquismo no fim do século XIX, considerado também o fundador da vertente anarco-comunista.
Nascido membro da família real de Rurik, na idade adulta Kropotkin rejeitou este título de nobreza. Ainda adolescente foi obrigado a ingressar no exército imperial russo por ordem do próprio czar Nicolau I. Nesta mesma época passou a ter contato com a literatura progressista e revolucionária da época.
Interessado por Geografia, tornou-se explorador do círculo polar ártico percorrendo milhares de quilômetros a pé e registrando diferentes fenômenos relacionados a tundra e outras paisagens árticas. Em suas muitas viagens teve contato e passou a se solidarizar com os camponeses vivendo em condições miseráveis na Rússia e na Finlândia.
Este sentimento de solidariedade fez com que Kropotkin abandonasse a atividade de pesquisador. Com o dinheiro da herança recebida pela morte de seu pai viajou para o Leste Europeu tendo contato em diversos países ativistas e revolucionários, entre estes os associados de Bakunin e os seguidores de Marx. Em Genebra tornou-se membro da Primeira Internacional depois partiu em direção à Jura a convite de um anarquista que lhe relatara a força que o movimento adquirira naquela região. Estudou o programa revolucionário da Federação Anarquista de Jura, retornando à Rússia com a intenção de divulgá-lo entre ativistas libertários e populações marginalizadas. Na Rússia voltou a fazer pesquisas científicas, tomando parte em diferentes âmbitos do ativismo libertário.
Foi preso por diversas vezes por sua militância. Seus textos foram publicados por centenas de jornais ao redor do mundo. Foi o autor de livros hoje considerados clássicos do pensamento libertário, entre os mais importantes se destacam A Conquista do Pão (Хлеб и воля) e Memórias de um Revolucionário (Записки революционера) ambos publicados em 1892, Campos, Fábricas e Oficinas (Поля, фабрики и мастерские) de 1899, e Mutualismo: Um Fator de Evolução (Взаимопомощь как фактор эволюции) publicado em 1902. Durante um longo período foi convidado contribuir também para a Enciclopédia Britânica na escrita de diversos verbetes, entre estes o referente ao Anarquismo.
Seu funeral em fevereiro de 1921 constituiu o último grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a revolução de 1917, estava sob o domínio dos bolcheviques marxistas que passaram a perseguir, exilar e aniquilar os ativistas libertários onde quer que fossem encontrados.
Kropotkin nasceu na cidade de Moscou em 21 de dezembro de 1842, no seio de uma família da nobreza russa. Seu pai, o príncipe Alexei Petrovich Kropotkin, era dono de grandes extensões de terra espalhadas por três províncias russas, dispondo de mais de mil e duzentos servos a seu serviço. A linhagem genealógica da qual fazia parte ele e seu pai remetia a casa real de Rurik que governara Moscou antes dos Romanov.
Sua mãe, Yekaterina Nikolaevna Sulima, era filha de um importante general russo, que apesar deste fato recebera uma educação liberal e se interessava principalmente por atividades artísticas como a literatura e a pintura. Sulima fora em parte a responsável pela primeira educação do jovem Piotr, que ainda no início de sua adolescência, passada entre Moscou e a casa de campo da família em Kaluga, teve contato com escritos de Pushkin, Nekrasov e Chernyshevsky, graças aos tutores escolhidos por sua mãe para sua educação.
Por ordem do próprio czar Nicolau I, em 1857, aos doze anos teve que ingressar no Corpo de Pajens em São Petersburgo que há época era a academia mais seleta de toda a Rússia fornecendo educação para apenas 150 meninos, em sua maioria filhos da realeza palaciana. O principal objetivo desta instituição focava-se formação de assessores e funcionários de elite do Império Russo.